CAPÍTULO 14 | "Do inferno vejo estrelas"

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HENRIQUE

Deixo a caneta sobre a escrivaninha e estico as costas, aliviando a tensão por mais de duas horas de leituras de alguns relatórios designados pelo meu pai. Longe do habitual, ultimamente ele havia pedido para que estudasse questões da empresa de casa, cedendo seu escritório para isso. Estranhava sua conduta e me perguntei em algum momento se isso não teria relação com a presença de Félix em seu escritório há alguns dias.

Em um breve cumprimento, o pai de Dafne deixou a empresa da minha família dizendo que ligaria para Lorenzo mais tarde num tom sério e apressado. Às portas fechadas, questionei o motivo de sua vinda ao meu pai, mas ele desconversou, não parecia um assunto que gostaria de abrir comigo e isso me intrigou, em especial ao pedir que não mencionasse isso com a machinho. Atendi isso, mas ainda fiquei curioso bem como aliviado de que a vinda de Félix não tinha a ver com sua filha, não seria interessante perder minha cupido quando as coisas começavam a dar certo com Karla.

Fora da escola e com os primeiros dias de férias tendo início, o grupo da sala se comunicava por grupos em WhatsApp ou redes sociais, vez combinando encontros ou acertando detalhes da formatura. No Instagram, Karla havia feito um tbt do fundamental, marcando meu perfil na foto, essa que não respondi bem como nenhuma de suas postagens de ensaios que havia feito em campanha para uma perfumaria. Ela estava espetacular, mas assim como Dafne havia explicado, tinha muitos admiradores ao seu dispor e eu jamais havia provocado tal reação sobre ela como o dia em que lhe neguei a carona no Juventude Carioca.

Deixo o escritório com a jarra de suco que Frida trouxe. Nesse horário a casa está vazia, permitindo um silêncio tranquilo do meio de tarde em dezembro, quando repentinamente, Déborah surge um ânimo que destoa no ambiente. Ela esbarra em mim, quase fazendo-me derrubar o objeto em mãos e levantando um olhar furtivo ao mexer em sua bolsa.

— Tudo bem? — Pergunto a observando.

Déborah era a minha irmã mais nova, e embora não fôssemos confidentes, havia notado que desde a pousada ela estava um pouco distante e parecia enfrentar um momento complicado com Júlio, namoro esse que nossos pais nunca aprovaram.

— Estou de saída. — Ela soa meio nervosa, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e tenta passar por mim.

— Certeza? — Pondero, não querendo me meter na sua vida, mas querendo demonstrar preocupação, havia feito bem mais isso quando Deb caiu da escada aos oito anos de idade enquanto nossos pais brigavam.

Ela revira os olhos, abrindo um sorriso como se eu tivesse dito uma besteira, e dobra o pescoço para lado, do mesmo modo que fazia quando estava no hospital e perguntava se papai e mamãe haviam feito as pazes.

— Vou encontrar o Cauã. — Elevo as sobrancelhas, surpreso que eles estejam tão próximos assim.

Ele era um cara bacana e tinha certo interesse na minha irmã, no entanto, ela nunca pareceu correspondê-lo.

— Bom passeio. — Avalio seu semblante e a acompanho com olhar seguir pelo o corredor bastante perfumada e jogando os cabelos.

Depois de deixar a jarra na cozinha, apoio-me na entrada da cozinha, vagando os olhos pelo jardim com sol baixo e água inerte da piscina. Mais adiante, ouço o barulho de água cair e avisto Dafne agachada ao lado de Tempestade. Com uma mangueira, ela enxagua seus pelos, lutando contra a cadela que insiste em balançar a pelugem e lamber sua dona. Sorrio involuntariamente, assistindo a machinho concluir seu trabalho e virar-se com a blusa ensopada na minha direção. Engulo em seco ao visualizar os seios sem sutiã marcados no tecido, é possível perceber os bicos rígidos, a cor com uma tonalidade rosa escuro, aproximando-se do marrom a distância... Balanço a cabeca ao perceber o que faço o, enfeitiçado pelo o que não devo, decerto que influenciado pela presença dessa garota assim como tudo que a faz desde que nos conhecemos. Seria mesmo bom se Félix a levasse daqui.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01Onde histórias criam vida. Descubra agora