Capítulo 07

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Capítulo sete
Tita

Se tem uma coisa que consigo fazer com perfeição é merda e quando estou bebendo, a coisa chega a níveis estratosféricos. Até agora não entendo o que fui fazer atrás daquele cretino e pior ainda, dormir ao lado dele de conchinha.  Mas nada supera o fato que deixei que me beijasse, que gozasse nele de novo. O que passa por minha cabeça quando o Jamie está por perto? Sou mesmo uma cabeça oca, louca, sem noção, infantil e muitos outros adjetivos. O que me deixa confusa é me depara com um Jamie cheio de cuidados e carinho depois de sofrer ameaças horríveis no dia anterior. Precisava tirar ele da minha mente e focar no que realmente importa. Agora a minha única preocupação é minha mãe e o Daniel. Olhei meu celular pela décima vez e não tinha nenhuma mensagem do Daniel. Ele já deveria ter desembarcado. Tentei novamente ligar  e quase pulei do sofá quando escutei sua voz rouca.
— Tita, o que ouve? — Limpou a garganta e também ouvi o barulho dos lençóis.
— Já desembarcou? — Precisava de alguém que juntasse os meus caquinhos, que me abraçasse e falasse que tudo ficaria bem.
— Precisava falar com você. Ligaria assim que acordasse.
— Onde você está? Estou em casa esperando você chegar. Fiquei preocupada. Está na casa da sua mãe?
— Não fique preocupada. Estou bem. — o tom de voz era apreensivo e comecei a ficar nervosa.
— Aconteceu alguma coisa? A viagem foi muito cansativa? Deveria ter me ligado e teria te buscado no aeroporto.
— Calma pimentinha. Ainda estou em Madrid. Aconteceu uma coisa maravilhosa e precisei estender mais a minha viagem.
— Porque não me avisou? Você não me fala nada e se não ligo nem ficaria sabendo. Quando vai voltar? — comecei a roer as unhas e bater o pé ansiosa.
— Em uma ou duas semanas. Amanhã vou viajar para Nova York. Recebi uma ótima proposta de trabalho e é uma oportunidade única. — levantei com o coração apertado.
— Sabia que conseguiria outro emprego. Mas porque você tem ir para Nova York?
— A empresa é nos Estados Unidos. — minha boca secou. Fechei meus olhos e encostei na primeira parada que encontrei.
— A sede é um Nova York? — minha voz saiu embargada. Tive tanto medo do rumo dessa conversa.
— É sim. Falei ontem com o CEO e querem mostrar tudo e que assine o contrato o mais rápido possível.
É uma das maiores construtoras do mundo, Tita. Você tem noção disso?
— Posso imaginar. — Fui descendo para o chão devagar.
— Especializadas em obras de grande porte. De cara me ofereceram pra ficar à frente de um projeto no Havaí.
— Isso é incrível. Você vai viajar muito para o Havaí, seu sortudo. Que incrível que tenho encontrado um emprego dos sonhos e que tem uma filial aqui no Brasil. — ele ficou calado por alguns segundos e também fiquei quieta.
— O trabalho é em Nova York. — meu maior medo se tornou realidade. — Vou ter que morar nos Estados Unidos. É uma exigência da empresa. É a oportunidade da minha vida. O salário quase dez vezes mais do que ganhava. Estarei verdadeiramente no comando de algo importante.
— E como me encaixo nessa sua nova vida?
— Venha morar comigo. — Lógico que ele faria essa proposta. O Daniel sabia que não deixaria a minha mãe sozinha. Uma lágrima desceu do meu rosto.
— E minha mãe? O que faço com ela? As pessoas não são descartáveis, Daniel. Não posso me livrar delas quando me convém.
— Não estou me livrando de você. É apenas uma mudança e que podemos nos adaptar.
— Voltou para minha vida quando eu estava começando a dar os primeiros passos para longe de você. Pediu para confiar e confiei. E mesmo planejando o casamento e filhos, você tomou decisões que mudam a minha vida sem me consultar. Por que você não tem que se preocupar comigo, não é mesmo? Porque eu tenho que aceitar tudo, sacrificar tudo por você. Moldar tudo para te agradar. Você não teve a consideração de avisar que não estava voltando ou que te ofereceram um trabalho. Você nunca me deu mais que algumas explicações vazias sobre as suas decisões. Sobre o que dizia respeito a mim. — coloquei o celular no viva voz e comecei a andar pela sala. — estamos morando juntos, pelo amor de Deus. Deveríamos partilhar tudo. Conversar sobre tudo.
— O que você quer que eu faça? Devo recusar o emprego e ir mendigar trabalho por aí? Estou te dando uma chance para viver em outro país.
— Está me dando uma chance? Acha mesmo que o que faz por mim é um favor? Caralho Daniel. Você tem dinheiro, contatos. Começa a sua própria empresa. Ou pare de destruir a minha vida. Como pode pedir que eu vá com você.
— Cai na real, Tita. Eu amo a madrinha e tenho ela como uma mãe mas você vive pra ela. A empresa mal paga as próprias contas. Seus amigos que bancavam tudo. TUDO! Você os usa sempre como muletas para validar o seu medo de tomar as próprias decisões.
Precisa ter coragem para sair dessa lama onde está afundando. E parar de arrastar as pessoas junto com você. — doeu ouvir isso. Mas não chorei. No fundo sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. A felicidade não foi feita pra mim. Nem mesmo me lembro a última vez que fui verdadeiramente feliz. Recebi tantas pancadas da vida que aprendi a colocar um sorriso falso e  uma alegria que está longe de ser real. Sou o que tenho que ser. —  Não temos que acabar.
— Vou deixar a chave do apartamento com sua mãe.
— Tita... porra Tita. Porra! Pare de agir como uma criança birrenta. — eu não conseguia falar nada. Escorreguei para chão de novo e olhei fixamente para uma foto nossa adolescente. Estava sobre uma a mesa de centro na sala. Ao lado de um cinzeiro transparente. Porque um cinzeiro se ninguém fuma?
— Tita está aí? Tita... merda.
— Estou aqui ainda. — segurei a foto e lembrei de como minha vida era simples. Meu pai trabalhava o dia inteiro, minha mãe cuidava da casa e minha única obrigação era estudar e lavar alguns punhados de pratos. — Não consigo mais fazer isso, sabe? Não posso mais. Acabou. Acabou.
— Depois de Nova York eu vou voltar e vamos conversar. Um relacionamento a distância não é um bicho de sete cabeças.
— Chega! Chega... preciso arrumar minhas coisas
— Fique no apartamento.
— Boa sorte na sua vida gloriosa. — encerrei a ligação. Bloqueei seu contato e retirei seu número. Apesar da dor não chorei. A duras penas levantei e fui fazer minha mala. Evitei olhar para cama. Queria sair o mais rápido possível daquele lugar. Joguei o essencial na mala e depois pegaria o resto. Não tinha para onde ir. Pensei em ligar para os meus amigos e sei que seria bem acolhida por eles mas o que Daniel falou sobre arrastar meus amigos para lama comigo, mexeu muito. Andei por um tempo e sentei em um ponto de ônibus qualquer. Precisava de um plano. Precisava encontrar um rumo para minha vida. Meu celular tocou novamente e pensei que fosse o Daniel mas era da clínica.
— Aconteceu alguma coisa com a minha mãe? — meu coração bateu tão forte que achei que fosse passar mal.
— Não é nada demais. Aqui é da administração. Queremos avisar que aconteceu algumas mudanças na política de admissões dos nossos hóspedes. Para garantir a permanência da paciente é necessário o pagamento antecipado que corresponde a três meses. É uma garantia que o tratamento não será interrompido. — Jamie estava por trás disso. Filho da puta.

Louca ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora