DAFNE
As pintinhas nas minhas bochechas não estavam uniformes, mas também não era serviço da empregada me arrumar para a festa junina daquele ano. Papai havia viajado dias antes e mamãe no dia anterior, ela estava nervosa enquanto preparava uma bolsa com poucas roupas sem justificativa alguma, eu pude sentir isso ainda que tivesse beijado a minha testa e dito que me amava.
A casa sem meus pais estava vazia, todos pareciam estranhos, a empregada me observava e sorria para mim ao colocar a mesa do café da manhã, mesmo depois de eu ter derramado o suco na roupa. Fui para a escola suja mesmo, um pouco incomodada que Edileuza insistisse em segurar minha mão apesar de já ter falado três vezes que eu tinha feito 12 anos há dois meses. Acenei para ela, criando coragem para encontrar João Lucas depois de ter entregue a carta de amor que escrevi, tudo encorajado por Fany, minha melhor amiga.
A escola estava toda decorada, cheias de bandeirolas de variadas cores, uma fogueira de mentira no pátio, algumas barracas sendo montadas para as tantas programações que aconteceriam naquele noite no mesmo dia... Os pais de todos os meus amigos estariam lá, exceto os meus. Uma galera no pátio estava no clima de festa apesar de ainda termos cinco aulas pela frente pela manhã.
Quando cheguei à sala, Fany estava bem bonita com duas tranças em cada lado e brilho nas bochechas. Ela adorava se arrumar e já havia me dito ontem pelo Facebook que seu vestido havia chegado em uma caixa decorada, foi nesse mesmo papo que descobri que foi criada uma página para mim. Mais de 50 pessoas haviam curtido, haviam duas fotos minhas em ângulos péssimos e legendas debochando da ponta do meu nariz e dentes, que eu parecia a Uma dos sete monstrinhos, tinha até comparação do meu boné. Henrique! Não tinha outro idiota que faria isso, ele estava se vingando por eu ter feito ele correr se cueca pelo corredor da escola por medo de um sapo no banheiro. Fracote... De cueca do Tom e Jerry. Mas iria ter troco.
Esse garoto era um imbecil e foi ele que começou tudo no meu aniversário de sete anos. Ele não tinha nada que ser convidado, mas minha mãe era best da enjoada da mãe dele, então aquele moleque tentou apagar minhas velhinhas na hora do parabéns depois de já ter me dado três beliscões no pula-pula, cansada de ser trouxa, bati no rosto dele enquanto era fotografada e Odeth entrou no meio. Lembro da minha mãe tentando resolver a situação, mas Henrique e eu nos atracamos tão rápido puxando os cabelos um do outro e mal vimos quando o desastre aconteceu: meu bolo de dois andares, todo de chantilly azul, foi ao chão. Tudo por culpa dele... Loira do tchan.
O sinal tocou depressa, Fany estava tensa, disse que João Lucas queria falar comigo no primeiro andar da escola e eu tremi por inteiro. Senti vontade de vomitar de nervoso, gostava dele desde a segunda série e só sabia pensar no topete roxo que ele assumiu desde nos últimos meses, em como ele tinha me ajudado com a tabuada e até elogiado um dos meus bonés. Desci as escadas tensa, focava nas palavras da minha amiga, já quase acreditando que JL me curtia também, que talvez ele fosse me puxar para dançar quadrilha já que todos os garotos fugiram de mim. Meu Deus, e se ele me beijasse? Eu não sabia beijar! Ele iria saber que eu era boca virgem! Havia treinado com o copo e gelo, Fany jurava que era a mesma coisa, eu já era expert nisso. Ia dar certo!
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O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01
Roman d'amourDafne Auth Costa é uma garota de estilo tomboy que acabou de completar 17 anos, órfã de mãe e com um pai ausente, ela faz um inferno na vida de sua madrasta. A convivência que já era difícil, se torna insustentável quando a jovem cede a casa da famí...