8 - Bel

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O desconforto tornou-se um estado permanente

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O desconforto tornou-se um estado permanente. Atravessavam o salão comprido, rentes ao balcão negro que se estendia ao longo do recinto, de uma ponta a outra da parede, repleto de mal-encarados, os quais torciam os pescoços para arrostá-las. Ayla encheu-se de aflição. Nas mesas espalhadas, dividindo o espaço com a minúscula pista de dança, a maioria das pessoas as encaravam com cara de poucos amigos. E Beatrice a precedia, desviando de um ou outro, em pura indiferença. Aflita, previa o momento em que alguém a pegaria pelos ombros e a arremessaria porta afora.

— Não pode entrar — informou o segurança, largo como um guarda-roupas, obstruindo a passagem.

Atrás dele, a porta larga e negra com um puxador horizontal proporcionava calafrios em Ayla. Os instintos gritavam. A voz da intuição implorava para não adentrar fosse o que fosse que estivesse depois do limiar. Os dedos débeis e hesitantes agitaram-se às costas de Beatrice, prontos para puxar o vestido negro e curto, como de boneca, e suplicar para irem embora.

— Oh sim, Brutos, posso!

Não, Beatrice, resposta errada, amiga. Vamos voltar. Beber em outro lugar.

— Não vou te permitir incomodar Bel de novo. Não é bem-vinda.

Ayla roeu as unhas. Os mal-encarados aglomeravam-se atrás delas. Beatrice não enxergava a confusão crescente? Ou não se importava?

— Isso sou eu quem decide, Brutos — disse a mulher ao surgir atrás do homem.

— Bel. — Beatrice se lançou nos braços dela. — Sabia que me veria pelas câmeras!

Bia chamou Ayla com os dedos ao atravessar o limiar. O corredor de paredes escuras tinha largura suficiente para duas pessoas andarem lado a lado. Longo e pouco iluminado, terminava no curto lance de escada.

Bel, impecavelmente trajada, negra e de corpo escultural, beijou a boca de Beatrice antes de escancarar a porta arqueada no alto da escada. A sala de piso xadrez com várias mesas, espaçosa o suficiente para conter o tablado com pole dance, onde duas mulheres atraentes e seminuas dançavam dividindo o mastro, também estava abarrotada de carrancudos.

A negra as encaminhou para uma mesa redonda, próxima ao bar. Beatrice, carinhosa, entremeou os dedos no cabelo crespo, e sugou os lábios carnudos e cintilantes. Bel apressou-se em segurar a fivela brilhante que os afagos da bruxa desprendiam do penteado volumoso e entreabriu a boca para receber, deleitosa, a língua invasiva. Além de tudo, lésbica. Ayla abanou a cabeça de um lado a outro e sentou-se, ressabiada.

Bel trocou algumas palavras com a bruxa libertina ao afagar o rosto lívido com ternura. E encarou Ayla, desdenhosa e com indiscreto interesse. Estava enciumada ou curiosa? Prometeu retornar e as deixou.

— Bel é a mulher mais linda desse mundo — suspirou Beatrice ao se sentar. Apossou-se da garrafa de conhaque do garçom. Desconcertado, o rapaz entregou a garrafa de champanhe para Ayla após abri-la em vez de servi-la na taça. — Se não fosse tão problemática — Bia choramingou, distante. — Tudo teria dado certo.

E o Verbo Se Fez Carne  ⚠️Completo⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora