Capítulo 22

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Jamie
Nunca me senti tão idiota em toda a minha patética vida. Não sou nenhuma adolescente sem experiência. Sou um homem vivido com maturidade suficiente para diferenciar uma vagabunda interesseira de uma mulher decente. Tita conseguiu me cegar por completo. Estava enfeitiçado. Louco. Cego de amor por uma puta. Sempre estive rodeado por pessoas oportunistas, sem escrúpulos, que fazem de tudo para conseguir seus objetivos e mesmo assim era bom em distinguir o joio do trigo. Também joguei sujo em meu trabalho, fiz o que precisei para vencer e prosperar, principalmente quando comecei minha empresa. Agora estava começando a perceber o quanto fui cegado por aquela mulher. O quanto estava sendo idiota, enquanto ela ria nas minhas costas. Eu me dei a ela por inteiro. Baixei minhas guardas e deixei que visse os meus pontos fracos. Porra! Porra! Eu estava destruído por dentro. Tudo parecia fazer sentido. As palavras de Amim ecoavam em minha cabeça e
as peças do quebra cabeça começavam a se encaixar. Meu desespero começou a aumentar ao me dar conta  que fui um fantoche. Parei o carro na garagem do meu apartamento e bati forte no volante querendo arrancar a dor da traição. Não voltaria para casa onde ainda porque sou um fraco de merda e não queria estar no lugar onde ela provavelmente estava. Onde entreguei minha vida, minha intimidade e meu coração. A lembrança dela naquela sofá aos beijos com ele entraram em minha cabeça como uma faca despedaçando tudo. Tita brincou com a minha vida, com a nossa vida. Entrei no apartamento e bebi. Eu queria esquecer toda aquela merda. Tirá-la do meu sistema. Arrancar a Tita do meu coração.
Meu celular tocou e vi que era a Lúcia. Não estava disposto a responder seus questionamentos. Tita deve ter começado a buscar apoio. Precisava ficar longe de tudo e fiquei pior ao perceber que ela tinha estragado o meu lugar de paz, minha casa. Nunca deveria ter levado a Tita para lá. Amim estava certo quando me disse que seria melhor deixa-la em um apartamento qualquer e que o nosso contato fosse estritamente sexual. Era para ser apenas sexo e nada mais. Não deveria ter deixado meu coração se meter. Estava dilacerado por dentro e impotente. Fraco. Virei a  garrafa de uísque que encontrei e o líquido amargou na garganta. Lembrei-me do dia em que a conheci e minha mente clareou como se antes estivesse vivendo no escuro.
— Alguém tentou invadir meu computador... Tita poderia ter feito isso com a ajuda do Felipe. Ele me conhece o suficiente para saber que desconfiaria da minha equipe e procuraria um profissional de fora. Porra! Era como a lâmpada da razão acendesse em minha cabeça. Tudo que o babaca disse fazia sentido agora. — Felipe chamaria a amiga vagabunda que estava pronta para me seduzir e eu como um imbecil cairia feito um patinho — Joguei a garrafa contra a parede. — Filhos da puta! Mas isso não vai ficar assim... Porra! Tita vai me pagar caro. Vou acabar com tudo que ela mais ama... Parei de beber e tentei manter um pouco da lucidez. A raiva foi tomando proporções gigantescas e fiquei — Era apenas pelo maldito dinheiro! — Gritei novamente querendo destruir tudo. Peguei a chave do carro e sai novamente dirigindo feito um louco.

Tita

Fiquei com tanto medo de que os seguranças não me deixassem entrar. Quando abriram os portões tive uma pontada de esperança. O Jamie não me proibiu de entrar em casa e talvez possamos conversar. Entrei na sala e Lúcia estava lendo tranquila. Ele não estava. Eu sabia disso. Lúcia me olhou preocupada.
— O que aconteceu? Tita meu Deus, o que aconteceu? — Comecei a chorar desesperada. Lúcia me amparou e tentou fazer com que acalmasse mas não conseguiu — Por favor tenta ficar calma, minha filha. — Você e o Jamie brigaram de novo?
— Lúcia... O Jamie vai me deixar. Ele vai me abandonar. O que eu vou fazer sem ele? Eu vou morrer sem ele. — Ela tentou me acalmar mas não conseguiu.
— Não fale essas coisas. Vocês se amam. E o Jamie pode ter um temperamento explosivo mas depois sempre coloca a cabeça no lugar e volta atrás. Você sabe que ele é assim. — Neguei com a cabeça.
— Eu... a culpa foi minha Lúcia. Foi minha. — Não sei como consegui contar mas relatei tudo que aconteceu. Lúcia tentava me deixar bem mas eu vi o quanto estava preocupada. — Acha que o Jamie pode me perdoar? Pode pedir pra ele me perdoar? Você conhece ele por favor me diz se ele pode me perdoar?
— Tita... filha, eu não sei se vai ser fácil assim. Jamie é muito ciumento e preza muito a lealdade e o compromisso. — Fiquei destruída. — Não chore! Seja forte. Suba, vá tomar um banho, vista uma roupa confortável e desça pra comer alguma coisa.
— Eu quero esperar o Jamie aqui. — Lúcia negou com a cabeça. — Onde será que ele está?
— Provavelmente está tentando se acalmar. O que é bom.
— Eu perdi a confiança dele. — Chorei soluçando como uma criança. — Você me odeia também, Lúcia? Me desculpe. Me desculpe. — O soluço não deixava eu falar mais.
— Eu nunca vou odiar você. Eu a tenho como uma filha, uma amiga e sei do seu caráter. Acalme-se minha quero — Sufoquei as lágrimas percebendo que Lúcia estava muito nervosa. Limpei meu rosto e tentei chegar até a escada para fazer como ela disse mas fiquei tonta demais. Precisei que a Lúcia me amparasse.
— Está tudo girando. — respirei fundo para não vomitar.
— Precisa se sentar, está bem? Vou pegar um suco pra você. — Lúcia me colocou no sofá e baixei minha cabeça por uns instantes.
— Sabia que estaria aqui. Uma cadela não largaria o osso tão fácil. — A voz do Jamie me assustou. Estava carregada de ódio e dor. Seu semblante estava duro. Sem o paletó e a gravada de mais cedo. A camisa estava amarrotada e com alguns botões abertos. Estávamos sofrendo.
— Não vamos brigar, por favor. — A tontura tinha passado mas ainda estava vendo estrelinhas.
— Brigar? Eu quero você fora da minha casa agora.
— Filho...por favor, faça nada que vá se arrepender depois — Lucia entrou na sala e me trouxe um copo de suco. Eu segurei mas não consegui tomar nada.
— Não vai defender essa cretina de merda.
— Jamie... — Tentei me defender desesperada.
— Cale a boca porra! —  levantei e tentei tocar em seu peito mas segurou a minha mão e empurrou para trás. — Sobe, junte as suas coisas e saia dessa casa. — neguei chorando de novo.
— Você prometeu que não me abandonaria. Fizemos os votos na praia... você disse que ficaria comigo pra sempre. Eu não vou embora. — não tinha controle sobre meus sentimentos e não importa o quanto precisasse implorar. Faria o que fosse necessário para estar com o Jamie.
— Votos? Aqueles em que jurou me respeitar? Esses é os votos que tem a cara de pau de cobrar de mim?
— Eu não fiz nada do que o Daniel falou.
— Qual parte? — Segurou meu braço forte e gemi com a dor. Mas não tentei sair. Merecia tudo que estava acontecendo comigo. — A de que sempre trai seus relacionamentos? Que transava com homens mais velhos escolhidos por seu amante.
— Eu nunca fui pra cama com nenhum deles. Eu só flertava e eles pagavam algumas bebidas mas não era nada mais que isso. Eu juro pelo meu pai que nunca passou disso. E eu era adolescente, pelo amor de Deus, nem lembrava mais dessa bobagem. O Daniel só trouxe isso porque precisava corroborar a tese de que planejei seduzir você e que tenho experiência nisso. — Jamie me soltou. — Ele quis me pintar como uma sedutora mas não tem lógica. E os homens que davam em cima de mim eram velhos pedófilos pq sabiam que eu era uma adolescente e mesmo assim queriam me levar para o quarto. Hoje lembrando disso eu vejo o quando o Daniel brincava comigo. — Olhei para Lúcia e ela me encorajou a continuar a falar. — Eu era boba, inexperiente e querendo agradar ao primeiro namorado.
— Eu não quero ouvir mais nada que sai da sua boca. Eu sei o que eu vi. E não adianta inventar de que não queria estar com ele. Por que se não quisesse bastava não ir ao encontro, porra! Tinha me dito que ele estava importunando. — chegou mais perto e segurou meu queixo - mas você você foi, não é? Não conseguiu resistir ao chamado do amante.
— Ele não é o meu amante.
— Eu vou te dar a chance de pegar as suas coisas e sair dessa casa com dignidade. — segurou meu cabelo da nuca — Já falei ao advogado e entrei com o pedido de divórcio. — eu entrei em um estado de desespero silencioso. Eu não chorei. Parecia tomada por um topor de dor e angústia. — Você não vai levar nada. Em caso de traição sabe que perde tudo. Inclusive a casa da sua família. Você vai ficar sem nada. Entendeu? Nada. — Jamie me soltou e começou a subir as escadas. Lúcia tentou me segurar mas eu precisava estar com ele.
— Não vá. Jamie está com raiva. — Lúcia tentava me falar mas não queria estar longe.
— Vai ficar tudo bem. Eu vou dar um jeito. — desvencilhei de Lúcia e fui atrás do Jamie em nosso quarto. Ele estava tirando a camisa e no desespero tirei a minha roupa e fiquei nua. Tentaria o sexo como moeda de troca. — Faz o que quiser comigo. Eu não quero o dinheiro, não quero nada daquele contato. Mas não me deixa. Eu não vou conseguir viver sem você. Eu vou morrer sem você.
— Acha que me importo. — Antes que entrasse no banheiro me agarrei a ele e abrir a calça. Me ajoelhei em sua frente e puxei a calça e cueca até o joelho. Jamie não estava excitado. — Você é patética. — fiquei agarrada aos seus pés implorando algum afeto. Qualquer coisa. Ele tentou sair mas eu o segurava. Tentava tocar e excitar. Jamie se enfureceu e me virou contra o chão. Segurou minhas mãos nas costas e abriu as minhas pernas. Eu não lutei ou pedi que parasse. Pelo contrário. Eu queria me me machucasse. Que expurgasse todo ódio que carregava em mim.
— Eu quero você dentro de mim. — pedi e ele fez. Não era para o prazer de nenhum dos dois. Era punição. Sentir dor quando penetrou mas não resisti. Eu merecia aquilo. Jamie jogou seu peso sobre mim e foi reconfortante. A sua respiração ao meu ouvido era dolorosa. Jamie não disse nada. Nenhum carinho ou algo sexual. E estava bom pra mim. Eu queria ele como fosse. Aguentaria e consertaria meu casamento. Ele parou de se mover. E sabia que não tinha gozado. Eu não queria que se afastasse. Meus braços estavam soltos e joguei para trás. Tirei o pau da minha boceta e levei até o meu anus. Seria ruim mas tudo bem.
— Eu vou te machucar. — falou em meu ouvido.
— Tudo bem. Eu quero que me machuque. — eu não vi mas nada. Fixei meu olhar na parede ao lado da cama. E nada que se seguiu foi registrado pelo meu cérebro. Quando acabou eu não me movia. Tava pra saber que o Jamie estava quebrando tudo no closet. Eu achei que fosse acalma-lo mas não tinha sido o suficiente. Eu faria de novo e de novo. Ele gritou perto do meu rosto mas não entendia. Senti suas mãos em meu braço de novo.
— Onde estamos indo? — murmurei quando saímos do quarto. Meus pés se arrastavam pelo piso. É quase desequilibrei na escada. Lúcia gritou alguma coisa mas parecia tão longe. Então senti a dor nos meus joelhos quando fui jogada para fora de casa. O piso do jardim era de pedra rústica. A dor no meu joelho e mãos não parecia importar. Tinha sangue. E quando senti algo sendo colocado em meus ombros  me dei conta que estava nua.
— Você tem para onde ir? — era o Silveira quem estava me ajudando. Neguei com a cabeça.
— Vamos levá-la para minha casa — Lúcia falou enquanto me ajudava a levantar. — Jamie está quebrando a casa inteira. Meu Deus olhe suas mãos. Tita... meu Deus. — Tomei banho e Lúcia cuidou das minhas mãos e joelhos. Ela trouxe meu pijama e coloquei.
— Ela está em choque. Deveríamos chamar um médico. — Silveira estava brigando.
— Eu vou cuidar dela aqui mas preciso que vá ver o Jamie. — Lúcia me entregou alguns remédios e água. Eu tomei e simplesmente apaguei. Acordei como se voltasse a ser eu novamente. Flashs do ocorrido bombavam minha mente. Eu sabia que estava no chalé da Lúcia, como também sabia que precisava ir embora dali. Levantei devagar e abrir a porta do quarto. Lúcia dormia no sofá e fiquei triste por tomar seu quarto. Ela não tinha idade para passar por isso. Consegui abrir a porta sem acorda-la e senti o vento frio no rosto. Deveria ser por volta das cinco da manhã. Meus pés sujaram quando pisei na grama úmida. Precisava pegar a minha bolsa e o celular. Lembrei que tinha deixado no sofá da sala. Torci para a porta da cozinha estar a aberta e estava. A sala estava destruída. Muito vidro pelo chão. Acabei pisando em um mas por sorte foi superficial. Peguei a bolsa e olhei ao meu redor. Eu nunca mais estaria aqui de novo. Quis chorar mais não consegui. Estava esgotada. Pensei no Jamie dormindo em nosso quarto e vacilei. Precisava sair dali ou não conseguiria seguir em frente.

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