43 - Lembrar

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Meu corpo dói a qualquer mínimo movimento

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Meu corpo dói a qualquer mínimo movimento. Minha cabeça lateja cada vez mais enquanto abro meus olhos lentamente.

Espero por um segundo encontrar algum tipo de iluminação, mas tudo continua tão escuro que mal consigo saber se realmente abri os olhos.

Percebo, finalmente, onde estou.

Tudo está escuro porquê por algum motivo eu estou na mente da Outra de novo.

Aos poucos, minha memória retorna. A maior parte delas não passa de um borrão, mas ainda consigo saber o que aconteceu. Lutei com o Ui-Myeong para tentar evitar que ele matasse mais pessoas. Achei que pudesse mata-lo, e sei que eu conseguiria se estivéssemos sozinhos. Mas com tantas pessoas ao redor com quem eu precisava me preocupar, tudo ficou mais difícil.

Além de lutar com Ui-Myeong eu precisaria me preocupar em manter meus melhores amigos e os sobreviventes nesse lugar vivos.


Não consigo me lembrar direito o que me distraiu naquela luta. Só me lembro de sentir uma dor intensa antes de desmaiar. Também não faço ideia de quanto tempo faz que estou desmaiada, mas provavelmente passaram-se algumas horas, como aconteceu da última vez.

Outra? Você está ai?

Tudo continua muito escuro. Eu não sinto o chão quente, como acontecia quando Outra estava por perto, muito menos vejo qualquer traço de iluminação ao meu redor.

Na verdade, a única coisa que tenho certeza nesse momento é que meu corpo está doendo e minha cabeça não para de latejar.

De repente, vindo como um sussurro distante e abafado, escuto uma voz familiar.

- Ela ainda está desacordada?

- Está. Mas seu ferimento está melhorando. Lento, mas melhor que antes.

- Seus batimentos ainda estão fracos.

Essas vozes... são de Eun-Huyk e Sunwoo. Sei que estão falando de mim, mas por que parecem estar tão longe? Por que não consigo vê-los se consigo enxergar tudo que a Outra vê? Onde está a Outra?

- Como está o Hyun-su?

- Ainda não se lembra de nada.

O que isso significa?

O que isso significa, Eun-Huyk!?

Por que ele não se lembra?

OUTRA! Onde você está!?

Preciso que você apareça!

- Se ele não conseguir lembrar, quero que também esqueça das lembranças ruins. - murmurou Sunwoo, triste. - Mas eu não quero que ele esqueça de Ryu. Ele precisa se lembrar.

Sinto um líquido tocar minha bochecha e em seguida algo um pouco áspero passar por cima dele, como se alguém o limpasse. Não consigo ver. Ainda não consigo ver. Mas eu sei que Sunwoo está chorando e que eu estou em seus braços.

Por que vocês não me escutam?

Por que ninguém me escuta?

- Senhor Ahn não acordou essa manhã. Estamos preparando o enterro dele e dos outros mortos no ataque. Você vai aparecer?

Senhor Ahn está morto?

O que aconteceu?

Quem são os outros mortos?

Tem alguém segurando meus ombros. Sunwoo está mexendo meu corpo. Está me afastando dele.

Onde ele vai?

Vai ao enterro de senhor Ahn?

Eu também quero ir.

Estou acordada, Sunwoo.

Estou acordada.

- Vou tentar falar com Hyun-su.

Eles estão indo embora. Estou ouvindo seus passos.

Não vão. Por favor, fiquem.

Eu estou acordada.

Eu quero ver o Huyn-su. Por favor.

Outra!?


Outra, onde você está?

Eu ando pelo grande vazio do subconsciente a sua procura, esperando que ela decida aparecer para falar comigo, mas não há um único sinal dela. Não sei para onde estou indo, nem se estou rodando em círculos, mas preciso dar um jeito de acordar, com ou sem a ajuda de Outra.

Um ranger baixo, vindo de algum canto ao meu redor, chama minha atenção. Paro de andar, ficando imóvel. Tudo continua exatamente igual, escuridão e mais escuridão.

- Você já acordou?

Me viro com rapidez em direção a voz, esperando ver alguém, mas é desanimador não encontrar nada. A voz é baixa e abafada, não sei muito bem de onde vem, mas ouço passos de alguém se aproximando devagar. Talvez Sunwoo tenha voltado. Queria ter um jeito de dizer a ele que eu consigo ouvi-lo.

- Ryu. - disse a voz, baixo. A frase seguinte, no entanto, me fez imaginar que a pessoa estivesse ao meu lado. Estava mais alto que a última vez. - Eun-Ji Ryu.

É Hyun-su.

Reconheço sua voz, mesmo que abafada, como se ele usasse uma máscara e estivesse distante. Ainda sim, sei que ele está aqui, do meu lado. Ele sussurra as palavras e uma sensação de tristeza caminha com elas, me contagiando.

Hyun-su está triste por que eu não acordei? Mas eu estou aqui. Estou acordada, Hyun-su. Pelo menos acho que estou.

- Disseram que é esse seu nome. Eu perguntei.

Leve e rapidamente, algo toca minha mão, arrastando por minha pele até o toque desaparecer. Alguns segundos de silencio depois, sinto o toque quente mais uma vez. Dessa vez, Huyn-su aperta minha mão e não a solta.

- Quero me lembrar de você. Quero me lembrar. Sei que é importante. Sinto isso. Meu coração dói ao vê-la assim... mas... nem ao menos consegui lembrar seu nome sozinho. Por que não me lembro?

Ele fungou, apertando mais minha mão.

Meu coração também dói, Hyun-su. Por favor, não chore.

- Meu celular estava tocando. - ele murmurou, a voz embargada. - Tinha um lembrete com a data de hoje. Vinte e cinco de agosto, terça-feira, suicídio. Me lembrei de algumas coisas, mas não de você. Me lembrei da primeira vez em que tentei me matar e da morte dos meus pais. Por isso eu queria acabar com tudo. Hoje, porquê se não fosse o apocalipse, meu jogo favorito teria lançado e eu conseguiria jogá-lo. Tinha que ser hoje. Então, depois do meu jogo, não haveria mais nada no mundo que me fizesse querer continuar vivo. Mas... não sinto mais vontade de morrer. Quero viver. Quero viver, Ryu.

Ele ergueu meu braço, levando minha mão até seu rosto. Sinto as bochechas molhadas de Hyun-su e a quentura de sua pele. Ele encosta a testa em meus dedos enquanto aperta minha mão com as suas, chorando mais.

- Mas você precisa viver também. Porquê, se meu coração dói, se dói tanto e se eu quero viver, mesmo que não me lembre, sei que é por sua causa. Então acorde, Ryu. Acorde e me conte porquê. Me faça lembrar. Me ajude a lembrar. Por favor. Por favor.

Estou acordada, Huyn-su.

Estou acordada.

Você precisa me ouvir.

Estou aqui.

Estou te ouvindo.

Me escute.


Outra! Apareça!

Apareça logo! Eu quero voltar!

Quero voltar para o meu corpo.

Me deixe voltar!


Quero acordar!

Quero acordar agora!

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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora