Incessantemente || Tartali - Zhongchi

(6) Refúgios da Dor

Era um monstro, sentia-se um. Era chamado de Justiceiro, mas, no fundo, não passava de uma grande fraude. Estava a falhar com as pessoas que mais amava e que mais mereciam respeito no mundo. Como é que podia, sequer, ser considerado um Arconte? Não se sentia nesse direito... Talvez qualquer outro dos seus irmãos fosse melhor que ele, talvez qualquer outro cidadão de Fontaine fosse melhor que ele, até mesmo Barbara!

Com os batimentos cardíacos a mil, com o sangue num misto de ansiedade e adrenalina, o cavalo andava a galope numa velocidade que correspondia ao que Tartaglia sentia. Sentia-se inútil por nem se quer ter a coragem de subir até ao quarto da sua amada e se despedir. É, já deu para ver que ele não era bom em cumprir promessas.

E isso foi gatilho para outros pensamentos intrusivos. E se ele não fosse capaz de cumprir a promessa que se fizera a si mesmo? A promessa de vingar a morte do pai e glorificar o nome do mesmo? E se perdesse contra Morax? Sabia perfeitamente bem as chances de isso acontecer, mas ainda assim, queria enfrentá-lo de cabeça erguida, mas sempre haveria um "se".

Chegando finalmente ao seu palácio, o homem pulou do cavalo o entregando a um dos seus soldados na entrada do palácio. Suspirou então e tentou controlar toda a tempestade que estava dentro de si.

- Escutai, soldados, estejais preparados para enfrentar o Reino Vizinho, o Reino de Liyue! - ordenou, com um voz firme, antagónica ao seu estado de espírito - Eu, Tartaglia, Arconte Hydro, declaro guerra contra Morax!

Um alvoroço começou e Childe fez questão de adentrar o seu lar e procurar por Teucer, seu irmão. Tinha que garantir que o rapaz ia para Snezhnaya e que ficaria a cuidado dos irmãos mais velhos. Tartaglia cometeu muitos erros ao longo da vida, mas não ia permitir que Teucer fosse afetado por uma decisão sua, Teucer era o seu bem mais precioso.

Para surpresa de Tartaglia, quando o mesmo adentrou o salão principal, o homem deu de caras com a última pessoa que esperava ver no local: Zhongli. Childe estagnou por completo com o fixar dos olhos de ambos. Lembrou-se então das promessas do homem, as promessas que também não foram cumpridas e do facto de Zhongli ter que estar em uma expedição em Liyue.

- Childe? - surpreendeu-se o homem de cabelos negros, aproximando-se preocupado com a expressão enigmática do Arconte - Está tudo bem? Precisa conversar? Parece... Estranho.

- O que fazes aqui? - respondeu, ríspido. Não conseguia controlar a sua forma de agir numa situação daquelas.

- Tinha lhe prometido que lhe daria respostas, mas a verdade é que não me lembrei delas ontem de manhã, visto que o sono pesava em mim, então... Não podia partir sem lhe contar, afinal... Prometi-lhe isto.

Oh. Afinal... Alguém ainda levava as promessas a sério naquele lugar. Afinal, alguém importava-se suficientemente com Childe para colocar os seus interesses de lado e priorizar as paranóias - como ele próprio gostava de apelidar - de um Arconte vingativo.

- O-o quê?

Zhongli avançou lentamente até o ruivo e então notou a sua respiração descompassada - Childe, você não está bem! Diga-me o que aconteceu em Snezhnaya, porque está assim?

- Alteza, licença - Ayato chegou, com delicadeza na voz - Os meus homens disseram que ordenou uma emboscada a Liyue e declarou Guerra.

Os olhos de Ajax não se moveram de Zhongli, nem os de Zhongli de Ajax. Tartaglia estava à espera de um sinal do homem, algum sinal que fosse denunciar que aquele talvez fosse Morax, como Osial tanto apontava, mas a serenidade no rosto do homem não denunciava nada. Já Zhongli, estava em desespero interno, como se os seus neurónios começassem a correr aos gritos de um lado ao outro no seu cérebro. Não podia deixar o seu povo ser atacado.