6 - IV

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Acordo irritada. Sentindo calor debaixo do cobertor grosso. Os meus cabelos pretos parecia juba de um leão, só que em outra cor. Arrumo o mais rápido possível.
Penso em não tomar café na mesa.
No mesmo instante disperso esse pensamento não tem porque eu não tomar café com os Rezende.

— Bom dia! — saúdo a família.

Todos estam na mesa, exceto Thiago.

— Thiago levantou hoje cedo para trabalhar. — Marta fala, percebendo meu olhar percorrer à mesa procurando por ele.

Ai que vergonha, ela percebeu que procuro por ele.

Quero questiona porque hoje ele levantou cedo, mas desisto. É óbvio que ele está zangado comigo e não quer me ver. Ontem ele não conversou comigo quando voltamos do riacho. Ele só jantou conosco, porque não teve como inventar desculpas. E também eu seria enxerida demais se perguntasse.

Passo a parte da manhã terminando o primeiro livro de A Seleção. Estou tão ansiosa para continuar lendo. Porém sempre quando estou fazendo algo bom, alguém aparece para atrapalhar.

— Senhorita, quer dizer, Alice. —  Marcia corrige. — O almoço está pronto.

— Estou indo. — Digo querendo terminar a frase do livro.

Bufo de raiva quando ela sume atrás da porta.
Marco com a canetinha onde começaria a ler, fecho o livro e coloco em cima da mesinha.
Passando no corredor, depois de fechar a porta do quarto, esbarro em Renato que organiza a camiseta.

— Desculpa! — falamos a mesma palavra em uníssono.

— O que foi gata, não gostou de mim? — Renato pergunta no início dos degraus da escada.

— Não foi por meu querer, não te vi, eu estava fechando a porta.

— Não estou falando disso. — Ele diz me fazendo parar e encará-lo.

Fico confusa sem saber do que se trata.

— Hã!? É o quê então? — ergue a sobrancelha.

— Você nunca conversa comigo, sempre está de papinho com meu irmão, mas comigo zero. — Diz voltando a descer a escada, faço o mesmo.

— Talvez porque sua atitude não foi legal nos primeiros dias? — Falo encarando ele.

Renato sorri, balançando a cabeça para os lados, um passo na minha frente.

— Humm. Eu posso tentar ser diferente. — Diz parando e me observando. — Todo mundo erra. — Completa.

— Seremos apenas amigos. — Cruzo os braços balançando o meu corpo.

Renato sorri outra vez, faz careta e depois volta a caminhar.

— E eu disse para sermos outra coisa? — questiona.

— Você não disse nada. Se seria amigo ou não. Por isso sugeri. — Faço cara de tédio voltando a caminhar.

Ele dá de ombros.

— E se eu sugeri outra coisa. Você topa?

Não dá para ver seu rosto, mas eu imagino um sorriso safado formando em sua boca.

— Eu sinto muito, mas não posso. — Falo direto.

— Por quê? Está namorando Thiago?

Solta uma risada alta. Todos na mesa volta a atenção para nós. Dou graças à Deus, por Thiago não estar. Ainda bem que ninguém ouviu a pergunta, porque só a risada saiu alta.

Renato me encara em busca da resposta.
Apenas nego sorrindo. Ele arquea a sobrancelha e fez a mesma coisa.
Não acreditou em mim. Fico em silêncio. Não quero continuar com essa conversa na mesa.
Thiago chega na sala exalando cheiro de banho.
Dá um beijo na mãe dele e senta ao meu lado.

— Oi Alice.

— Oi.

Não consigo olhar nos olhos dele. Renato na minha frente, ergue a sobrancelha no momento em que respondo Thiago olhando para ele.
Fabiana nos serve a comida. No momento em que ela coloca o prato na minha frente, o cheiro da sardinha entra pelas minhas narinas, o meu estômago embrulha. Coloco a mão na boca e tampo o meu nariz para não sentir o cheiro.

— Desculpa Alice, eu tinha esquecido. Desculpa. Trocarei o seu prato. — Diz retirando o prato da minha frente e segue para a cozinha.

Um dia conversando com elas sobre as comidas favoritas e as detestáveis, eu contei que não gosto de sardinha. Nem ela só ou acompanhado com outra coisa.

— Você também não gosta de sardinha? — Cléo me pergunta.

— Não, você não gosta? — digo, mas ao mesmo tempo recoloco as palavras, ao ver o macarrão com sardinhas em seu prato. — Ah, você come sim! — sorrio.

— Eu amo! É Thiago que não gosta.

Olho para Thiago impressionada.

— Sério!?

— Sim. Ela tem o cheiro forte e enjoado. — Diz sorrindo.

Por mais alguns minutos eu perderia no sorriso dele. Hum, temos algo em comum.

— Thiago deixa de comer as melhores coisas. — Renato diz estreitando os olhos.

— Eu não diria isso, no caso da sardinha.

Sorrio para ele. Renato me devolve uma piscadela. Reviro os olhos, ele sorri.

Fabiana surge com outro prato.

— Aqui está.

Ela sorri, eu retribuo.

— Alice, depois você repassa para as criadas as coisas que você não gosta, ou tem alergias. — Marta diz ao lado do marido e do Renato.

— Ok.

Começo a comer. Agora com o prato sem o macarrão. Arroz, feijão, carne de porco grelhada, farofa de couve e salada de repolho. As meninas na cozinha, sabem o que fazem. Nunca deixa a desejar. Ótimo, que sou uma controladora, porque senão estaria com cem kilos.
Nossa e falando em kilos, preciso perder umas calorias. Faz bastante tempo que não frequento uma academia. Eu tenho que ficar em forma, mesmo que passe a maioria do tempo fazendo exercícios práticos no quarto.
Como previa, sou a última a terminar o almoço. Não sei se foi de propósito. Thiago volta até a sala de jantar, quando todos estão na sala.
Ele está sem blusa. Os seus músculos me chamam a atenção. Não é que nunca tivesse antes. Mas me desperta uma certa curiosidade.

— Thiago? — ele me olha. — Esse seu corpo, esses músculos. — Digo olhando para eles.
— Você ganha eles só com o trabalho ou em alguma outra coisa?

— Não. Eu vou na academia. — Diz sorrindo.

— Ah! Aqui tem academia? — levanto a sobrancelha.

— Não, embaixo da casa tem uma área acadêmica.

Concordo com a cabeça levemente.

Oh! É claro Alice! Um casarão desse, é óbvio que em alguma parte teria um lugar para exercitar.

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Sem Direção (Concluido)Onde histórias criam vida. Descubra agora