13 - Uma Visita Inesperada

690 64 9
                                    

De pantufas de panda, pijama amarelo com bolinhas azuis, tigela grande de pipoca na mão, ajustava a televisão para assistir ao filme romântico

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

De pantufas de panda, pijama amarelo com bolinhas azuis, tigela grande de pipoca na mão, ajustava a televisão para assistir ao filme romântico. A badalada da igreja a alguns quarteirões da casa. Por que os padres tocavam o sino no meio da noite? Missa especial? Lembrava-se de ouvir o sino da igreja no domingo de manhã. Seria possível que badalassem a cada hora e nunca percebeu?

Quem se importava com os padres e seus sinos? Precisava ver um bom romance, torcia para não matarem nenhuma personagem. Nada de finais infelizes onde um morria deixando ao outro solitário. Não, nada de tristeza. Queria final feliz para o casal, casados e com filhos depois de lutarem fervorosamente pelo amor deles. A sinopse oferecia aquilo, não?

Menos de dez minutos de filme e estava chorando. Como viver um romance como aquele na vida real? Lutar contra tudo e todos pelo amado. Cartas de amor, mensagens inesperadas no meio da noite, buquês de flores no trabalho. Mais vinte minutos. Oh, por que não o beijou? Ele estava se declarando para você. Vamos, o perdoa! Não, burra, ele te ama! Soprou o nariz no lenço e encheu a boca de pipocas frias e murchas.

— Ayla — chamou por primeira vez. — Ayla! — insistiu.

— Ah não, Cassiel. Veja como ele está sofrendo por ela, embriagando-se no balcão.

— Ayla, não abra a porta — ordenou o anjo com voz etérea na cabeça dela.

Esteve a ponto de enfartar ao som da campainha. A tigela caiu com o susto e espalhou a pipoca sobre o tapete acetinado bege com detalhes abstratos azuis. Ficou em pé fitando a porta clara, incapaz de dar passos em sua direção. A planta exuberante caía em cachos brilhantes sobre o suporte negro de ferro, uma joia verde contra a parede insípida. A campainha soou uma e outra vez, insistente.

Quem poderia ser? Não abra, não atenda. E se for Diogo? Diogo nunca bateria à sua porta no meio da noite. Tia Luíza? Não abra. Outro soar estridente. Fosse quem fosse à porta acordaria os vizinhos se continuasse insistindo. Não atenda. Colocou o vaso da planta no chão e empunhou o suporte, trêmula. Um inspirar profundo a cada passo a levou até a porta e o olho mágico não revelou quem estava do outro lado.

Saltou com a campainha outra vez. Deixa tocar. Agarrada ao suporte do vaso, fungava e sacolejava. Ofegava. Outro som irritante. Santo Deus! Estava tão curiosa. Com medo, porém curiosa. Beatrice? Sim, podia ser Beatrice. Sabia onde morava e de personalidade suficiente disparatada para visitá-la àquela hora. E recebê-la figurou-se tão atraente quanto um convite para um jantar romântico. Que comparação esdruxula, Ayla! Saltitou com o outro soar, contínuo, berrante e impaciente. Todos aqueles dias em puro tédio, o mundo destituído de sentido, a ilusão da vida, a solidão, Rosa tentando prejudicá-la, o jantar romântico para o qual Diogo jamais a convidou.

Por sua conta e risco. Por minha conta e risco.

A maçaneta girou num ruído suave e o coração saltou à boca. Lindo e sedutor, jogou o cabelo comprido para trás e os olhos brilharam como gotas solares sobre as águas do mar. Gar e o desconhecido na retaguarda. O amigo negro transmitia simpatia e conforto, o terno charmoso e moderno e a cartola combinavam com o sorriso encantador, revelava os dentes leitosos detrás dos lábios carnudos e simpáticas covinhas. Fez uma vênia polida retirando o chapéu.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora