Aquela foi a noite mais agitada de todas, e estavam na taberna a apenas algumas semanas. Karen nunca estivera tão contente com a repercussão que sua música estava tendo, e suas esperanças estavam aumentando. O acordo com os donos do lugar, o Sr. e a Sra. Johnson, de se apresentarem todas as noites, em troca de um lugar para dormir e comer tinha sido o melhor em meses. Como ela e seu irmão não tinham juntado dinheiro o suficiente, ainda não poderiam voltar para casa. Pelo menos era isso o que dizia a si mesma.
Com essa noite, as próximas que viriam, e com os planos de conseguirem algo significativo no festival, talvez pudessem ter o suficiente para retornarem a Orynth. Ou, se pelo menos a caravana dos Musicaleiros cruzasse seu caminho, teriam um valor adequado para oferecerem seus serviços.
Os Musicaleiros eram os melhores músicos de toda Erilea, e ela os tinha visto apenas uma vez durante o último ano. Fora fenomenal o que seus olhos e ouvidos presenciaram. Eles eram excepcionais. Todas as vozes que cantavam eram impecáveis, assim como os instrumentos tocados. Eram muito requisitados e raramente ficavam mais de uma semana em um local. Ela e o irmão não tinham condições financeiras e principalmente emocionais para fazerem parte da companhia na época em que os conhecera, então isso se tornou um sonho distante.
Karen estava cansada de sua vida nômade e estava disposta a fazer de sua jornada algo significativo. Ou em Orynth ou por toda Erilea, com a caravana. Então, o que lhe cabia no momento era cantar. Ela amava cantar. Cantar era o momento em que tinha toda a liberdade de ser alguém muito melhor do que acreditava que era.
Ela apenas não contava com a surpresa daquela noite. Não o vestido preto favorito, agora sujo de cerveja. Mas sim o macho maravilhoso que fez o favor de derramar a bebida nela. Enquanto caminhava para o palco, deixando para trás o guerreiro de cabelos claros e compridos, ficou refletindo sobre o que acabara de acontecer.
O acidente com a cerveja passou a ser insignificante, assim como a insinuação de que essa multidão não poderia estar ali apenas para apreciar sua música. O que ela sentiu. O que ela viu quando olhou em seus olhos. Karen estremeceu ao relembrar a sensação. O rosto do macho era perfeito, por mais que tivesse uma grande cicatriz, ainda era a pessoa mais linda que já vira na vida.
Algo aconteceu. Ainda não tinha certeza do que exatamente, mas algo estava diferente dentro dela. Só preciso descobrir o que é.
- Obrigada rapazes, – se dirigiu com um sorriso ao grupo de instrumentistas que estava voltando para o palco – eu assumo daqui.
- Por favor, os impressione. Estou ansioso para beber até desmaiar. – Disse Kaysen – Como seu irmão, posso dizer que tenho tanto crédito nessa gente quanto você.
Dando uma piscadela, ele saiu do palco com os instrumentistas, deixando-a sozinha com o piano.
- Olá pessoal. – Disse sorrindo abertamente para o público - Sentiram minha falta?
As pessoas vibraram e levantaram seus copos, enquanto ela se sentava em frente ao grande instrumento que estava de lado, na beirada do palco.
- Vou encerrar a noite com uma música triste, mas que fala de amor - disse isso, sem perceber que seus olhos buscaram os do macho, que permanecera no mesmo lugar em que o deixara - Espero que vocês gostem dela, tanto quanto eu.
Eles trocaram olhares intensos como da primeira vez, como se não pudessem evitar. Ela limpou a garganta, chacoalhou a cabeça para clarear a mente, e quando a multidão começou a ficar em silêncio, começou a tocar.
Ao fechar os olhos e iniciar a música, instantaneamente Karen foi transportada para outro lugar. Um lugar calmo e pacífico, onde tudo o que sentisse fosse apenas a melodia em suas veias. Para ela, aquele lugar era bom. Era perfeito na verdade. E este era um dos motivos da música ser tão presente em sua vida.
No meio da canção, sentiu uma estranha vontade abrir os olhos e procurar por ele. Ao fazê-lo, percebeu que o feérico caminhava em sua direção, bem lentamente, como se estivesse em transe.
O que ele está fazendo?
Incapaz de se segurar, ela sorriu e começou a cantar olhando em seus olhos. Ele continuou se aproximando, os olhos fixos nos dela, sem ao menos piscar. Uma sensação diferente tomou seu corpo, como se essa aproximação fosse algo que sempre quis, sempre precisou, mas não sabia disso até aquele momento.
Quando ele alcançou a beirada do palco estava a alguns centímetros de distância da feérica, que tocava e cantava com todo o seu coração. Ele a olhava com adoração. Como se ela fosse a coisa mais linda que ele já tivesse visto. No final da música, ela tirou as mãos do piano e cantou os últimos versos com fervor.
Escorregou um pouco para o lado, para se aproximar daquele rosto lindo que não desgrudou os olhos do seu. Sem desviar o olhar, ela finalizou a música com uma nota linda e aguda, e o silêncio tomou conta do ambiente momentaneamente.
Karen desceu os olhos para os lábios levemente separados do feérico, e sua mente parou. Sua respiração ficou ofegante, seus ouvidos zuniam e ela pensou que o coração nunca ficara tão acelerado como naquele momento. A aproximação a permitiu sentir o calor que aquele corpo transmitia e quase perdeu a cabeça de vez, ao imaginá-lo sobre o seu.
Ela não sabia bem o por que e também não se esforçou o suficiente para impedir de sussurrar:
- Olá. – E abriu um sorriso - Me encontre no jardim aos fundos, em dez minutos.
E antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela se levantou, e todos começaram a aplaudir furiosamente.—
FenrysDeuses, ela é esplêndida. Ele a olhava, enquanto ela sorria para os aplausos e gritos que vinham de sua apresentação. Fenrys não havia pensado, estava pouco ciente das pessoas ao redor, enquanto caminhava na direção daquela voz. E que voz. Nunca tinha ouvido alguém cantar daquele jeito antes. Sua música tomou conta do ambiente como se todos os seres existentes parassem tudo, apenas para ouvi-la.
Fenrys não deixou de notar que aquela aproximação a havia afetado, e pôde jurar que a feérica o tocaria, ali mesmo, na frente de todos. Porque era isso o que ele queria. Tocá-la. Era quase insuportável aquela vontade.
No momento em que ela começou a se dirigir para os fundos do palco, praticamente todos os machos e homens do lugar começaram a correr para a beira do mesmo, onde Fenrys estava, e gritar para chamar a atenção da cantora. Um instante depois, outro macho feérico subiu no palco pelos fundos e se aproximou da beirada, ao lado do piano.
- Obrigada pela noite incrível, senhoras e senhores – Disse o macho sorrindo lá de cima- Por favor, não esqueçam de dar suas generosas gorjetas. A senhorita Bittencourt ficará imensamente grata!
Fenrys olhou bem para o macho, enquanto o mesmo estendia um recipiente para pegar as moedas que lhe jogavam. Ele tinha a pele escura, olhos cor de mel, cabelos raspados nas laterais da cabeça e crespos na parte de cima, até cair na altura dos olhos. E era estranhamente familiar.
De repente, no meio daquela confusão, um homem agarrou o ombro de Fenrys e começou a tentar subir no palco, enquanto Karen ainda estava se afastando. O homem murmurava quase aos prantos para que ela o esperasse, pois queria ter a chance de tocá-la.
Ah, mas não vai mesmo!
Fenrys agarrou a camisa dele por trás e o trouxe de volta. Lançou-lhe um olhar feroz, mostrando os dentes. O homem arregalou os olhos e ergueu as mãos em rendição. Porém, no momento seguinte, outro macho subiu no palco e já estava indo até Karen, que permanecia sorridente e completamente alheia àquela loucura.
Fenrys já estava pronto para ir em direção ao desgraçado, quando o macho lá de cima o agarrou pelo pescoço com uma mão, e o jogou de volta para baixo. Mais dois tentaram fazer a mesma coisa, mas o macho conseguiu contê-los sem muito esforço, e Karen já tinha sumido de vista.
- Que merda você está fazendo? – Perguntou Vaughan, exasperado, quando Fenrys retornou para sua mesa – Você ficou maluco?
- Vou para o jardim nos fundos. – Avisou Fenrys, já se dirigindo para o local.
- Por quê? – Indagou, ainda mais confuso.
- Porque ela me convidou.
Deixando o amigo para trás, Fenrys se apressou, enquanto ainda podia ouvir os gritos das pessoas no bar.
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Um conto de Fenrys - uma fanfic de Trono de Vidro
FantasyEssa história é para aqueles que leram Trono de Vidro e torceram para que Fenrys tivesse sua história contada. É um presente meu para um dos personagens mais carismáticos e importantes para toda a saga. Fenrys merece uma história de amor, então cri...