32 - Elevador

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CHA HYUN-SU

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CHA HYUN-SU

Não consegui chegar a tempo de avisá-los.

Quando consegui abrir a porta das escadas, me deparei com um hall ensanguentado. Jae-heon lutava com o monstro, uma de suas mãos havia sido cortada. Sunwoo e Ryu também estavam ali, bolando um plano rápido para ajudá-lo.

Sunwoo correu até mim depois do comando da garota, me puxando para dentro da sala e me encostando na parede. Eu pulei do nono andar, enquanto tentava chegar aqui mais rápido do que o elevador. No fim, não deu certo, e agora eu estou com a perna quebrada, vendo minha namorada lutar contra um monstro feito de moscas para ajudar um de nossos amigos.

Mais uma vez, não consegui ajudá-la. Ryu está sempre fazendo de tudo para me proteger, mas eu nunca consegui retribuir da mesma forma. Ela deveria me odiar por isso, mas... ela continua sendo tão gentil.

Quando Sunwoo falou em ir embora, achei que ela fosse aceitar no mesmo instante. Se eles realmente fossem, eu também iria. Não pensaria duas vezes para tomar aquela decisão.

Aqueles dois são as melhores pessoas que esse apocalipse me trouxe. Sunwoo, em uma semana, se tornou um incrível amigo. Ryu, em poucos meses, se tornou a garota que eu amo.

Eu a amo.

Deveria ter dito isso quando tive a chance. Quando ela não estava deitada no chão de um elevador, segurando um monstro.

Dava para ver o corte gigantesco em sua barriga, que derramava litros de sangue por onde passava. Era muito pior do que o corte no acidente de carro. Sei que ela sónconsegue se manter acordada por causa do vírus, e por mais que ela esteja tentando disfarçar, tenho a sensação que consigo sentir sua dor.

Um dos sobreviventes segurava um coquetel aceso, prestes a joga-lo nela, mas não parecia ter coragem o suficiente. Sang Wook puxou o corpo de Jae-Heon para longe. Ele já não estava mais acordado. Mesmo assim, seu recente amigo tentava fazer com que o sangue da sua mão cortada parasse de sair.

Eu, por outro lado, não conseguia tirar os olhos de Ryu. Os seus pequenos olhos castanhos não estavam ali. Os pretos com pupilas vermelhas haviam assumido o lugar, mas eu ainda conseguia vê-la.

Lentamente, eles se fechavam, o que me deixou preocupado. Segurei o ombro de Sunwoo, que ainda cuidava da minha perna, obrigando-o a olhar para Ryu. Ele arregalou os olhos, se levantando e correndo em direção a garota, que continuava a segurar o monstro.

Ela ainda tentava nos proteger, mesmo que estivesse... morrendo.

Ryu estava morrendo.

Segurei na parede, levantando com dificuldade. Dei um passo a frente, caindo mais uma vez. Coloquei as mãos em frente ao rosto, impedindo que ele batesse no chão. Voltei a olhar a garota no elevador. Ela ergueu o braço, segurando um tipo de espada e a usando para apertar o botão do elevador, que fizeram as portas se fecharem.

Sunwoo estava perto de alcança-la, mas um tipo de explosão o jogou para trás. Ele caiu no chão, deslizando até bater na perna de Eun Hyuk, que estava paralisado com a cena. Os olhos marejados, deixando claro que assim como nós dois, ele também chorava.

Ryu perdeu o controle.

Deixou o vírus assumir seu corpo. A última coisa que vi, foi uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha e um curto sorriso surgir no canto da sua boca.

Os socos de Sunwoo na porta de metal do elevador chamaram minha atenção. Ele usava tanta força que ela estava amassando. Apertou os botões diversas vezes, como se aquilo fosse trazê-lo ao primeiro andar mais rápido. Ryu se certificou de apertar diversos botões antes de pegar fogo. Talvez ela achasse que assim, a sua versão monstro desceria em outro andar, evitando que alguém daqui se machucasse.

Mais uma vez, ela pensou em nós.

- DROGA! - Sunwoo gritou em pleno desespero. Assim como eu, ele não conseguia parar de chorar. - ESSA MERDA NÃO QUER DESCER! VOCÊS VÃO FICAR PARADOS!? FAÇAM ALGUMA COISA! TRAGAM RYU DE VOLTA!

- Temos que esperar. - Eun respondeu, a voz baixa e rouca. Ele conseguiu segurar o restante do choro. Se aproximou de Sunwoo, tocando seu ombro, como se quisesse conforta-lo. - Ryu deve estar bem. Ela resiste ao fogo.

Os olhos de Sunwoo estavam pretos. Toda aquela situação estava o deixando irritado. Se continuasse assim, ele não demoraria muito a perder o controle também. Eun Hyuk estava tentando evitar que isso acontecesse.

A porta do elevador demorou quase cinco minutos para voltar a se abrir no primeiro andar. Ele estava completamente queimado, mas por incrível que pareça, ainda funcionava. Não havia nenhum sinal do monstro feito de moscas, muito menos de Ryu. A única coisa nova eram as cinzas espalhadas pelo chão.

Dói pensar que talvez seja ela.

Os choros retornaram no mesmo instante. Ninguém parecia querer acreditar que Ryu estava mesmo morta.

O sangue espalhado por todo lugar era a única coisa que tínhamos certeza ser dela. Todo resto tinha desaparecido.

- Não. Não pode ser. Não. - Sunwoo sussurrou, caindo de joelhos ao chão, a tristeza o consumindo por inteiro.

Tentei me arrastar até ele, mas o esforço que fiz foi em vão. Eun-yoo veio até mim, o rosto avermelhado por causa do choro. Me ajudou a levantar e me levou com cuidado até Sunwoo.

Me sentei ao seu lado, encostando a mão em seu ombro e ouvindo sussurrar:

- Eu acabei de encontrá-la. De novo não. Não pode acontecer de novo. Ela precisa voltar.

Nós esperamos.

Cinco minutos, quinze, trinta. A última vez em que olhei o relógio, quase duas horas depois, decidi que estava na hora de levar Sunwoo para longe daquele elevador. Ryu não iria voltar. Eu continuava sentado ao lado dele, os olhos fixos em meu machucado aberto que se curava lentamente, como se o osso nunca tivesse ficado exposto depois da minha queda.

Sunwoo, por outro lado, não tirava os olhos da porta fechada do elevador, intercalando entre os números vermelhos que ficavam logo acima dela, torcendo para que em algum instante, eles começassem a se mexer.

Não pude permitir que ele continuasse naquela situação. Ele estava ficando cada vez pior, eu mal o via piscar, para ser sincero. Se Ryu estivesse aqui, ela não gostaria de vê-lo assim, e talvez essa tenha sido a única coisa que me deu forças o suficiente para pedir que desligassem o elevador.

- Desliguem. - me virei para o cabeludo atrás de nós. Ele tentou desligar o elevador três vezes desde que nos sentamos aqui, mas Sunwoo e eu não deixamos, então, ele estava esperando. - Desligue o elevador.

Sunwoo me olhou, a feição triste se transformando em irritada.

- Não se mexa. - ele apontou para o cabeludo, como Ryu gostava de chamá-lo. - Ninguém vai desligar esse elevador.

- Ela não vai voltar, Sunwoo. - ele me ignorou, voltando a atenção ao elevador. - Sunwoo. Vá descansar. Assim que minha perna se recuperar, rodamos cada andar desse prédio para procura-la. Eu prometo.


Algo me dizia que ela ainda estava viva.

Talvez seja só a fase de negação do luto, mas eu não podia concluir sua morte sem ter certeza absoluta disso. Tudo que eu sabia até agora, é que aquele elevador não iria descer com Ryu dentro dele.

Me levantei, apoiando na perna boa, já que a outra ainda não conseguia suportar muito peso. Pelo menos agora eu conseguia me manter de pé sozinho. Olhei para o cabeludo, balançando a cabeça em confirmação. Ele correu, indo em direção a sala de comando para desligar o elevador. Parei em frente a Sunwoo, erguendo a mão para ele, esperando-o segura-la para se levantar. Ele aceitou minha ajuda, o que me deixou aliviado. Não achei que conseguiria tira-lo dali tão rápido.

No início da madrugada, Eun Hyuk veio até nosso quarto, o pequeno cômodo onde estávamos dormindo. Abriu a porta, olhando ao redor e ficando em silêncio por alguns segundos, observando as coisas de Ryu espalhadas no canto, no local em que ela dormia.

Acho que ele também percebeu.

Esse lugar é um grande vazio sem ela.

Finalmente, ele cortou o silêncio triste com uma frase que eu preferia não ter escutado.

Aquilo deixou tudo ainda pior.

- O Jae-Heon... não sobreviveu

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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora