CAPÍTULO 03 | "O plano mirabolante"

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DAFNE

Assim que coloco os pés fora da cama, o despertador toca e estico a mão para desligá-lo sem sequer virar o pescoço. Meus cabelos estão tão bagunçados que alguns fios envolvem meu pescoço, evidenciando que tentei de forma falha dormir.

Depois que deixei o escritório de Lorenzo sem paciência para discutir com seu filho, fiquei olhando para o cartão bancário durante longos minutos, pensando nos meus pais, em Joana e no que Félix havia se tornado. Nenhuma ligação ou mensagem, era o que tinha dele mesmo a quilômetros de distância. Ansiosa, deitei na cama e bombardeei o celular do papai com mensagens o acusando, dizendo tudo que estava engasgado, mas ele apenas ficou online e não visualizou. Chorei de raiva e fiquei olhando para o teto, recobrando o controle e me sentindo vazia à medida que isso acontecia.

Saio do quarto com calças jogger e um uniforme duas vezes maior que meu corpo e a mochila no ombro. Calçando o coturno com dificuldade, me pergunto quando foi que Tempestade saiu do quarto sem que eu tivesse visto, quando esbarro em alguém e ouço o som de algo caindo ao chão.

— Droga! — Agacho-me e fecho os olhos com força ao reconhecer a voz da última pessoa que gostaria de ver de manhã. — Não olha para onde anda? — Apanho seu celular do chão e estendo para ele, mas a tempo de ver que sua tela de bloqueio é uma foto de Karla.

— Isso é o ápice da falta de amor-próprio. — Dou uma risadinha e ele puxa o aparelho como se eu o tivesse roubado.

— Eu chamo de bom gosto. Queria que eu colocasse uma foto sua no meu celular? É possível trincar a tela! — Ele ri e eu cruzo os braços. — Mas me diga, Dafne: o João Lucas tem uma foto sua? — Henrique questiona fingindo curiosidade e depois torna seu semblante sério. — Desculpe, eu esqueci que até a sua carta ele queimou.

— Na moral! Qual é a sua, seu pela saco? — Estreito as sobrancelhas pronta para avançar sobre ele e escuro um grito feminino vindo do andar debaixo seguido pelos latidos da minha pet.

Desço as escadas junto com o idiota do Henrique que disputa espaço nos degraus comigo. Assim que chegamos sala com o coração saindo pela boca, avisto Deborah segurando o riso, Lorenzo tentando apaziguar a situação e uma xícara quebrada.

— Isso é inadmissível! — Odeth grita e Tempestade late para ela.

— Querida, é só um animal...

— O que está acontecendo? — Pergunto preocupada e a esposa de Lorenzo me fita como se tivesse visto o demônio, a raiva em seus olhos é tão nítida que a faz quase soltar fogo pelas ventas.

— O que aconteceu foi que você trouxe esse animal para dentro da minha casa e ele estava bebendo na xícara do café da manhã! — Fico atônita e logo em seguida sinto vontade de rir, mas me seguro para não fazê-lo, já Henrique coça a cabeça.

— Se mexa, garota! Eu quero essa cadela fora da minha casa! Fora! — Odeth vocifera e Lorenzo toca seu braço.

— Vamos conversar lá dentro.

— Tempestade, vem! — Seguro em sua coleira e a pego nos braços.

Chego ao quarto e reprimo minha cadelinha, sentando na cama e permitindo que o sentimento de frustração me invada. Ainda que nutrisse certa antipatia por Odeth, aquela era a casa dela, já eu era a intrusa que estava ali sob a benevolência do seu marido.

— Dafne. — Déborah sorri e entra no meu quarto, então permito meus ombros caírem.

— A sua mãe está bolada comigo, não é? Acho que eu e Tempestade vamos ter que sair daqui. — Dou uma risadinha sem humor e ela se senta ao meu lado.

O erro do cupido • Série Estúpida Paixão | LIVRO 01 - EM MAIO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora