CAPÍTULO 13 | "Um 'não' para a patricinha"

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DAFNE

João Lucas me assiste passar o cinto de segurança sem piscar. Assim que logo o carro, estremece em antecipação, meio nervoso e com o semblante arrependido, o que me diverte. Era bom vê-lo tão apreensivo, com receio de perder o controle, afinal, era muito mais comum que garotos assumissem o volante sem uma carteira de motorista nas mãos do que uma garota.

— Você tem certeza... — A frase fica presa na garganta quando preso um olhar de reprovação para o seu questionamento ridículo.

Dou partida calmamente, sentindo que me observa de soslaio, uma das mãos está na trava da porta e outra no cinto. Ele arregala os olhos quando faço a conversão na rua muito tranquila, ganhando uma velocidade segura até o sinaleiro que se encontra amarelo. Não digo nada, mas sorrio por dentro, contente que esteja assistindo meu desempenho, melhor do que isso, seria só ver a cara de Henrique no lugar de João Lucas. Balanço a cabeça de leve, achando desnecessária a comparação que fiz.

— Nada mal. — JL respira fundo num misto de aprovação e alívio.

— Já pode se soltar da porta. — Brinco e suas bochechas ficam vermelhas quando paro enquanto alguns pedestres passam na faixa. — Eu sou filha de mecânico, João Lucas, seria estranho se eu não dominasse essa máquina. — Dou-lhe uma piscadela, e ele meneia a cabeça à medida que o nervosismo esvai de sua linguagem corporal.

— A pintura desse carro iria valer uma nota. — Ri quando dirijo pela avenida.

João Lucas instrui para que estacione na praia do Leblon. Alguns quiosques estão movimentados e tanto vendedores ambulantes como homens oferecendo um som, seja de samba ou pagode, abordam a clientela. Jogo a chave para o dono do veículo enquanto ele avalia a forma como posicionei seu empreendimento, não duvido da minha capacidade e coloco as mãos na cintura, observando o lugar que ele sugeriu que parássemos para conversar.

— Quanto tempo não tinha essa vista, eu imagino que você também... — João Lucas se une a mim, ouvindo o som de pessoas e ondas do mar. — Rio de Janeiro é uma cidade mágica! Olha tudo isso que perdemos morando fora, Dafne! — Ouço suas palavras, envolvida pela brisa do mar, que é reconfortante, única. — Como a gente pôde ficar tanto tempo longe! — Ele olha para mim e capturo a ambiguidade em seu tom, mas faço-me de desentendida.

Passo por João Lucas na direção de uma cadeira, sentando-me nela assim que o garçom se apressa em recolher o cardápio para nos atender. JL sorri ao puxar seu assento, passando mãos pelos cabelos e guardando a chave do carro no bolso como um homem que tem controle sobre a própria, embora exale a áurea de um garoto de colegial.

— Não sabia que seu pai te deu um carro. — Comento, notando o designer do móvel e o fato de não estar sem placa. — Meus parabéns! Excelente escolha!

— Na verdade, eu comprei com a herança que recebi da minha mãe. — Ele pigarreia e percebo que seu olhar se torna nublado ao mencioná-la. — Agora eu não dependo do Volmir para mais nada! Minha mãe me deixou amparado! — Franzo o cenho pelo ressentimento em sua voz, quase algo semelhante à raiva.

Agradeço o garçom e encontro no cardápio o refúgio necessário para lidar com clima pesado que paira. Aquela era a primeira vez que falava abertamente com João Lucas passado os primeiros dias do luto, na sua volta às aulas, ele parecia meio fora de órbita e bastante fragilizado, agora mais recomposto, a perda parecia ter dado lugar a uma conduta enigmática. Talvez fosse impressão. Eu também havia perdido a minha mãe para entender que não era algo a ser digerido do noite para o dia.

— Como você está? — Arriscou perguntar e ele exaspera, forçando um sorriso, mas seus olhos estão frios.

— Como diria que está após todos esses anos sem a Bárbara? — Sinto-me pessoalmente atacada com sua pergunta no primeiro instante, mas respiro fundo, visualizando a real intenção por trás da pergunta tão conflitante que me faz. — Isso passa algum dia? Você acha que passou?

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora