Um conto de Fenrys - uma fanfic de Trono de Vidro

Capítulo 24- Fenrys

Antes mesmo que qualquer som saísse da boca de Karen, o coração de Fenrys já tinha começado a disparar.

Tudo naquela pequena apresentação era diferente. Não era como se estivessem de novo naquela taberna quente e lotada de homens afetados pelos encantos de sua parceira. Não estavam rodeados de desconhecidos em busca de mero entretenimento. Eles estavam no palácio, e Karen cantaria para a corte.

Fenrys sentira a palma da mão dela transpirar, quando a segurara, e percebeu que o pedido de Aelin lhe causara certo nervosismo. Por um instante ele ficou surpreso com essa reação vinda dela, sendo que não demonstrara nada nem minimamente parecido antes. Nem mesmo quando tocara com seu amado grupo Musicaleiros.

Foi assim que o feérico compreendeu a grandeza que aquilo seria na vida da fêmea. Ela estava retornando para casa, de onde nunca deveria ter saído. Estaria compartilhando sua música para as pessoas mais importantes de todo o reino. E não teve nem tempo para se preparar.

Entretanto, como tudo o que sua parceira fizera nas últimas semanas, ela o surpreendera.

Quando os primeiros acordes foram tocados e as primeiras palavras cantadas por Karen começaram, a mente de Fenrys parou de funcionar.

O salão quase vazio ecoou o som que seus ouvidos adoravam tanto ouvir. Mesmo sem perceber, o lobo foi transportado para aquele fatídico dia, onde pôde ter honra de conhecer a fêmea que dominaria seu coração.

Foi então, que o feérico percebeu que aquela era a primeira vez que a ouvia cantar aquela canção, desde aquela noite. Sua mente vagou pela lembrança de ter seus olhos presenteados com a visão de seu rosto lindo pela primeira vez, de sentir o seu hálito saindo de sua boca e tocando sua pele, do cheiro adocicado de baunilha que lhe atormentou por dias. Fenrys jamais se esqueceria do arrepio que sentiu ao estar em frente à sua parceira, finalmente.

Como da primeira vez, seus pés tomaram o rumo sozinho, direto para a dona da voz mais extraordinária que existia. Como da primeira vez, ele se dirigiu até a feérica mais bela que já habitou aquele miserável mundo, e que estava deslumbrante naquele vestido azul. Como da primeira vez, Fenrys caminhou para seu amor.

Ele ignorou os cochichos que surgiram entre seus amigos. Ignorou a possibilidade de atrapalhar a apresentação que Karen se dedicava com afinco para lhes proporcionar. Ignorou que, com certeza, pareceria um tolo e que seus amigos tirariam sarro dele por toda eternidade.

Fenrys ignorou tudo, quando se sentou ao lado de sua parceira no piano.

Como se soubesse que ele faria isso, como se sentisse que aquela música o atrairia mesmo que lutasse contra, ela não falhou nem por um instante. Continuou cantando, cantando e cantando. Tocando em completa harmonia com sua voz. Sem perder o foco em momento algum.

O feérico percebeu que a música chegava ao fim, quando sua parceira tirou as mãos das teclas e olhou em seus olhos para cantar as últimas estrofes.

Durante as primeiras semanas em que estiveram juntos, Fenrys se deixou levar pela insegurança de que Karen não fosse sua parceira. Um medo de que ela pudesse se afastar, e ele nunca mais a visse novamente. Mas ali estava ela.

A feérica que ele fizera o favor de derramar cerveja em seu vestido, cantava para ele, como se apenas os dois estivessem no salão. No castelo. Em Orynth. No mundo. Foi quando decidiu que nunca mais deixaria suas incertezas lhe dominar, e lhe privar de vivenciar algo que mudaria sua vida. E quando a música, por fim terminou, não se impediu de pronunciar as palavras que já habitavam seu coração desde aquela primeira noite:

- Amo você. – Sussurrou.

Os olhos de Karen se encheram d'água e ele viu sua respiração falhar. Porém, não permitiu que ela dissesse qualquer coisa. Levando as mãos para o rosto de sua parceira, Fenrys a beijou.

Não dando a mínima para os outros que assistiam, Fenrys a beijou de uma forma que nunca havia feito antes. Demonstrou naquele ato o sentimento que finalmente verbalizara, o desejo que domava seu corpo e a promessa da vida feliz que lhe fizera a um tempo atrás.

Quando suas bocas se separaram, sua parceira levou suas mãos para as dele e seus olhos tinham mais lágrimas contidas do que antes. Ela o presenteou com um sorriso que ele jamais esqueceria.

E, para manter o costume, seus amigos se levantaram e começaram a aplaudi-la fervorosamente.

O casal se levantou e saiu do banco, e Fenrys deu um passo atrás, para que sua parceira pudesse se curvar em agradecimento. Pareciam abalados pela apresentação, e, para a surpresa de Fenrys todos tinham lágrimas no rosto. Até mesmo Lorcan tentava, discretamente, enxugar as suas.

Karen olhou para trás, à procura do lobo, que de prontidão ficou ao seu lado. Eles se olharam, e Fenrys fora golpeado por aquele rosto fantástico, enquanto ela sorria pra ele.

Foi então que o lobo fez algo que nunca antes fizera. Ele fechou os olhos por um segundo e agradeceu aos deuses pelo presente que recebera. Mesmo não merecendo, mesmo sem esperanças de que aconteceria, mesmo com tudo o que perdera, ele agradeceu. Ele sempre seria grato. Por isso. Por ela. Sempre ela.