A frescura da noite podia ser comparada à frescura da água. A brisa fresca soprada pelo mar ao longe, o cheiro salgado, o cheiro de memória e de saudade. Para muitos, o mar cheira a sal; para Ajax, o mar cheira a nostalgia e infância.
Cheirava às viagens que fazia, junto do seu pai, para terras distantes, como Inazuma. Sim, cheirava a passeios tardios com os seus pais e irmãos pela praia, cheirava à caça de conchas e de búzios. Cheirava às vozes que ouvia nos búzios de pessoas que nunca jamais conhecera, de amores impossíveis, de guerreiros... De deuses. Cheirava também a brincadeiras na água, à caça de peixes - uma luta árdua -, a salpicos e aventuras. Cheirava a algas como perucas, conchas como óculos de sol e estrelas-do-mar como chapéu.
Infância. Nostalgia. Saudade.
Tudo isto gerava um misto de emoções em Ajax. Decidira matar-se a si mesmo, ao enterrar estas memórias, ao seguir como uma pessoa diferente, no dia em que Achelous partiu. Prometera a si vingar a morte de alguém tão glorioso como Achelous era; Senhor das águas - doces e salgadas -, Senhor da Arte Dramática, do teatro. Sim, Achelous fora quem criara a típica tragédia e comédia, a arte da representação - a arte que Tonia mais adorava e que fora proibida em Fontaine após a morte de seu pai.
Tudo o que lembrava Achelous, Ajax, ou melhor dizendo, Childe, fizera questão de apagar. Nos últimos anos, a Cidade alegre de Fontaine tornou-se morta, sem vida... Isto socialmente falando, porque a nível de cenário, as paisagens do local eram encantadoras. O centro de Fontaine era caracterizado pela relva¹ anil, com flores e árvores da cor ciana. Já nas zonas mais a norte, com clima mais frio, a vegetação não era tão colorida, mas mais neutra, com florestas de pinheiros densos resistentes ao frio. Mas, por toda Fontaine, existia vida, da mais pequena que fosse, tudo devido aos pequenos rios que fluiam do Rio Vitalis.
Debruçado sobre a sua varanda e com o olhar em Liyue, Childe recordava os momentos doces com o pai, recordava através daquela brisa salgada e das lágrimas igualmente salgadas. Não conseguia dormir, a sua mente não parava um segundo que fosse. Queria respostas, precisava de respostas e, quanto mais procurava por elas, mais fundo elas pareciam estar. O facto de saber que Zhongli podia saber de algo e não lhe contar diretamente era torturante e um gatilho para o seu estado ansioso. Por mais que tentasse ser compreensivo com o homem, a sua mente não conseguia acalmar...
Só de pensar que o homem que estivera ao lado de Fontaine nas últimas décadas, ou melhor, estivera a seu lado planeando um Golpe de Vingança contra o assassino do seu pai poderia ser alguém que não era, sufocava Tartaglia. Seria aquilo verdade? Porque Osial faria aquilo?
Tartaglia tomou a sua visão em mãos e observou-a atentamente. Lembrou-se então que o seu pai dissera que as Visões Hydro só eram correspondidas a pessoas que tinham um grande senso de proteção para com alguém ou alguma coisa. Perigosa, como a mente humana é, a mente de Childe começou a incuti-lo pensamentos negativos. Sentia-se um falhado, especialmente por ter uma Visão Hydro, sendo que nem ele fora capaz de proteger o seu próprio pai.
Apertando com força o objeto na mão e com um choro incessável, Tartaglia libertou toda a sua energia elemental, resultando numa onda hydro que percorreu os céus com um brilho fluorescente. Estava cansado de esperar, cansado de ser algo que não lhe cabia a ele... Cansado.
[...]
Do outro lado do palácio, Zhongli acabou despertando com outro pesadelo a respeito de Achelous. Odiava aquilo; nos últimos tempos, Achelous havia o perseguindo em sonhos, sonhos estranhos. Alguns faziam menção a tempos de paz, outros à Luta entre os dois, durante a Guerra dos Arcontes. Por mais que quisesse entender de onde aquilo tudo vinha, não conseguia, não tinha senso, uma vez que os dois Arcontes depois tornaram-se amigos.
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Incessantemente || Tartali - Zhongchi
Fanfic[ Tartali - Zhongchi ¦ PTEur ] Há quem diga que o amor é cego, mas neste caso... A vingança também cega. Indo muito mais além do que o amor, Tartaglia encontra-se sedento por vingança. É numa busca incessante por Morax que o Arconte Hydro conhece Z...