2 - III

131 31 55
                                    

Parada diante da mesa, as duas meninas não tiram os olhos de mim. Elas me analisam da cabeça aos pés. Sinto incomadada com aquela situação. Eu tenho certeza que se amanhã perguntar à elas sobre mim, elas vão lembrar de tudo. Qual é a cor da minha roupa, o meu calçado, tudo o que eu uso.
A mais magra de pele morena clara está com o cabelo preto cacheado preso à um rabo de cavalo, enquanto a outra fizera um coque médio no seu cabelo castanho. Ambas tem os olhos castanho claro.

— Quem é ela? — as duas perguntam em uníssono.

Elas continuam me olhando. Antes que eu respondesse Thiago interfere:

— Uma menina que eu conheci.

Menina?

A mais magra esquiva olhando para o irmão, enquanto a outra parece se alegrar.

— É sua namorada Ti? — questiona.

Sinto o meu rosto queimar, talvez enibida por causa da pergunta. Thiago tranquilo sorri.

— Não, não é Cléo.

Ela parece ficar um pouco triste com a resposta.

— E quem é ela? Onde a conheceu? — A outra pergunta com ar de curiosidade.

Imaginei que teria esse tanto de questionamentos a meu respeito.

— É uma história um pouco longa, é melhor almoçar primeiro.  — Thiago fala com um olhar para mim ficar calma.

A menina magra me olha com desdém de cima a baixo.

— Não! Eu não vou comer na mesma mesa que uma desconhecida.

A sua irmã olha e a repreende com um olhar, ela apenas deu de ombros. Não importou se aquilo soou como uma má educação.

— Laissa! Depois o seu irmão… — Marta começa a falar.

— Pode deixar, eu conto.

Fiz um sinal com a mão para a mãe do Thiago parar.

— Ótimo. — A Laissa diz me fuzilando com os olhos.

— Bom, o seu irmão me encontrou na mata, nas terras da família dele. — Laissa abre a boca para protestar alguma coisa, antes de ser interrompida continuo: — Uma sucuri iria me devorar se ele não chegasse na hora e a matasse. Ele me salvou da morte. E...

Thiago não me deixa terminar e explica para as irmãs:

— E como ela não conhecia ninguém neste povoado trouxe ela para cá, ela não tinha para onde ir, então eu falei para ela ficar aqui.

Enquanto ele fala não tira os olhos de mim. Também não consigo desviar os meus do dele, até a Laissa manifestar:

— Você abrigou uma desconhecida? Como você pôde, e se ela fazer parte de... De alguma, algum grupo de bandidos. Você é louco? Mãe, pai vocês aceitaram? — olha incrédula para os pais.

Estou quase voltando para o quarto, essas palavras estão me ferindo. Thiago fica ao meu lado e começa a me defender. Fala que não viu fingimento nas minhas palavras, pois apesar de tudo eu iria morrer na boca da sucuri, e como eu poderia fazer parte de algum grupo de bandidos se ele não chegasse à tempo eu morreria?
A magrela me ofende e os pais precisa entrar no meio da conversa fazendo ela silenciar. Pelo menos o pai não deixou a filha me ofender.

— Pode parar de conversas, vamos almoçar. — Fala Marcelo.

Thiago senta ao meu lado e logo depois o Renato senta do outro lado, onde ele sempre sentava. Nos outros dias não me incomodava, mas hoje sinto bastante agoniada por causa do que aconteceu na quarto. Levanto assim que ele senta. Thiago também levanta preocupado.

— Está tudo bem?

Nego com a cabeça. Ele me olha e ergue a sobrancelhas em busca de uma resposta.

— Eu não vou sentar ao lado do Renato. Você pode sentar no meu lugar, por favor?

Ele aceita e troca de lugar sem entender.

— Nossa! Olha só, até escolher o lugar na mesa ela quer. Que garota folgada! — Laissa diz irritada.

Mais uma vez ela me olha com desdém. Encaro-a da mesma forma que ela me olha. Se acha que vou ficar quieta por estar na casa dela está muito enganada. Me considero bastante tranquila, mas também sou estressada quando fico irritada.

— Você não sabe de nada para falar isso! — respondo sentindo minha pulsação acelerar.

Os pais deles olham um para o outro e discordam. Eles sabiam que uma desconhecida iria revirar a casa de cabeça para baixo.

— Folgada! Você é uma folgada! Você não está na sua casa para você agir dessa maneira, sua coisa irritante!

Com essas palavras me irrito. Fico de pé e quase vou em cima dela. Me contive por não estar na minha casa. Mas jamais vou me rebaixar para ela. Quem ela pensa que é, para me chamar de coisa?

— Primeiro, meu nome é Alice e eu sou uma pessoa e não coisa! — corrijo rangendo os dentes. — E segundo, sabe por que eu não quero sentar ao lado do seu irmão? — pergunto e ela gesticula a sobrancelha desinteressada. — Porque hoje de manhã ele me assediou. Quando entrei no quarto onde estou dormindo, ele estava de toalha sentado na cama e começou falar coisas estúpidas para mim. Está satisfeita com a resposta? Se não é só perguntar para ele. — Termino furiosa.

Olho para Renato que me olha como se nada tivesse acontecido. Com a cara de cínico.
Que garoto insuportável!
Thiago cerra os punhos enquanto olha para o seu irmão, mas logo em seguida recompõe e senta. Me afasto da mesa pois não queria saber de mais discussão por hoje.

                                  

Uuhh! Mais um pequeno capítulo. Não deixe de votar.

Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora