Fenrys estava entediado. Por mais que a tarefa que sua rainha lhe dera de contatar os acadêmicos do reino distante fosse algo particularmente interessante, ficar meses longe, apenas tendo conversas diplomáticas não era tão empolgante assim. Infelizmente, eles não puderam ir de imediato, mas prometeram que o faria, assim que terminassem de se organizar. A viagem para Terrasen não seria curta, nem simples, então precisaram de uma certa preparação.
Pelo menos eles concordaram, prometeram trazer diversos documentos e livros para compor a biblioteca, recém reconstruída, e compartilhar o máximo de conhecimento que pudessem.
Para Fenrys, voltar para casa significava muito mais do apenas retornar para seu quarto exageradamente grande e confortável no palácio, mas também era rever sua rainha Aelin Galathynius e seus amigos. Ficara sabendo que, ao retornar, Elide e Lorcan Lochan estariam no reino para uma visita. O que poderia ser uma experiência maravilhosa, pois o lobo não rira o suficiente do recente sobrenome do semi-feérico e estava louco para contar os apelidos que inventara.
Pelo menos Vaughan era uma boa companhia. Depois de realizar o pacto de sangue e oficialmente ser parte da corte da rainha de Terrasen, se tornou um companheiro muito útil. Não apenas por ser um guerreiro excepcional, mas também por ser muito, muito bom com as donzelas. Não que Fenrys tivesse problema com isso, é claro.
Estavam no lado leste de Terrasen e teriam apenas três dias para chegar a Orynth, quando resolveram parar em uma vila e se hospedar em uma taberna particularmente movimentada. O local era todo revestido de madeira e muito espaçoso. No andar de cima ficavam os quartos onde estavam alojados, porém no andar de baixo, tinha o bar, com suas mesas espalhadas e um palco para apresentações artísticas. Fenrys já tinha visto muitos lugares cheios durante sua vida, mas naquela noite aquele lugar estava extremamente lotado.
- Parece que o festival atraiu muitas pessoas para o estabelecimento, - Comentou Fenrys - mal temos lugar para sentar.
- Existem muitas outras tabernas aos arredores da vila, essa aqui deve ter algum diferencial- Declarou Vaughan.
Fenrys não sabia porque os cidadãos daquela região estavam tão empolgados com um simples festival. Ouviu dizer que teriam comes e bebes, além de músicas, e atrações artísticas.
Apenas uma coisa lhe despertou um pequeno interesse. O que estavam chamando de torneio. Qualquer um poderia competir e receber uma quantia generosa em ouro. Mas ele estava com pressa demais para voltar para casa, que nem se incomodou com tais festividades.
Ao se aproximarem do bar, o taberneiro lhes ofereceu um sorriso zombeteiro, provavelmente se divertindo com a cara que os guerreiros faziam para aquela multidão barulhenta do estabelecimento.
- Ficariam surpresos com a frequência com que esse lugar fica lotado desse jeito nos últimos dias. - Comentou o homem atrás do balcão do bar - Achei que membros da corte da rainha não se impressionassem tão facilmente.
- Estamos apenas curiosos em saber o motivo de tanta agitação- disse Vaughan.
- Não é óbvio? - Fenrys deu um largo sorriso - É porque estou aqui.
Seu amigo apenas revirou os olhos e o taberneiro riu com ironia antes de afirmar:
- Se forem uma mulher linda, tiverem cabelos cacheados e uma voz de outro mundo, talvez essa multidão seja mesmo para você.
Fenrys franziu a testa se perguntando a quem o se referia. Vaughan foi encontrar um lugar para sentarem antes que acabassem ficando em pé, enquanto ele aguardava as cervejas.
- Ouvi dizer que ela já está encerrando a noite. - Comentou um macho próximo - A última música será apenas ela e o piano.
Aquilo serviu apenas para aguçar sua curiosidade e, inesperadamente, aquela taberna ficou bem mais interessante.
- Aqui está guerreiro, - estendeu duas canecas cheias de cerveja - aproveite o show. Tenho certeza de que será infinitamente mais agradável do que sua ilustre presença.
Fenrys riu para o homem enquanto pegava as duas canecas. Mas, ao se virar, não notou que uma fêmea estava se aproximando, e sem ter tempo de se desviar acabou esbarrando nela, derramando a bebida e encharcando seu vestido.
- Merda! Me desculpe, senhorita... Merda. - Dizia Fenrys desesperado, enquanto colocava as canecas no balcão e pegava um pano que encontrou na parte de trás do mesmo. - Mil perdões, esse lugar está abarrotado de gente e tudo por causa de uma cantora desconhecida. - Continuou, lhe oferecendo o pano.
- Está tudo bem. - Disse a fêmea olhando para baixo, enquanto tirava o excesso da bebida como podia do seu peitoral - Com uma multidão dessas seria quase impossível sair ilesa.
- Eu realmente sinto muito. - Acrescentou depressa. - Juro que nunca vi um lugar tão lotado, apenas para ver uma apresentação de...
Então, ela levantou os olhos e o mundo parou de girar.
O impacto com que aquele par de olhos o atingira foi tão intenso, que quase o colocou de joelhos. Os sons ao redor ficaram distantes, o ar pareceu crepitar. Sua pele foi tomada por um calafrio, ao mesmo tempo que seu coração bateu tão forte que pareceu que iria sair do seu peito.
Pelos deuses. Ela era linda. Não tinha uma beleza feérica comum, mas algo beirando o extraordinário. Os olhos eram escuros como a noite e sua pele marrom parecia ser tão delicada e macia como uma pétala de rosa. Seu cabelo castanho até a cintura era maravilhosamente cheio e cacheado, e ele teve uma súbita vontade de enterrar seus dedos nele. Caramba, ela é magnífica.
Durante o que lhe pareceu horas, seu olhar permaneceu preso ao dela. Ela tinha uma expressão confusa, em uma mistura de admiração e espanto. Abriu e fechou a boca algumas vezes e pareceu tão abalada com aquele encontro quanto o guerreiro.
- Quem é... - Começou Fenrys.
- Senhoras e senhores, para encerrar a noite, recebam mais uma vez neste palco, Karen Bittencourt. - Anunciou alguém à frente do palco.
As pessoas começaram a aplaudir euforicamente, e a linda feérica de frente para Fenrys piscou os olhos algumas vezes, como se acordasse de um sonho. Timidamente abaixou o rosto e começou a caminhar para a frente do bar, onde estava o palco. Fenrys estava prestes a agarrar o seu braço e exigir saber seu nome, quando percebeu que a pessoa que estavam anunciando era ela. O motivo do alvoroço.
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Um conto de Fenrys - uma fanfic de Trono de Vidro
FantasyEssa história é para aqueles que leram Trono de Vidro e torceram para que Fenrys tivesse sua história contada. É um presente meu para um dos personagens mais carismáticos e importantes para toda a saga. Fenrys merece uma história de amor, então cri...