24 - Acidente?

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Ainda estava dividida sobre quem culpar: o tédio ou a insanidade

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Ainda estava dividida sobre quem culpar: o tédio ou a insanidade. Beatrice socava o volante, cantando desafinada a canção que já era horrível por si só, a maquiagem disfarçava as veias escuras, ao menos não estava mais azul como um alienígena. Para total desagrado da bruxa desarmônica, pois bastante contente com o tom esquisito de pele, queria continuar assim pela eternidade, nunca esteve tão linda, disse incontáveis vezes.

Três semanas de recuperação desde que acordou, duas assistindo aos noticiários vinte e quatro horas por dia, Beatrice demorou a perceber que as desgraças noticiadas a divertiam em vez de irritá-la. Ficar sem fumar e beber quase deu certo, entretanto Ayla e Nik acabariam num hospício se incentivassem, assim o amigo fez drinks irresistíveis e ofereceu toda sorte de tabaco dos mais variados aromas e formas. Não houve dificuldade em convencê-la do ridículo da ideia. De que serviria afinal despertar o poltergeist sem saber como controlá-lo e pará-lo?

— Eu transei com Andras. E não foi tão bom quanto pensei que seria. Estava até acreditando que os buquês e os cartões românticos pudessem suplantar minha desconfiança, porém foi surreal demais.

Bia não deu a menor atenção, alternava a concentração entre a direção e o celular. Acendeu a tela do aparelho pela milésima vez e tornou a tamborilar o volante. Ayla abaixou o volume da musica e repetiu incluindo outros detalhes sobre como a despiu, as posições e o que conversaram nos últimos dias.

— Mas, em que diabos estou pensando agora? — vociferou Bia, irritada consigo.

— Você está me ouvindo? — Ayla estava nervosa.

— Desculpa, Ayla. Ando com a cabeça nas nuvens.

— Eu disse que eu vi o inferno com Andras! Você pode falar que sou maluca ou rir de mim como você sempre faz. Porém, estou certa de que ele é o demônio.

— Eu acho que vi o inferno com Gar também — disse, absorta.

— Bia, o que há de errado com você? Não estou falando de forma figurativa, era o inferno lá, vívido, com lagos de fogo, almas suplicantes...

— Com certeza eu era uma dessas almas do seu orgasmo — soava distante.

Furiosa, Ayla jogou o celular na cabeça dela. Beatrice choramingou acariciando a área afetada e indagou.

— De onde veio toda essa violência?

— Posso ser quem eu sou com você.

— Não me lembro quando foi que te dei essa permissão—

— Fecha essa matraca e me escuta! Enquanto esteve desacordada sem ninguém saber se sobreviveria ou não, houve dias em que Andras veio me ver, sempre muito educado, trazia-me flores e chocolates.

— Capeta romântico. — Bia riu.

— Sim. Eu até pensei que poderíamos namorar, sabe? Porém, os pesadelos voltaram depois do sexo. Deixei de sonhar com o anjo do deserto e comecei a sonhar com Andras, sem trégua, sentado em um trono num lugar rochoso, alto e sombrio. Ele me dizia algo que eu não entendia e no fim era normalmente resgatada por um anjo. Acho que o sonho estava tentando me dizer o que aconteceu naquele dia.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora