CAPÍTULO 02 | "Reencontros (in)desejáveis"

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HENRIQUE

Ela está de costas na penumbra do quarto, os cabelos presos em um coque e num roupão de cetim que não consigo distinguir a cor. Meu coração dispara, a boca fica seca e fecho a porta com cuidado, como um predador que toma todas as medidas para que sua presa não fuja. Continuo parado, avaliando de longe, sem acreditar que Karla está no meu quarto à minha espera e desta maneira. Ao som de fundo toca uma música que não consigo distinguir a letra, o som é baixo e distante, mas causa um leve incômodo.

— Como você entrou? — Abobado, minha pergunta sai despretensiosa, mas por dentro o tesão ferve meu corpo bem como as expectativas que alimento desde do ensino fundamental por ela.

— Pergunta errada, garotão! — Sua voz sai suave, brincando com os meus ouvidos e acendendo todas as fantasias que nutria enquanto me saciava sozinho, imaginando estar com ela.

Receoso que ela fuja, praticamente arrasto o pé em dois passos. O corpo em alerta, ansioso por sentir a temperatura do seu quando ela puxa algo dos cabelos, libertando-os. Caem longos e cheios como são, realçando sua presença ainda que de costas.

Caio na cama sentado, respirando com mais dificuldade e passando a mão atrás da nuca ao perceber que ela gira nos saltos com pompom que usa. Suas mãos vão ao fecho do roupão, mas ainda tenho dificuldade de ver seu rosto e me deixa mais ansioso para ter a visão dela completamente nua da cabeça aos pés. De repente, a fresta da luz que entra pela janela se intensifica, evidenciando sua pele e cabelos mais escuros... Diferentes do habitual, seus fios loiros e sedosos, estão castanhos e frisados, como se ela não penteasse há dias. Há dias? Isso não parece combinar com Karla.

— Chega disso! — Puxo sua mão em um impulso, trazendo sua dona para mim e me deparando com o rosto inconfundível de Dafne.

Um rock metálico explode no quarto enquanto me sento à cama com a mão no peito que sobe e desce. Há um metro de mim, ela está parada com um travesseiro nas mãos e o olhar felino. Seus cabelos brilham pela luz do sol que entra janela escancarada que certamente foi ela quem abriu. De sonho vou ao pesadelo, defrontando com Dafne que mais parece uma medusa devido ao estado que seu cabelo se encontra.

— Que merda é essa? — Quase não ouço a minha voz por causa do volume da música.

— Bom dia, loira do tchan! — Ela comenta com o travesseiro nas mãos. O que ela queria com isso? Tentar me matar? Melhor, se vingar por ontem.

— Você sabe que vai ter volta, não é? — Ela desliga o som quando termino de gritar.

— Eu que o diga. Só estou aquecendo! — Dafne sorri ao ver que esfrego a têmpora com a dor de cabeça que começa a surgir. — Mais um pouco e eu iria usar isso. — Arregalo os olhos quando joga o travesseiro contra mim.

— Você está muito louca se acha que vai sair barato. — Empurro o edredom e levanto da cama.

— Não precisa ficar com medo, eu não sujaria minhas mãos com uma porcaria — Ela debocha, mas seu sorriso morre e seu olhar desce para o meu pijama inferior.

— Gostou da vista ou perdeu algo aqui? — Não me intimido ao perceber que estou duro, elevando o tecido azul já que não visto nada além disso.

— Pequeno assim é a primeira vez. — Sua risada sai nervosa, mas duas bochechas estão coradas.

— Vai! Aproveita, Dafne! — Retiro a camisa e confiro o horário no celular, tratando a sua presença no quarto como uma mera infelicidade. — Aproveita e mata a sua curiosidade de ver um homem seminu, já que nós dois sabemos que uma oportunidade desta para você, só pagando... No meu caso, nem morto! — Gargalho e ela engole em seco, cruzando os braços.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora