DAFNE
Uma galinha saltitante anda por um terreiro, ela é enorme, procurando por milho no quintal, balança o pescoço esguio de um lado para o outro. Assisto-a de longe, meio incomodada à medida que se aproxima. Seus olhos são enormes e uma cristã bastante vermelha, longa demais para uma fêmea e o som que emite é irritante, procuro me afastar até que perceba que estou presa em um cercado junto com ela.
— Merda! — Forço a porteira, impaciente.
A galinha balança o pescoço me observando, aproximando e afundando um pouco as patas no barro e cacarejando cada vez mais alto enquanto me fita como se eu fosse um milho fresco. Os cantinhos dos seus olhos são quase difíceis de ver pelo tamanho do bico que chama a minha atenção. Encolhi os pés com medo de que me ataque e praguejo contra o momento em que coloquei nesse lugar e não consigo lembrar.
— Sai pra lá! — Tento espantá-la, mas ela só cacareja mais e mais alto. — Caramba! — Engulo em seco cada vez mais tensa, principalmente quanto ela salta e faz menção de me bicar. — Droga!!! — Fecho os olhos estremecendo na esperança que ela vá embora ao sentir um peso horrível sobre o meu quadril.
Tremo por inteiro, abrindo os olhos devagar percebendo que o cenário e a galinha sumiram, embora o som continue próximo e cada vez mais alto. A pele do meu rosto está amassada contra o travesseiro e um pouco de baba escorre no canto da minha boca, ressecando em parte a pele e fazendo-me tossir ao levantar a cabeça no segundo em que percebo que estava sonhando. O som do cacarejo, o qual se fundiu ao sonho, vem do alarme do celular que vibra o suficiente para fazer o aparelho deslizar pela mesa de cabeceira. Ainda grogue, apanho o telefone vendo que são cinco da manhã e que não desativei o barulho para o fim de semana, meu quadril ainda dói e giro o pescoço devagar, percebendo que uma perna está sobre meu corpo.
Um bafejo quente sopra contra minha nuca, indo e vindo, fazendo-me recobrar os sentidos e me dar conta de que esse infeliz está dormindo em cima de mim. Henrique. Empurro a sua perna com brusquidão, mas ele apenas muda a posição coçando o rosto e ficando de barriga para cima, sem fazer um movimento a mais e respirando com profunda tranquilidade. Loira do tchan. Fico irritada que esse moleque pareça quase morto dormindo. Como dorme... E a mim também. Nem senti como boa embolamos no meio da noite, resultando nesse pesadelo estúpido, mas quem puders dormindo ao lado desse pivete. Observo seu rosto petulante e os cabelos loiros despenteados que caem sobre a testa, a expressão serena me tenta a quase aproveitar a oportunidade para lhe dar outra bofetada que merece, mas sou hesito em me aproximar dele ao perceber um volume na região das calças. Ele está duro. Desvio olhar, apoiando os cotovelos na cama e olhando para a janela fechada, constrangida que ele esteja nesse estado perto de mim e sobre uma cama. Evito olhar, mas ele não muda de posição e meus olhos me traem.
— Homens não se dão ao respeito mesmo. — Resmungo, entreolhando do seu rosto para o seu pau bastante acordado em relação ao dono.
Henrique provoca um formato de triângulo na roupa, mas não permite ver a grossura do pilar que sustenta isso. Sinto meu rosto queimar ao perceber a análise que faço disso e verifico mais uma vez se ele está acordado. E se Henrique estiver acordado e me observando? Ele não seria capaz. Engulo seco, olhando mais uma vez para o seu pau duro, notando que está bem marcado o arredondado na ponta. Ele deve estar sem cueca. Pisco consternada e os bicos os meus seios ficam intumescidos, fazendo-me sentir culpa no exato momento por aquela curiosidade. O que eu estou pensando? Sento à cama e passo a mão em volta do pescoço, procurando aliviar a tensão que me nego a denominar de outra forma.
Vou em direção ao banheiro e olho para Henrique mais uma vez, puxando minha camisa para baixo e me sentindo estranha, culpada por não estar usando sutiã ou ter observado seu pau. Logo, sinto raiva dele, nervoso por estarmos no mesmo quarto e eu ter de estar passando por isso em plena manhã de sábado. Fecho a porta do banheiro devagar, temendo acordá-lo e ter que me preparar para respondê-lo à altura quando estou desestabilizada. Em frente ao espelho repreendendo essas sensações ruins, lembrando a mim mesma que os garotos tinham uma infinidade de defeitos e que eu não poderia me deixar seduzir por qualquer tentação fosse, principalmente, sabendo como os homens eram e como não eram para uma garota como eu. Afinal, eu tinha bagagem suficiente para relembrar com João Lucas, meu pai e Henrique tendo passado por minha vida.
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O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01
RomanceDafne Auth Costa é uma garota de estilo tomboy que acabou de completar 17 anos, órfã de mãe e com um pai ausente, ela faz um inferno na vida de sua madrasta. A convivência que já era difícil, se torna insustentável quando a jovem cede a casa da famí...