CAPÍTULO 16 | "O que eu não posso ter"

412 47 141
                                    


DAFNE

Corro pelas escadas em direção aos chamados de Frida no andar de baixo. Curiosa, ela espia os papéis colados no pacote endereçado a mim, suas linhas de pressão estreitam ao tentar ler as informações e se suavizam ao notar minha presença. Ofegante, abro um sorriso, agradecendo pelo favor e caminho de volta para o meu quarto, só que desta vez, tão entretida quanto confusa pela encomenda surpresa que recebi.

Com dificuldade, fecho a porta do quarto e encontro o smoking posto sobre cama, feito de Frida depois de me dar uma palestra sobre a importância de eu ir vestida de forma mais, "caprichosa", segundo ela. Ouvi suas palavras guardando um sorriso, imaginando a cara de sua patroa ao ser obrigada a sentar na mesma mesa que a minha, estando vestida desse modo e na formatura do seu próprio filho mais velho. Depois do que aconteceu na noite de jantar, ninguém mais tocou no assunto e Odeth sequer fingiu arrependimento por ter me exposto daquela maneira, nem quando me viu presenteado Frida com o vestido que comprei... A sensação de ser indesejada foi inevitável, não por Frida ser a funcionária da família, mas por saber que a mulher que foi a melhor amiga da minha mãe havia me enganado com algo tão vil como um amigo oculto.

Retiro a embalagem do embrulho e encontro duas caixinhas, uma maior que outra. Com o cesto de lixo sem saco, levanto-me da cama e sai do quarto, encontrando Henrique entrando no seu com um copo de suco nas mãos. Nossos olhares se encontram brevemente e noto o mesmo ressentimento nos dele como vi nos últimos dois dias. Num voto de silêncio irritante a loira do tchan se manteve todas as vezes em que nos víamos, no início procurei ignorar, mas depois isso foi me incomodando e me questionei se isso tinha a ver com o beijo que João Lucas e eu trocamos no corredor. No fundo, senti-me culpada e até pensei que tivesse desrespeitado o momento de sua família, pois Déborah não estava bem e se manteve angustiada enquanto não ouviu que Cauã havia sido liberado por ser réu primário e pagamento de fiança.

— Oi, Henrique. — Cumprimento sem conseguir me conter e ele apenas articula a maldita boca habilidosa e gira a maçaneta de sua porta. — Qual é o seu problema comigo?

Engulo em seco quando o pivete parece desistir de adentrar seu quarto e esfrega a têmpora ao me encarar. Sua família havia estado num conflito grande demais nos últimos, em especial sua irmã, que embora não dissesse, era possível ver que algo a perturbava muito mais do que a prisão do seu amigo de escola.

— Nenhum, por que haveria? — Eleva a sobrancelha, perguntando com calma.

— Não sei... — Dou de ombros na defensiva. — Você tem se comportado de maneira estranha desde que me viu... — Gesticulo sem jeito, irritando-me com meu próprio nervosismo. — Com o João Lucas, você parece que tem me evitado.

Henrique me olha de forma enigmática e sorri para si mesmo como se eu tivesse acabado de dizer uma grande besteira. De repente, sinto-me ridícula por cogitar que sua atitude tenha a ver com isso, afinal, me ignorar, era o mínimo que um inimigo faria.

— Estava preocupado com a minha irmã, Dafne. — Replica como se eu fosse uma criança errante. — Não me importo se você se agarra ou não com o João Lucas, isso é um problema de vocês! Não estando no corredor da minha casa e em plena noite de natal, para mim é indiferente!

Pisco atônita e sinto uma fisgada em meu ego que não deveria ocorrer, mas a pausa que ele dá é breve antes de prosseguir:

— Sinceramente, antes achava que você mendigava atrás dele, mas agora até acho que formam um casal bacana. — Engulo em seco ao vê-lo dizer com tanta serenidade tais palavras e isso me alfineta.

— Bacana? — A indignação quase escapa pelos meus lábios, e Henrique assente.

— Você não está me dando uma força com a Karla? Nada mais justo do que eu fazer o mesmo por você e João Lucas. — Ele sorri, mas seus olhos se mantêm gélidos. — A propósito, vou me arrumar, pois quero impressioná-la esta noite.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01 - EM MAIO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora