CAPITULO 11 | "A flecha do cupido"

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HENRIQUE

A imagem de Karla descendo no carro sem olhar para trás, perseguiu minha memória até o amanhecer. Enquanto terminava de me vestir, pensava nas curvas de suas pernas e na muito provável maciez da sua pele enquanto controlava minhas mãos no volante para não cair na tentação. A verdade é que eu adoraria tocá-las, mas não havia como se nem ao menos pelos tantos elogios que entregava a ela, essa se interessava pelo meu papo. Dirigi devagar a fim de ganhar tempo, mas em vez disso me favorecer, apenas fez com que Karla revirasse os olhos e perguntasse se eu ainda estava aprendendo a lidar com o trânsito. O resto do percurso foi previsível, um silêncio que insistia em ecoar na minha cabeça o quão imbecil era para assumir a situação.

Cheguei em casa e todos já haviam se recolhido, o que me permitiu relaxar, pois me poupou das possíveis perguntas da minha mãe que só me lembraria do quão incompetente sou para conquistar uma garota como a Karla. Sentado no sofá, passei as mãos pelos cabelos e me senti frustrado por não conseguir compreender o que Miguel tinha além de mim para que ela o quisesse como jamais me quis desde o fundamental, até mesmo o carro que achei que fosse surpreendê-la, não foi o bastante. Assim como em todos os seus aniversários que juntava minha mesada para presenteá-la e ela apenas bufava enfadada, desta vez, nem me olhar no rosto, ela olhou. À medida que essa sua conduta comigo, sempre se mostrou muito acessível para o playboy da escola, que às vezes a ignorava ou lhe dava patadas sem justificativa.

A sala antes cheia, agora contava apenas com as vozes dos meus pensamentos irritados, e que trouxeram Dafne à memória. Ainda podia ver Tempestade pulando em mim e o semblante zangado de sua tutora, aquilo me fez sorrir de forma involuntária. Apreciava o fato de assisti-la irritada mais do que vê-la chorando ou bancando a muleta para João Lucas, muito embora, já me preparasse para a palestra da minha mãe daria devido ao fato da cachorrinha ter retornado para esta casa. No entanto, isso não me preocupava, a ideia de ter a machinho grata a mim era, de alguma forma íntima, tentador. Diferente de Karla que me despertava paixão, Dafne provocava algo muito mais eletrizante, fazendo-me desejar tanto repelir sua presença quanto confrontar sua existência, como se eu fosse incapaz de fingir indiferença em relação a ela. A confusão que sentia ao pensar nisso me deixava incomodado, principalmente depois da transa que tivemos na pousada... Às vezes questionava se ela também pensava sobre isso, mas logo recordava que ela desejou que tivesse sido JL em vez de mim possuindo seu corpo, então expulsava essas lembranças para longe.

Desço as escadas e vou direto para o escrito do meu pai, apesar do aroma de café que vem da cozinha. A casa ainda está silenciosa, embora a porta da sala de Lorenzo esteja entreaberta, apenas toco a madeira branca e adentro o ambiente quando ele levanta os olhos para cima da tela computador sob os óculos de grau que usa para ler. Passo a mão pelos cabelos ajeitando no momento que ele faz um sinal com o dedo para que aguente enquanto clica no mouse, sobre a mesa há fotografias da nossa família e uma pasta que certamente meu pai quer que eu avalie. Com o fim das provas no colégio e o encerramento das aulas, já me via dentro da faculdade de administração enquanto era inserido aos poucos na empresa de tecelagem da família.

— Bom dia, filho! — Ele retira os óculos e sorri, apertando um último clique no mouse.

— Bom dia, pai!

Ele me avalia, o semblante enigmático no momento em que apoio as mãos na cabeceira da cadeira.

— E então, deixou a filha do Teblas em casa ontem? — Sua sobrancelha se eleva e sei que não quer saber se Karla chegou bem.

— Sim. — Pigarreio desconfortável, não está a fim de falar sobre os tantos "nãos" que já tomei dela. — Não tinha muito trânsito.

— Que bom! — Seu tom é descontraído ao dar o assunto por encerrado, e ele mexe em alguns papéis sobre a mesa. — Hoje eu recebi um e-mail com a nota fiscal da hospedagem na pousada em Búzios, você esteve no mesmo quarto que a Dafne, não foi? — Ele me olha de forma fixa, sua expressão não é acusatória, mas séria e isso me intimida.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora