7 - Nik

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Ayla acariciou a lataria vermelha e brilhante

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Ayla acariciou a lataria vermelha e brilhante. Quanto custava um carro como aquele? Modelo esportivo, veloz e feito sob medida. Debruçada no porta-malas Beatrice se esforçava para tirar a bolsa pesada. Dentro do vestido curto e preto, meia-calça rasgada e botas de cano longo tornava-se impossível imaginar que tivesse dinheiro para comprar um automóvel daquele.

E sequer combinava com o galpão decadente onde estacionou. Os entulhos misturavam-se a bancadas repletas de frascos e utensílios comuns aos laboratórios químicos. A escada de madeira, que dava acesso ao andar superior, parecia ter sido improvisada por pedreiros para usar durante a obra, e gemia com os passos pesados de Beatrice que arfava e reclamava do peso da mala. Curiosa demais, acompanhando a bruxa, indagou.

— Como conseguiu esse carro?

— Meu pai — respondeu, desinteressada. — Te disse que me dava mesada.

— Mesada e carros?

— Mesada e carros. Foi o preço que precisou pagar para minha mãe me suportar. Deve ter se acostumado e continuou me mandando depois da morte dela.

— Ele te dá mesada e carros caros, mas nunca te visitou?

— Mas, que coisa insistente, inferno! — Voltou-se para Ayla. — Não. Nunca. Talvez minha mãe o tenha chantageado. Vai ver é alguém famoso a fim de esconder a bastarda. Com reputação a zelar. Não sei. E não faz diferença.

— É claro que faz diferença, caramba! Não é como eu. Meu pai engravidou minha mãe e desapareceu. Esse não é o seu caso, queira ou não, de um modo bem esquisito, é verdade, seu pai ainda mantém algum contato.

— Dinheiro não é contato. Não paga a ausência dele. Só sou privilegiada. Conforto não é felicidade.

— Fala isso porque não é pobre. — Ayla encolheu-se quando Beatrice ajustou a alça e temeu que estivesse nervosa o suficiente para dar nela com a mala. Entretanto, a voz soou calma.

— Eu investiguei, procurei meu pai por bastante tempo, mas jamais cheguei nem perto de descobrir a identidade dele. Desistir se tornou inevitável.

Apertou os olhos tão logo Beatrice abriu a porta. Clara e limpa, adentrar na casa assemelhava-se a imergir num templo de luz branca e ofuscante. O zunido constante dos aquários compridos e enormes, geralmente rentes às janelas amplas, a convidou a um passeio intrometido. Se tinha significado Ayla não sabia dizer, porém estava encantada. Perambulava pelo apartamento, apertava o nariz contra os vidros para ver os peixes mais de perto e observar, com certo deleite, a reação deles. Havia aquários amplos servindo como divisórias dos cômodos. Não sabia dizer se Nik era minimalista, entretanto havia pouquíssimos móveis em todo o apartamento.

Guiada pela voz de Bia, irrompeu na cozinha aromatizada por ervas e da pizza assando. Segurou o riso ao ver Nik coberto pelo avental branco, touca telada e luvas de forno. Esperava tudo, menos a aparência de assistente de cozinha. Incapaz de se esquecer de acordarem nus compartilhando a cama, envergonhou-se. O ruivo se lembrava do que fizeram? Ele sorriu, despiu uma das mãos e a estendeu para cumprimentá-la. Santo Deus! O que pensava? O que fizeram? Seria bom se comentasse sobre o sexo. Não, não seria não. Como explicaria a amnésia?

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora