CAPÍTULO 19 | "O erro do cupido"

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DAFNE

Agradeço a recepcionista do hotel e analiso o cartão de acesso em dourado do apartamento que Stefany está em Copacabana. Enquanto o elevador de vidro sobe até o décimo primeiro andar, aproveito a vista privilegiada e me impressiono com a decoração sofisticada do lugar que minha amiga reservou para se arrumar em sua noite de aniversário de dezoito anos... Por todos os lados, funcionários circulam e empurram carrinhos com a bagagem de seus clientes, dispondo de um hall luxuoso e com direito a bar e cafetaria.

Chego ao apartamento 203 e ajeito meu traje de tomate para a festa à fantasia que aconteceria mais tarde. Carregando na mesma mão a credencial e o presente da minha melhor amiga, faço menção de inseri-la na porta e um funcionário a abre com um sorriso largo. Adentro o espaço e encontro um quarto extenso, o qual desfruta de uma cama king com bastantes forros em cobre que decerto são dos melhores tecidos.

— A senhorita Stefany já vem. Gostaria de uma água, suco ou café? — Uma mulher com cabelos em um coque e jalequinho inclina o corpo levemente na minha direção.

Nego com a cabeça e meus olhos vagam pelo espaço, observando que uma moça esteriliza escovas de cabelo e a outra se desfaz das luvas que usava. Fico meio zonza com a movimentação e avisto a fantasia de Cleópatra que Fany irá usar esta noite... Ela iria fazer dessa noite um espetáculo pelo pouco que soube e, quem sabe em meus melhores sonhos, esse evento pudesse até fazer cair no esquecimento o dia do desfile.

Depois do episódio fatídico que me expus, foi inevitável não virar notícia em algumas revistas, tida como a garota que vestiu a obra destruída de Odeth Prado. O brilho das pérolas caindo no chão ainda era recente na minha memória, os flashes, comentários e alvoroço também, mas mais do que isso, era o fato de Henrique ter me socorrido no meio da passarela. Como um anjo, ele me arrebatou e me trouxe para uma tormenta maior: para a certeza de que eu havia me apaixonado por ele. Eu era só a cupido, a garota enjeitada pelo pai, que nada parecia com Karla e que era odiada pela mãe de Henrique. Após o desfile então, esse sentimento parecia ter aumentado, pois mal me olhava no rosto, provavelmente me culpando pelo o que aconteceu.

— Você veio! — Fany surge em um roupão felpudo vermelho e cheia de bobes no cabelo. — Estava te esperando!

Minha amiga se afasta após um abraço apertado e suas bochechas com blush laranja, agora estão mais coradas pela emoção. Mais bonita do que de costume, Fany está bem maquiada e um pouco diferente com olhos tão marcados em azul e preto como a cultura egípcia exige.

— Eu trouxe para você! Feliz aniversário! — Estendo a caixinha com uma fita branca para ela e ela ergue as sobrancelhas, agarrando o presente e o abrindo de depressa.

De dentro da caixinha preta de veludo, Fany retira uma corrente delicada de ouro e com a inicial de seu nome. Com uma das mãos ela segura o objeto a frente do rosto, o balançando levemente, e seus olhos castanhos marcados pelo lápis lacrimejam pela emoção. Ela sorri aos poucos e solta o ar tentando se conter, mas deixa escapar um gritinho ao me abraçar de rompante.

— Amiga, eu amei! — Ela se afasta segurando com força a joia.

— Que bom que acertei! — Digo meio desconcertada ao perceber que os funcionários nos assistem.

Fico contagiada com a felicidade da minha amiga... Stefany havia sido um porto-seguro ao longo da minha vida escolar, nunca participando de rodinhas que excluíam a mim ou outras pessoas mesmo sendo bastante querida todos. Sua extroversão e jeito gentil com todos, envolviam as pessoas e até chegavam a pensar que minha mãe fosse a sua, afinal, eu não havia puxado nem um pouco da simpatia de Bárbara.

— É lindo! — Ela abana os olhos, reprimindo as lágrimas que podem desmanchar sua maquiagem mesmo sendo à prova da d'água.

Acabo rindo ao vê-la vibrar colocando a corrente e seus bobes se mantêm firmes mesmo com tanta agitação. Embora não fosse apegada a joias, eu havia aprendido a admirar peças ao contemplar por tantos anos minha mãe se enfeitar na penteadeira, além disso, desde pequena via ahe Fany nunca andava sem alguma pulseira ou par de brincos, para era como andar sem fazer sua higiene pessoal.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01 - EM MAIO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora