Corações corrompidos

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Aquelas duas garotas se encaravam no jardim da pequena marquesa. Se pudessem sentir a raiva que uma tinha da outra, não se conteriam apenas em encarar.


_ Você ficou maluca, sua escrava fedida? _ Amélie estapeia o rosto de Joanna.


Joanna apenas ri. Põe a mão em seu rosto ferido e solta uma risada alta.


_ Você é tão ingênua, Amélie!


A menina olha para ela furiosa. Já não bastava aquela escrava ter a audácia de andar lado a lado com o príncipe, ainda chamara sua senhora de ingênua e, ainda por cima, não usara nenhum pronome de tratamento para se referir à nobre.


Amélie chama por Dianne, que vem às pressas de encontro com as duas que ali estavam.


_ Pegue meu chicote com pontas de ferro! _ Ordena a garota.


Dianne olha para Joanna confusa. Não queria machucar sua colega, mas sabia que não podia desobedecer a sua dona.


_ Está pensando que me bater vai adiantar alguma coisa, Amélie? _ Joanna abre um sorriso maléfico junto a Dianne, que a segue também.


_ Eu vou contar para o papai! Vou falar com minha mãe que vocês são imprestáveis e ela se livrará dos seus corpos!


_ Vai contar para os seus pais, Amélie? E o que mais vai contar? Que ainda tem dificuldades em ler livros sobre política, fazer contas matemáticas, falar a língua da nação vizinha ou que nunca conseguiu elaborar propostas de economia para o marquesado? Vai contar que suas escravas "imprestáveis" fizeram tudo isso para você? _ Joanna avança dois passos para frente da pequena garota, que ficou acuada com a situação em que se metera.


_ N...não é como se vocês fossem grandes coisas! Daqui há uns anos eu herdarei esse marquesado inteiro, minha mãe me prometeu!


_ Sua mãe? _ Joanna olha para Dianne e as duas riem._ A mesma que está em estado terminal?Amélie engoliu seco. Sabia que já havia um tempo que sua mãe não estava tão bem como deveria, mas nunca se preocupou em saber o que estava acontecendo de fato. Sempre pensou ter dinheiro o suficiente para curar qualquer doença que viesse a acometê-las.


Pobre garota, mal sabia que os corações daquelas duas escravas já estavam completamente manchados. Mal sabia ela que, ao longo de todos esses anos, pequenas doses de veneno foram aplicadas no chá da marquesa para que ela ficasse fraca aos poucos e ninguém percebesse a razão da sua morte.


A reação esperada das duas escravas era que a garota se sentisse reprimida pelas informações e saísse correndo enquanto chora pelo marquesado. Mas nobres são nobres até o fim. Não estou falando de um sangue nobre e orgulhoso, estou falando de um sangue porco, sujo e mau caráter. O sangue de pessoas gananciosas.


_ Então mamãe está para morrer? _ A garota ri, pega uma vara no chão e bate no ombro de Joanna, ferindo-a._ Isso quer dizer que eu serei marquesa mais cedo do que pensava.

De madame à escravaOnde histórias criam vida. Descubra agora