49 - Monstros Perigosos.

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Somos nós que sobrevivemos

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Somos nós que sobrevivemos.

Abro meus olhos com rapidez e tento procurar por ar.

Me dou conta, depois de alguns segundos, que estou de baixo da água, afundando cada vez mais. Meu corpo esta congelando, provavelmente hipotérmico por causa da água gelada. A escuridão do fundo do mar está quase consumindo tudo, mas ainda consigo enxergar uma frecha do sol se infiltrando. Com o corpo dolorido, mas por sorte sem ossos quebrados, eu nado para a superfície, tentando segurar o máximo o pouco ar que me restava.

Quando meu rosto está fora da água, encho os meus pulmões de ar e começo a tossir. Olho ao redor, tentando conseguir informações do que aconteceu.

A ponte está quebrada, destruída, mas não há sinal do carro onde Hyun-su estava e eu me lembro de vê-lo seguir seu caminho enquanto eu caia. Também me lembro de ter conseguido controlar o impacto do meu corpo na água com ajuda do poder de Outra, que criou uma redoma ao meu redor e me protegeu de quebrar alguns ossos, mesmo que ainda tivesse sido uma queda dolorida.

Boiando no mar, tentando recuperar o sentido dos meus membros congelados, vejo os carros dos soldados darem meia volta e retornarem.

Antes de acordar, ouvi a voz de Sunwoo em minha cabeça. Sei que ele está bem e na companhia da bombeira. Vai continuar procurando por Hyun-su, como eu, e talvez a gente acabe se encontrando em algum lugar. Ele vai ter a ajuda dos soldados, e eu vou ter a ajuda dos monstros, como aquele gigante que está na beirada da ponte, olhando fixamente para mim. 

Ele se parece com um lagarto gigante, mas com certeza não é tão bonito, ou nem ao menos bonitinho, como um lagarto de verdade. É um monstro grande e feio, mas mesmo que eu esteja bem distante dele, separados por uma grande área de água, sei que é um monstro gentil.

Então, nado em sua direção, planejando me esquentar assim que conseguisse sair da água. Quando chego perto o suficiente, ele estica uma das suas patas em minha direção e da um grunhido, como se falasse comigo.

A maior parte dos monstros que perderam completamente a consciência e não conseguem formar palavras, assim como ele. Mas por algum motivo, mesmo que eles não falem, eu ainda consigo entende-los. É como se as palavras se formassem em minha cabeça e sei que de alguma forma, o humano dentro daquele monstro está tentando falar comigo.

Eles são bons. São todos bons. Só estão com medo.

Estico minha mão, segurando um dos dedos do lagarto, que me agarra e me ergue com cuidado, me levando até o asfalto da estrada quando me tira por completo da água. Quando meu corpo molhado toca o chão, sinto que estou ainda mais congelada. O monstro me observa com delicadeza, como se tentasse descobrir do que eu preciso.

Ele grunhe, preocupado. Um segundo depois, outro grunhido chama minha atenção. É mais baixo e mais fino, então ouço o barulho das patas tocarem o chão e o filhote do grande lagarto, que é exatamente como ele, sair de seu esconderijo atrás de sua mãe. Ele vem em minha direção, caminhando de forma cautelosa. Olha para sua mãe, depois começa a correr a minha volta, como um filhote de cachorro hiperativo. Dou uma risada, mas isso por algum motivo os assusta.

O filhote para de correr e me encara igual sua mãe. É como se os dois tentassem entender o que aquela risada significava. Não consigo evitar o sorriso que surge em meu rosto, aqueles dois monstros se parecem com bebês que estão começando a aprender os sentimentos. Eles são curiosos e carinhosos, completamente inocentes.

O filhote agarra a barra da minha calça, depois observa a água que pingava. Eu me afasto dele.

— Fique ai. – pedi, o fazendo dar meia volta e ir para perto de sua mãe.

Quando estou longe o suficiente, deixo o poder de Outra começar a me esquentar. Alguns segundos depois, meu corpo não está mais tremendo, mas as roupas continuam molhadas, a água delas evaporando aos poucos.

— Obrigado pela ajuda. – olho para o monstro, que acena devagar. – Escutem, vocês deveriam ficar longe da cidade, há muitos soldados lá, é perigoso.

Ela continua me encarando, sem reação. Suspiro, dando meia volta.

— Vamos, vou levar vocês a um lugar seguro.

Junto dos dois monstros, a mãe e o filhote, meus novos amigos, eu passo o resto do dia caminhando de volta para o Prédio Verde.

Não sei porque estou voltando, mas sinto que preciso ir.

É como se algo estivesse me chamando.

No caminho de volta, nos encontramos com outros monstros. Alguns deles eram nitidamente perigosos, porque a mamãe lagarta se afastou assim que os viu. Acho que assim como eu, ela também consegue sentir quando os monstros por perto não são amigáveis.

Ao anoitecer, o filhote e eu já estávamos cansados demais para continuar andando. Nossos passos são muitos menores do que a mamãe lagarto, então achei melhor pararmos para descansar. Encontrei um túnel que me parecia um bom lugar para passar a noite. A mamãe lagarto, no entanto, achou aquele um ótimo lugar para fazer um ninho. Enquanto eu e o filhote deitávamos e descansávamos, ela ia e vinha toda hora carregando algo nas patas e os entulhando na entrada do túnel. Em algum momento durante aquela movimentação, eu peguei no sono. E pela manhã, quando acordei, estava coberta pelas patas da mamãe lagarto, que envolveu a mim e seu filhote como um casulo.
Por mais silenciosa que eu tentei ser, quando consegui me levantar, os dois já estavam acordados, prontos para me seguir.

— Escutem, fiquem aqui. Eu vou pegar um carro velho e chegar no prédio mais rápido. Depois volto para cá.

Eu precisei ficar ali por mais alguns minutos até convencer aquele filhote a parar de tentar me seguir. Finalmente, quando consegui, andei por meia hora até encontrar um veículo que funcionasse. Felizmente, encontrei uma moto que seria muito útil pelos próximos dias.

Mais meia hora depois, eu estava na entrada destruída do meu antigo prédio. Os destroços estavam por todos os lados, mas eu consegui me aproximar o suficiente. Deixei a moto estacionada e me preparei para entrar. Os monstros estão me observando, mas não pretendem me atacar, mesmo que os mais próximos sejam perigosos. Eu os ignoro, entrando no prédio.

Não sei o que estou procurando.

Estou aqui, sabia que precisava vir, mas não sei porquê.

Meu coração bate com rapidez e com uma força incomum, como se ele fosse explodir a qualquer momento.

Há algo que chama por mim.

Caminhando por cima dos destroços vejo uma mochila aberta no chão. Identifico como a minha quase que no mesmo instante, a mesma mochila que eu trouxe do meu apartamento junto de Hyun-su. Me aproximo dela, procurando por minhas coisas. As roupas ainda estavam ali dentro, mas minhas fotos polaroides desapareceram.

Todas elas desapareceram.

Ansiosa, começo a erguer os pedaços de teto e parede e joga-los para os lados, imaginando que talvez as fotos tivessem sido enterrada por elas. Depois de dez minutos procurando, eu me sentei em uma delas e suspirei, cansada.

— Não estão aqui. Nenhuma foto.

Levanto a cabeça, olhando em direção ao monstro a alguns metros de distância. Ele me observava a algum tempo, escondido atrás de uma das paredes, mas ainda consigo ver seus olhos. Ele tem o corpo de humano, mas o seu rosto é deformado e tem apenas um único olho, o mesmo olho que me encara com curiosidade atrás da parede. Acho que ele acredita que está escondido.

— Eu consigo te ver, sabia?

Imediatamente, ele recua, saindo da minha visão. Eu ri, baixo.

— Você está mesmo tentando brincar de pique esconde?

Alguns segundos sem resposta depois, ele reapareceu. Saiu de trás da parede e me analisou em silencio. Aquele monstro não é como a mamãe e o filhote lagarto.

Ele é perigoso.

Talvez nem tanto, mas ele ainda tem vontade de matar, consigo sentir isso. Geralmente, monstros como ele não ficam muito perto de mim. Eles andam ao meu redor, como seguranças, mas eu raramente tenho algum contato com eles, a não ser quando estamos brigando. Aquele, no entanto, parece ter algo a me dizer.

— O que foi? Por que está me encarando com esses olhos... esse olho estranho?

Ele desviou a atenção de mim para o cômodo ao lado. Havia grandes pedaços do teto na porta, mas quando o monstro seguiu naquela direção, percebi que as pedras não haviam tampado completamente a passagem. Me levantei e o segui, sentindo que ele queria me mostrar algo. Assim que ultrapassei as pedras e cheguei no cômodo, o monstro não estava mais lá.

— Olá? Onde você foi?

Olhando ao redor, reconheci onde eu estava. Em alguma parte desse lugar, antes de ser destruído, ficava a sala de câmeras. O último lugar onde eu vi Eun Hyuk.

Droga.

Acho que agora sei porquê meu coração batia tão rápido e eu tinha a sensação insaciável de que precisava voltar para cá.

Comecei a andar pela local, empurrando os entulhos e procurando por qualquer indicio do corpo de Eun Hyuk.

De repente, depois de empurrar um pedaço do teto ou da parede para longe, tive uma surpresa.

— Gosminha?

Ele olha para mim, então se esforça para formar a pequena mãozinha verde que acena.

— É bom ver você. Está maior que da última vez.

Ele balança a cabeça molenga, como se estivesse orgulhoso por ter crescido.

— Você ainda cabe no meu bolso, venha. – estiquei a mão para ele, esperando que subisse. Em vez disso, Gosminha recuou e deu meia volta, entrando de baixo de mais entulhos. – Onde você vai? Gosminha? Você não quer ir embora comigo?

Entre os buracos das pedras, Gosminha reapareceu, um pouco mais distante. Sua pequena mão apontou para baixo e no mesmo instante, senti um frio na barriga.

Eun Hyuk.

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Deixei uma aviso importante no mural do meu perfil, pro favor, leiam.

Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora