Incessantemente || Tartali - Zhongchi

(5) Coração Desgelado

O som do sapato de cristal a bater no chão de gelo era estridente, irritante e monótono, podia-se comparar até ao som de um estalactite de gelo encontrando o chão e se partindo. Como um metrônomo a marcar o ritmo, o seu passo marcava o tempo, o tempo de espera por Tartaglia. Se havia coisa que Tsaritsa odiava era esperar, o seu estado ansioso não lhe permitia ser paciente. Podia até ser calculista, mas agia sem perder tempo.

Enquanto andava, o seu cabelo longo dançava graciosamente com o seu vestido azul escuro justo. Os olhos dos seus mensageiros estavam fixos nela, distantes, sem entender a inquietação da Rainha. Era raro ver Lada manifestar qualquer tipo de sentimento, era uma pessoa neutra, embora maioritariamente fria. Foi então que, no parar do movimento que fazia, a mulher observou a Oitava Mensageira, Rosalyne, se acercar com um ruivo atrás de si: Arconte Hydro.

Os Mensageiros eram a elite de Tsaritsa. Podemos chamá-los de Corte, mas talvez ainda mais próximo que isso. A Arconte depositava uma confiança inigualável nos mesmos. Alguns deles tinham deixado o seu reino para servir Tsaritsa e bom exemplo disso era Kunikuzushi, proveniente de Inazuma que se recusava a adorar a sua Arconte, Ei.

Embora a expressão facial de Tsaritsa fosse séria e fria, como ela própria era, interiormente Lada estava feliz por ver o ruivo. A cada vez que o via, novas emoções eram desbloqueadas... Ou melhor dizendo, descongeladas, com o calor que Tartaglia deixava no peito da mulher.

Lada desceu os quatro degraus do seu altar de gelo, caminhando no tapete em azul marinho até Tartaglia. Parando quando os dois estavam suficientemente perto.

- Minha alteza... - Rosalyne curvou-se ligeiramente perante Tsaritsa - O Arconte Hydro chegou... Uns minutos mais cedo.

"Cedo? Porque pareceu um milénio até ele chegar?", pensou a mulher no seu inconsciente.

- Obrigado, Rosalyne - o Arconte aproximou-se da Rainha, ajoelhando-se e beijando a mão de Lada, que derretia sempre que Childe fazia aquilo - Majestade, obrigado por me conceber a honra de nos encontrarmos de novo.

- O Reino de Snezhnaya sempre estará de portas abertas a Fontaine - respondeu a platinada, seca e objetiva como todo o seu discurso sempre era. - Siga-me, por favor - Tartaglia ergueu-se, começando a seguir a mulher que andava elegantemente - Rosalyne, eu não quero ser perturbada. Deixa isso bem claro a qualquer pessoa que tentar entrar no meu escritório.

- Sim, minha alteza.

O som do sapato estava a dobrar agora, uma vez que Tartaglia caminhava atrás de si, sobre o piso de gelo. O ruivo tinha um sorriso simples que não conseguia esconder, ao contrário de Lada que sabia manipular perfeitamente as suas emoções na frente do público. Os dois não se atreveram a comunicar no corredor, para manter as aparências de apenas dois governantes, até chegarem ao escritório.

- Entre - ordenou Tsaritsa. Childe fez uma vénia e entrou primeiro esperando a arconte entrar logo de seguida e fechar a porta.

- Podemos acabar com o teatro agora? Sabes que odeio teatro - Childe fez questão de quebrar o silêncio frio entre os dois e foi respondido por um sorriso largo de Lada.

Com aquela resposta, Tartaglia não perdeu tempo em envolver a mulher num abraço, um abraço forte e apertado, que não demorou muito a ser respondido pela mesma. Lada sentiu-se a derreter com o calor de Childe, como tinha saudades do ruivo!

Tinham se passado cerca de dois meses desde a última vez que Tartaglia a visitou. A contrapartida trocaram algumas cartas, mas Tsaritsa não era boa com palavras, ao contrário de Childe que tinha lábia, que sabia como fazer um discurso, uma pessoa que estudou a retórica. As cartas de Childe estavam todas na primeira gaveta do móvel ao lado da sua cama, Tsaritsa fazia questão de lê-las vezes sem conta antes de dormir.