CAPÍTULO 20 | "A garota que você não quis"

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HENRIQUE

As luzes do salão ofuscam minha visão enquanto tento caminhar em passos incertos à procura de Dafne. Meu maxilar dói pelo soco que levei à medida que o efeito da adrenalina vai passando, deixando-me mais ansioso e irritado com comentários e risadinhas que parecem longe de terminar depois do espetáculo que protagonizei. Passo as mãos pelos cabelos e noto que um garçom me olha curioso enquanto minha irmã Déborah e prima Lorena acabam se envolvendo em uma conversa com alguém trajando a fantasia do Pânico, logo aproveito essa distração para atravessar a pista de dança sem ser impedido.

Dispenso o manobrista e avanço em direção ao meu carro, afoito depois de descrever as características de Dafne e o homem me informar que ela havia deixado o espaço a pé. Meu coração acelera enquanto assumo a direção, dando ré em alta velocidade e pensando no risco que a machinho estaria se submetendo nesse horário sozinha. De repente, a raiva por João Lucas e histeria de Karla, cedem em completo lugar à preocupação que tenho por Dafne, no amor tão evidente que sinto por ela e que minha estupidez não me permitiu ver.

— Caralho!

Praguejo quando o celular toca no banco de passageiro, me despertando no silêncio da estrada meio morta e que dirijo com faróis altos. Apanho o aparelho e mantenho uma das mãos no volante, atendendo sem visualizar o nome na tela e escutando a voz do meu pai, tensa.

— Filho, estou indo para Petrópolis. — Ele mal espera que termine de responder ao telefone, sua inquietação é perceptível, mesmo eu estando afundado na minha.

Freio com brusquidão o veículo quando um trovão estronda no céu, anunciando a iminência da vinda de uma forte chuva. Ergo os olhos pelo parabrisa e torno a ligar o carro quando ele apaga, escutando meu pai chamar no outro lado da linha.

— Por que? — Retomo a direção numa velocidade reduzida.

Meu pai suspira pesadamente do outro lado da linha, parecendo buscar a postura mais serena possível antes de explicar.

— Vou atrás de sua mãe. Devo voltar amanhã... Cuide da sua irmã. — Ele fica em silêncio por longo espaço de tempo.

Franzo o cenho e volto a olhar a pista, incomodado com o sumiço de Dafne... Ainda com a ligação em curso, minha mente processa a possibilidade dela ter voltado para a festa ou ter aceitado a carona de alguém. As duas hipóteses me perturbam e então percebo que a chamada ainda está em andamento, chamo por meu pai algumas vezes e e demora alguns segundos até responder com a mesma paciência.

— Filho, eu tenho que ir. Traga sua irmã e prima para casa, está bem? — Lorenzo suspira mais uma vez. — Eu amo vocês!

Ele desliga e olho para a tela, confuso com a sua atitude. Jogo o aparelho no porta luvas e volto as duas mãos no volante, trazendo minha atenção à estrada e aumentando a velocidade. Após dois minutos avisto alguém caminhando na pista e identifico uma das asas do cupido quebrada... Era a Dafne. Meu coração dispara ao ter certeza e paro o carro depressa quando começa a pingar.

— Dafne! — Grito e gotas grossas d'água molham minha roupa, mas não me intimido ao caminhar na sua direção.

A machinho vira-se para mim assustada e percebo a distância seu rosto banhado em lágrimas. Meu coração fica em frangalhos e minhas mãos ansiosas para trazê-la contra meu peito enquanto bato a porra do carro com forma e a chuva penetra nas minhas vestes. Ela me fita confusa e, mesmo sob a fragilidade, exala uma feminilidade vestida naquelas meia calças. Balanço a cabeça buscando foco, mas Dafne recua dois passos... Engulo em seco com a ideia de que ela possa rejeitar minha presença, podando minha necessidade de chegar até ela como tanto quero.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01 - EM MAIO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora