8 - III

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O pouco que eu sei de matemática, tento ajudá-las.
A parte que eu ajudo mesmo é escrever na cartolina.
Eu nunca fui uma ótima aluna e nem péssima. Sempre fiquei acima da média. Mas em matemática, a dificuldade era imensa.
A professora esforçava bastante para me ajudar. Eu não conversava muito, realmente o conteúdo não entrava na minha mente. Tinha que me explicar umas três vezes para compreender.

As meninas começam a discordar nos resultados de uma conta. Está me desconcentrando.

— Ei! Para vocês duas. Enquanto vocês discutem eu estou terminando aqui. — Falo encarando as duas.

A próxima conta a fazer na cartolina é a que elas estão fazendo.
As duas silenciam e levantam para olhar o trabalho.

— Uau! Que caligrafia linda! — Cléo diz e Mari concorda.

— Não exagera. — Faço careta.

As horas passam rápido. Empenho tanto em fazer o trabalho das meninas, que só percebo quando a Maria aparece na varanda com o lanche da tarde.

— Pronto. Os restos nós terminamos na sua casa. — Diz Mariana fechando o caderno e recolhendo a cartolina.

Nós retiramos os materiais que estão sobre a mesa. Comemos os biscoitos com suco de laranja gelado em silêncio.

— Olha quem está aqui. A gata da Cléo!

Uma voz masculina sai na direção da porteira. As meninas estão de frente, eu de costas.
Cléo sorri e sacode a cabeça de leve.
Olho para trás para ver quem e. Não parece a voz de Fernando.
Um garoto moreno de cabelos negros entra na varanda e vem em nossa direção.

— E aí Ga. Como vai? — Cléo pergunta quando ele aproxima.

Os olhos castanhos escuros dele não desgrudam do meu, desvio me sentindo desconfortável.

— Bem. Quem é essa gatinha?

Bufei ao escutar " gatinha", não gosto que me chame assim. Prefiro linda ou bonita.

— Essa é Alice. Ali..

Antes da Cléo terminar a frase o garoto me cumprimenta apresentando.

— Olá, sou Gabriel, primo da Mari. Muito prazer em conhecer você.

Ele dá um beijo no meu rosto, sem eu a menos esperar.

— Prazer. — Forço um sorriso.

Não gostei da atitude dele. O garoto corresponde com um sorriso malicioso. Safado. É igual o primo.

Mariana e Cléo entram na casa para guardar os materiais. Elas não queriam " atrapalhar " a minha conversa com o Gabriel, então me pediu para esperar.

Segundos depois Fernando chega e me cumprimenta com um beijo na bochecha.

— Já conheceu o Ga? — pergunta apontando para o primo.

— Sim. — Suficiente para saber que é igual você. Completo no meu subconsciente.

— O que achou dele? — um sorriso escapa dos lábios dele e do Gabriel.

— O que? Que vocês são iguais? — questiono cruzando os braços.

Fernando para de sorrir e parece surpreso.

— Na beleza? Com certeza. Nós somos lindos? Ou gatos? — indaga convencido.

Reviro os olhos.

— Estou falando na safadeza. — Afirmo.

Fernando finge ficar ofendido e Gabriel solta uma gargalhada irritante ao meu lado.

— Então Nando, você já conhecia essa beleza e não me disse nada? — Gabriel diz após deixar de gargalhar.

— Ela não é para o seu bico! — fala ríspido.

— E é para o seu? — Gabriel segura o riso.

— Ela não é para nenhum de vocês. — Cléo aparece me salvando dos dois imbecis.
— Somente de Thiago. — Isso não ajuda muito.

Os dois me olham incrédulos. Fernando pisca várias vezes e ergue uma sobrancelha.

— Vocês estão… — Começa a falar, mas eu corto.

— Não! Eu não sou de ninguém.

— Por enquanto. — Cléo diz baixo próximo ao meu ouvido. — Nós já estamos indo. O Renato já está chegando.

— Já? — Fernando pergunta sem tirar os olhos de mim.

— Faz horas que estamos aqui. E nós já terminamos o que era pra ser feito hoje. — Cléo fala andando até o Bob.

Volto a olhar para o Fernando e o mesmo me encara. Começo a estranhar esse olhar. Ele nunca me olhou desse jeito, é perturbador.
Ele caminhou até mim e disse baixo:

— Preciso conversar com você.

— Diz.

— Aqui não. A sós. — Fernando fala olhando ao redor.

Ele faz sinal para eu entrar na casa.

— Pode começar.
Falo quando estamos na sala. Mariana e Gabriel gargalhavam alto lá fora.

— Você está namorando mesmo com…

Não deixo ele terminar:

— Eu disse que não sou de ninguém. 

Ele fica em silêncio, e diz:

— E não tem nada entre vocês, algo assim.

— E para quê, você quer saber?

Não pergunto com estupidez, só não consigo entender qual é a preocupação dele.

— Nada. Talvez. Eu não sei. — Ele começa a falar sem jeito. No momento da procura de palavras para conversar comigo, eu percebo o que ele quer me dizer. — Eu quero conhecer você melhor. Sei que não passei uma boa aparência no primeiro dia, mas entende, eu quero recomeçar. Estou sentindo algo diferente por você, além da amizade. Você sabe o que eu quero dizer.

Antes mesmo dele terminar, um carro buzina, ouço a Cléo me chamar. Agradeço à ela mentalmente, por me salvar de uma confusão de sentimentos.
Eu não sinto nada pelo Fernando. Acho ele muito bonito, atraente, apenas isso. Mas ele não merece levar um "não" de cara.

— Já estão me chamando, preciso Ir.

Fujo rápido da sala sem dar respostas.

Atravessando a porta da sala para a varanda conseguir ouvir baixo a sua voz:.

— Eu quero a resposta.

O caminho todo no carro vou pensando nas palavras de Fernando.

Se eu dissesse não, ele ficaria magoado?
E se eu falasse que eu e Thiago estamos se pegando?

Esses e vários outros questionamentos rondam a minha mente confusa.
Não sei porque a confusão. Eu não sinto nada pelo Fernando. Eu gosto de Thiago, gosto pra valer.

Mas, e se ele não quiser nada sério comigo?

Thiago é muito atencioso comigo. Ele não gosta de me ver triste, preocupa bastante comigo. Ele é um homem sério, não vejo intenções contrárias da parte dele. Nem eu mesmo consigo entender essa minha desconfiança.

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Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora