Beatrice sondava ao carro. Talvez devesse variar de marca, todavia um carro capaz de chegar a trezentos quilômetros por hora e custasse milhões, poderia ser a diferença entre a vida e a morte. Apertando a chave na mão, a lataria preta e charmosa, o modelo esportivo, costelas de volta ao lugar, perguntas sem respostas...
Por que Olin sempre surgia à mente quando mirava qualquer carro com a intenção de dirigir? Por que sobreviveu e ele não? Ninguém sobreviveria aquela queda, o médico afirmou, o policial e Nik também. Estar viva era um milagre. E o automóvel a extensão do próprio corpo do Bastardo solitário. E anos se colocaram entre a queda e aquele momento. E o uísque desceu quente e confortável, ao circular o automóvel estacionado na garagem.
— Deviam criar carros com personalidade. Inteligência artificial capaz de amar tanto ao dono a ponto de protegê-lo de todo e qualquer acidente, não acha?
Não, o carro não a responderia. Passou a mão na lataria, fria, lisa e brilhante. Mas, que diabos, Beatrice! É só entrar e ligar! E fez. Sentou-se, colocou o cinto de segurança e segurou o volante. Não podia depender de Nik ou de taxistas a vida toda. Não, Olin não se materializaria no banco do passageiro. Ligou a ignição. Musica, sim, sempre a acalmava. Comandou a inteligência artificial para ligar o som. Se Bel se recusava dar o passe da biblioteca, restava bater à porta dos Maier.
Dirija essa merda, Beatrice! Porra! O portão elétrico abriu atrás dela ao apertar o controle. Socou o volante, como se a dor provocada pudesse afastar a imagem de Olin perfurado pelos ferros, o modo como não respondeu, o corpo banhado em sangue. Eu te amava tanto. Te amava... tanto... e te matei. Amo Bel e a machuquei a ponto de desejar me matar. Amor é morte? Amar é matar? Amar é morrer? Está viva, não está? Dirija a porra desse carro, Beatrice Faure! Você está sozinha, se morrer, morrerá sozinha!
— Sozinha, estou sozinha — disse em voz alta e engatou a ré.
Tirou o carro da garagem. Tirou da garagem! Isso, Bia, continua! Você não ama menos Olin por dirigir um carro. Não pode defrontar os Maier e pedir favores sem dirigir. Nik nunca a permitiria adentrar o território dos Maier. Nunca! E nós sabemos o que isso significa, não sabemos? Está sozinha, filha da puta, ninguém fará isso por você.
— Estou sozinha. Estou sozinha — repetia em voz alta, atenta ao tráfego.
O carro moveu, a quarenta por hora, porém dirigia. Não havia escapatória, a via expressa, obrigatória, assim como pisar no acelerador. Aumentou a musica. Tinha de sobreviver àquela noite também. Nada de penhascos. Gar deixou o número dele no telefone. E queria amanhecer como boa puta, bêbada e grudenta, dormindo e babando no peito dele.
Não existiam tantos problemas entre ela e os Maier. Ao menos enquanto ainda namorava Bel, e os LeBlanc não se importavam com sua existência. Quiçá Cassius tivesse afeição por ela ainda. Cassius Maier, sim, a única oportunidade de entrar na maior biblioteca dos bruxos sem necessitar apelar à violência. Civilizada, sim. Meiga e civilizada. Bel ficaria feliz se fosse comportada e elegante. Bel. Elegante. Linda. Hipócrita! Hipócrita! Te amo, vaca! Por que me traiu?
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E o Verbo Se Fez Carne ⚠️Completo⚠️
Fantasía🏆 Eleita como uma das melhores histórias de 2022 pelos Embaixadores do Wattpad🏆 Ayla de posse de um objeto de poder e sem conhecer o pai, atrai seres perigosos e considera seus poderes paranormais como meros transtornos mentais até conhecer Beatri...