39 - Coexistir

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    	Caminhei apressada pelos corredores, sabendo que Sunwoo estava logo atrás de mim

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Caminhei apressada pelos corredores, sabendo que Sunwoo estava logo atrás de mim. Não tenho certeza se Hyun-su também está me seguindo, mas espero que sim. Quero mantê-lo longe de Ui-Myeong, mas do jeito que esse cara é, não vai ser nada fácil.

- Qual é o plano? - sussurrou Sunwoo, a rapidez dos passos como os meus, o rosto levemente inclinado para ficar perto do meu ouvido.

- Estou pensando.

- Ah, achei que já tivesse um. Tenho uma sugestão.

- Ele está atrás de nós?

Sunwoo disfarçou, virando levemente o rosto para trás. Percebi suas sobrancelhas franzirem antes de ele virar novamente para mim.

- Eles sumiram.

Eu parei, arregalando os olhos e dando meia volta.

Hyun-su não estava atrás de mim.

Ui-Myeong também não está.

- Merda!

- Eu tenho um plano. - anunciou Sunwoo, chamando minha atenção.

- E ele é bom?

Ele deu de ombros.

- Vamos matar Ui-Myeong.

- Não quero arriscar uma luta que não sei se podemos ganhar.

- Você pode ganhar.

- Não vamos brigar.

- Vamos precisar, em algum momento.

- Então esteja preparado. No momento, temos que nos preocupar com Hyun-su. Ache ele e me encontre no armazém.

Ele assentiu, dando meia volta e sumindo da minha visão ao virar o corredor. Eu fui pelo outro lado, para que pudéssemos cobrir mais espaço. Quanto antes encontrássemos Hyun-su, menos tempo Ui-Myeong teria para manipula-lo.

Meu coração batia rápido, a minha respiração ficava cada vez mais acelerada. Não conseguia achar Hyun-su e, por algum motivo, tinha um pressentimento ruim sobre aquilo. Não queria que tudo se tornasse uma grande guerra entre meio-monstros, mas eu não hesitaria nem por um segundo se Ui-Myeong colocasse meu namorado e meu melhor amigo em perigo, assim como todos os outros nesse prédio.

"Eles estão na escada de emergência." - a voz de Outra ressoou em minha cabeça.

Mudei o caminho no mesmo instante, correndo em direção ao local que ela havia mencionado. Assim que cheguei, vi Sunwoo segurando a gola da jaqueta que Ui-Myeong usava e o pressionando contra a parede. As sobrancelhas franzidas e o maxilar rígido.


No fundo, eu sabia que Sunwoo estava certo. Haveria uma briga, a qualquer momento, mas até lá, tenho que enrolar Ui-Myeong para que todos possam ir para um lugar seguro. Não vou arriscar a vida de ninguém por causa desse cara.

- E quanto a gente? - perguntou Ui-Myeong, a voz calma e fria, os olhos fixos em Sunwoo. - Acha que podemos ser consertados? Eu costumava a achar isso, porque eu pensei que era uma doença. Foi aí que eu me ofereci. Eles fizeram todos os esforços para tirar isso de mim. Tentaram congelar, descongelar, serrar, perfurar e até queimar. E sabe o que aconteceu no final? Isso nunca saiu de mim! E sabe por quê? Porque o monstro não está em mim. Eu sou o próprio monstro!

A expressão em seu rosto havia mudado. Os olhos estavam pretos e ele sorria enquanto falava, orgulhoso. Segurei a mão de Sunwoo, o afastando de Ui-Myeong.

- Foi aí que eu percebi, que isso é uma evolução. Que eu sou o escolhido! E não os humanos. Eles não apenas falharam, eles também não foram escolhidos pela natureza. - seus olhos voltaram a coloração normal, a atenção pousando em mim. - Aceite isso. Nós e os humanos não podemos coexistir.

O apito que os sobreviventes utilizavam para avisar sobre invasão de um monstro soou em meus ouvidos. Nossa atenção em Ui-Myeong rapidamente desapareceu. Algumas pessoas, a alguns corredores de distância, gritavam pelo senhor Han. As crianças também estavam lá, o que foi o suficiente para fazer com que eu saísse correndo atrás delas, seguida por Sunwoo e Hyun-su.

Me deparei com Su-yeong segurando os braços do seu irmão e o puxando para trás, impedindo que o garoto se aproximasse do monstro de gosma verde que outros dois sobreviventes tentavam conter.

- Su-yeong, ele é meu amigo. Ele me ajudou!

O medroso de óculos jogou o coquetel em sua mão no monstro, o fazendo recuar, reclamando de dor. No segundo seguinte, o cabeludo passou por nós segurando uma arma de fogo feita pelo senhor Han.

- Parem com isso! - Hyun-su gritou, dando um passo a frente. - Ele não vai nos machucar!

- Ta bom, eu sei, eu sei disso, mas...

- A gente não sabe no que vai se transformar.

- Joga logo, isso é um monstro! - ouviu Su-yeong gritar aquilo me doeu.

- Não! - Yeong-su gritou, aos prantos. - Por favor não faz isso!

Então o cabeludo apertou o botão, o fogo saindo da ponta da arma e atingindo o monstro, que recuou mais, os gritos agonizantes de dor consumindo cada canto do meu cérebro, arrepiando cada parte do meu corpo. Não podia deixar isso acontecer.

Não posso deixá-lo morrer.

Passei por Hyun-su, que estava paralisado no caminho, sem acreditar no que via, como Sunwoo, a alguns passos atrás dele. Acho que nenhum de nós esperava por isso. No fim das contas, talvez Ui-Myeong não esteja tão errado assim.

Coloquei o corpo na frente do lança chamas, sendo atingida pelo fogo que saía da arma. Sabia que meus olhos haviam ficado pretos, porque toda aquela cena havia me deixado muito irritada. Minha pele começou a descascar, se tornando preta, como a de Outra. Eu não sentia a dor que qualquer monstro ou pessoa comum sentiria ao ser queimada, então, para mim, ter aquele fogo tocando minha pele não era um problema. Na verdade, eu me sentia mais forte a cada segundo, tenho certeza que Outra está adorando poder "consumir" todo esse fogo.

Segurei a ponta do lança chamas, o cabeludo já havia parado de apertar o gatilho, assustado com a minha aparição repentina, mas ainda demorava alguns segundos até que o fogo se dissipasse por completo. Empurrei o cano da arma para cima, deixando o teto ser queimado em meu lugar. Mesmo estando na frente da arma, eu sabia que o monstro atrás de mim ainda estava sendo atingido, porque eu não era grande o suficiente para tampar todo o espaço.


O cabeludo deixou a arma cair, os olhos arregalados encontrando-se com os meus.

Ele deu um passo para trás, assustado, talvez por causa da minha nova aparência. A pele rochosa de Outra assumiu o lugar da minha, para que eu não me queimasse. Me virei para o monstro atrás de mim, espremido na ventilação, ainda agonizando com a dor das chamas que consumiam lentamente seu corpo. Não havia sobrado muito dele, já que grande parte havia derretido, mas eu ainda podia salvá-lo.


Meu corpo foi levemente empurrado para o lado, abrindo espaço para quem quer que fosse se aproximar. Sunwoo tirou sua jaqueta, a colocando sobre o monstro em uma tentativa desesperada de apagar o fogo que ainda se espalhava por ele. Segundos depois, quando ele levantou a jaqueta, nossos olhos pousaram sobre a gosma verde, que havia reduzido consideravelmente de tamanho, como se tivesse se transformado em um pequeno pote de gelatina.

- Ele... morreu? - Sunwoo sussurrou, confuso.

- Não. - estiquei o braço, pegando o pequeno pedaço de gosma que restara. Ainda podia sentir a presença daquele monstro, por mais que fosse muito pouco, ele ainda estava ali. Sorri para gosma quando vi que havia transformado uma parte sua em uma mão, acenando para mim e para Sunwoo. - Ei, Yeong-su, olhe.

Me agachei, esperando o garoto correr em minha direção e observando ele abrir um sorriso ao ver que seu amigo ainda estava vivo.

- Vocês ficaram malucos!? - a vizinha fofoqueira gritou, recebendo um olhar irritado de Sunwoo.

- Vocês não podem matar bons monstros!

- Ele é um monstro, quem se importa se é bom ou não!?

- Então vocês vão nos matar? - a voz de Hyun-su chamou a atenção de todos.

Voltei a me levantar, o que restara do monstro cobria a palma da minha mão, como se agora ele fosse uma miniatura da sua versão anterior. De repente, a situação ali havia se tornado ainda mais tensa. Os sobreviventes não tinham resposta para o que Hyun-su acabara de dizer. Hyun-su se virou, aproximando-se de Ui-Myeong. Eu e Sunwoo o seguimos.

- Acho que você tá certo. Nós não podemos coexistir.

- Não dá pra evitar.

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Revisando esse capítulo lembrei de quando chorei com a morte desse monstro de gosma

Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora