CAPÍTULO 17 | "Território inimigo"

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JOÃO LUCAS

Recolho as chaves do carro e estico meu colete preto, conferindo meu visual antes de partir em direção à festa de Karla. Era estranho não ter minha mãe para me cobrar acerca do horário e nem pedir que tomasse cuidado, embora geralmente, eu odiasse cobranças e guardasse nesse fato meu maior arrependimento...

— João Lucas, eu ainda sou sua mãe! Não importa se você tem quase dezesseis anos, é ainda do meu do dinheiro que vive! — Zara desceu as escadas atrás de mim mesmo estando de toalha, revoltada que eu tivesse pego a chave do carro da mulher que ela dizia ser sua... Companheira? Aquilo era um absurdo, as diziam se amar, elas beijavam na boca... Era repugnante que meu tivesse sido trocado por isso, por outra mulher!

— Já estou farto...

— Você não gosta de limites... Eu já tentei te entender, te levar ao psicólogo, ao psiquiatra, a milhares de profissionais, mas você não entende! Não quer! Mas o meu dinheiro você entende, você quer, usufrui, mas se esquece de onde vem, que sou sua mãe, que te amo, que me deve respeito dentro desta casa e que é meu sobrenome que herdou!

Esfreguei a têmpora com raiva e vi a maldita mulher que ela dormia junto passar por nós com o jornal da mão, em silêncio como sempre ao me ver em pé de guerra com minha mãe dentro de casa.

— Graças a Deus que foi só o sobrenome! Não é essa doença que você chama de amor com essa mulher! — Minha mãe me olhou mortificada e Branca estagnou, fitando-me impassível, mas não me detive: — E quanto ao seu dinheiro, não preciso dele, vou morar com meu pai! — Avancei pelas escadas e ela segurou meu braço, os olhos cheios de vasos e o semblante afetado demais.

— Você vai ficar aqui...

Puxei o braço com violência e aquela mulher se pôs ao lado da minha mãe, eu vi que ela quis intervir, mas se controlou.

— O seu dinheiro, eu espero você morrer pra eu herdar! — Sorrio ácido e lágrimas deslizaram pelos seus olhos.

Abro os olhos como se fossem chamas ao fugir das malditas lembranças que construi, das palavras mais amaldiçoadas que já proferi na vida e o quanto elas significavam agora que Zara havia falecido e me deixado uma gorda pensão para mim, feito uma profecia, mas não havia felicidade alguma nisso. Enterrar minha mãe foi a coisa mais difícil que já fui obrigado a fazer na minha vida, as horas do velório pareciam intermináveis e quis me trancar com ela naquele caixão. Sua bondade e paciência nunca pareceram tão claras, e ver Branca chorar, triplicou minha culpa e trincou meu orgulho de assumir que estava errado.

Às vésperas do meu aniversário de dezesseis anos, mudei para a casa do meu pai, encantado pela liberdade que me oferecia e por seu jeito de me tratar como um homem feito... Ele estava viajando pelo Brasil, seus negócios estavam crescendo e sua bela esposa o acompanhou. Longe do Rio de Janeiro e de Niterói, onde minha mãe morava, fiquei em Curitiba por uma temporada e me aproximei de Perla. Minha madrasta desde o início se mostrou simpática e solícita, sua compreensão massageava meus ânimos ansiosos e suas palavras pareciam exatas ao que queria ouvir, além disso, sua beleza e juventude mexiam com meus hormônios que estavam começando a descobrir o que era sexo.

Em uma noite que meu pai viajou, Perla abriu uma garrafa de vinho e me convidou para beber com ela, entusiasmado com o álcool, mal percebi quando já tínhamos ingerido quase a garrafa toda.... E rolado um clima. Seus olhares e carícias eram algo constantes, e embora fingisse não notar, me excitava pensar na esposa do meu pai. Naquela noite nós transamos e ela não pareceu arrependida de ir para cama com seu enteado menor de idade. Minha primeira atitude depois de recobrar o fôlego na cama da minha madrasta e meu pai, foi de pedir milhares desculpas à ela e me sentir um traidor, contudo, Perla apenas pediu que ficasse tranquilo e beijou meus lábios, saindo da cama nua em direção ao banheiro.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora