15 - IV

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Ele estaciona o seu C3 vermelho marsala do lado oposto, ao ver a casa mais uma vez, os meus olhos se enchem de lágrimas. A casa fica duas ruas acima a do meu tio e as vezes eu passava ali para ter algo dos meus pais para apreciar. Tio Rodolfo tentou pegar a chave, mas não conseguiu, a justiça disse que só liberaria quando eu fosse maior. E agora aqui estou eu muito próximo a realizar o meu sonho. Vou entrar na casa e olhar canto por canto dela. Saímos para fora do carro e Nassur nos acompanha trancando-o com controle.

A casa está bem arrumada por fora, o tio Rodolfo deixou alguém para fazer a limpeza duas ou três vezes no mês. Ele gostava muito dos meus pais e Diogo, o meu pai fazia a irmã Amanda, a minha mãe feliz, segundo meu tio. Só que agora ninguém iria limpar, pois o meu tio que pagava não está vivo mais. Perdi os meus pais e agora o meu tio, quanto sofrimento. Ainda bem que encontrei minha irmã.

Ao me aproximar do muro e portão em grade de ferro com um dourado desbotado, fico impressionada com a residência. A casa de um tom verde escuro, quase cinza chumbo, com porta e janelas em vidro, a diferença é que a porta tem vidro fosco e as janelas transparentes. Ambas com molduras rosa claro puxado para o lilás. As plantas estão pouco cuidadas, mas aparenta com vida.

Desperto ao som da chave destrancando o portão e ando ao lado da minha irmã. Subimos a pequena escada de quatro degraus antes de alcançar a porta. De perto posso ver que a casa está toda acabada por fora, a tinta desbotada deixando o caule branco aparecer. Já a moldura da porta quase mostra o ferro que a contorna, a risca vertical e as duas horizontais também com a mesma aparência. Não dá para ver nada através do vidro o que tem lá dentro, da janela também não, pois uma cortina roxa cobre-a do lado de dentro.

— Está precisando de reformação — Lana comenta observando as paredes. — Pronta para ver o que nos aguardam? — vira-se para mim com a sobrancelha erguida.

— Com certeza! — balanço meu corpo alegre.

Meu coração acelerado, nem parece que estou perto de ver a casa que sempre almejei, acho que está acelerado por outro motivo. Talvez por lembrar que meus pais viveram nela. Antes de Lana abrir a porta por completo invado a casa com ansiedade, mas ela segura meu braço me impedindo de prosseguir.

— Espera! — diz e caminha até uma mesinha entre dois sofás de três lugares — Como eu previa está cheia de pó — olha o dedo que passou sobre a mesa. — Não dá para olhar as coisas hoje, infelizmente.

— Ah Lana! Você sabe quanto tempo aguardei por esse momento? — pergunto cruzando os braços.

É percebível pelo cheiro que a casa precisa mesmo ser lavada.

— Sei sim, mas não podemos. Vou procurar hoje por duas ou três domesticas para limpar amanhã e depois nós voltamos — me puxa para fora e tranca a porta novamente.

— Então está bem. Diz à elas para deixar as coisas como estão, no mesmo lugares. É bom saber como ficaram as coisas quando nossos pais morreram.

— Vou falar — responde com o olhar triste.

Para ela deve ser mais difícil falar dos nossos pais, pois a mesma tem lembrança deles, eu não.

— Vou avisar Thiago para me buscar — saco o celular da bolsa.

— Não precisa, vamos para minha casa, — segura meu braço — meus pais querem te conhecer.

O irmão dela nos aguarda perto do portão com as mãos no bolso.

— Hoje não Lana, marcamos outro dia, será melhor — falo olhando para o céu que começou a nublar de repente e um vento começa a soprar.

— Como a senhorita quiser — toca em meu ombro.

Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora