44 - TEMPO

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De repente, minha visão se embaça

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De repente, minha visão se embaça.

A escuridão lentamente desaparece.

Estou enxergando.

Posso ver.

O teto cinza do prédio velho, o cheiro enjoativo desse lugar. Está frio aqui, mais do que o normal. Há uma brisa gelada entrando pela janela que, aos poucos, deixa de estar desfocada para mim.

Mexo meus dedos, esperando tocar as mãos de alguém. Olho ao redor, mas não vejo ninguém. Estou sozinha em uma sala qualquer do térreo, provavelmente uma das poucas que não devem estar destruídas.

Hyun-su.

Ele estava aqui. Tenho certeza de que ele estava. Um segundo atrás ele estava falando comigo. Um segundo...Ele apertou a minha mão. Onde ele está?

- Hyun-su? - murmurei, sentindo a secura em minha garganta. Preciso de água, mas me contento com minha saliva pelo minutos seguintes, pelo menos até encontrar os garotos.

Dolorida, me levanto com cuidado, resmungando. Estou vestindo uma roupa diferente da qual me lembro usar pela última vez. Um suéter azul escuro cobre a blusa preta que uso por baixo, também não fui eu quem a colocou. A calça moletom preta que cobre minhas pernas está um pouco empoeirada, mas me aquece. Minhas mãos, no entanto, estão geladas demais.

Levanto o suéter e a blusa para enxergar o machucado em minha barriga. Me lembro de ser atingida por Ui-Myeong aqui antes de desmaiar. O buraco feito por ele havia se fechado, mas minha pele assumiu uma tonalidade preta e rochosa no lugar, como a pele de Outra. Talvez ainda não esteja totalmente recuperado.

Outra, você está me ouvindo?

Enquanto caminho em direção a porta espero por uma resposta, mas não recebo nada além de um completo silencio. Ela deve estar brava por eu ter a feito sair do controle.

Abro a porta, saindo do depósito.

Está ainda mais frio aqui.

Conforme respiro, consigo ver a fumaça branca sair pelo meu nariz.

Caminho pelo corredor vazio, esperando encontrar alguém, qualquer pessoa.

- Hyun-su? Sunwoo?

Por que tudo está tão quieto? Onde estão todos? Eles estavam aqui. Eu conseguia ouvi-los.

- Eun Hyuk?

Passo pela entrada do hall principal, o local onde a grande briga com Ui-Myeong havia acontecido. Está tudo destruído aqui, mas o carro que atravessava a parede desapareceu. Pelo buraco que ele deixou, consigo descobrir o motivo pelo frio repentino.

Está nevando lá fora.

Todo o chão está branco, coberto pela neve. E apesar de estar de noite, luzes brancas fortes iluminam o hall pela parede quebrada, algumas delas se mexendo. Então, vindo de uma grande distância, mas alta o suficiente para que eu conseguisse escutá-la perfeitamente, uma voz diz:

- Vocês estão cercados. Entreguem os infectados imediatamente. Os sobreviventes serão transferidos para um local seguro.

Um segundo depois, ele repete:

- Vocês estão completamente cercados. Entreguem os infectados imediatamente. Os sobreviventes serão transferidos para um local seguro.

Dou meia volta, seguindo caminho prédio adentro. Preciso encontrar Sunwoo e Huyn-su. Precisamos fugir o quanto antes.

De repente, algo explode sob meus pés. Todo o chão treme e eu me obrigo a segurar a parede para me equilibrar. Menos de dez segundos depois, rajadas de tiros entram pelo buraco na parede e outras a atravessam, deixando seus rastros por onde passam. Escuto uma gritaria vir dos fundos e finalmente sei onde os sobreviventes estão escondidos. Acelero o passo, ignorando as pitadas de dor que sinto em minha barriga. Ao virar um dos corredores, esbarro com força em algo que me faz cair no chão.

- Puta merda. - escuto a voz assustada. - Você acordou. Puta merda, Ryu!

Ele segura meus braços, me erguendo com rapidez. Sunwoo sorri enquanto fala com alegria, conferindo meu rosto para ver se não há nenhum machucado e me abraçando varias vezes. Ao se afastar, ele da batidas em minha calça para limpar a poeira que ficou após minha queda.

- Você demorou a acordar. Demorou três dias. Que ótimo momento para acordar, por sinal.

- Sunwoo...

- Fiquei preocupado. Eu sempre fico. Você sempre faz isso. Merda, tenho tanta coisa pra te contar.

- Sunwoo, por acaso você se esqueceu que estão atirando em nós?

- É verdade! Eu estava indo te buscar! Vamos, senhor Ahn achou um túnel! - ele agarra minha mão com força e começa a me puxar em uma corrida pelos corredores.

- Senhor Ahn? Mas Eun Hyuk disse que o senhor Ahn morreu.

Ainda correndo, Sunwoo me lança um olhar confuso.

- Como você sabe disso? Estava desmaiada!

- Eu conseguia ouvir vocês. Eu ouvi tudo. Onde está o Hyun-su? Preciso vê-lo. Ele falou comigo. Ele foi me ver logo depois que você saiu para procura-lo.

- Eu sei. Eu o encontrei falando com você. Hyun-su está no túnel com os outros sobreviventes.

Nós havíamos acabado de entrar na sala onde os enterros aconteciam, perto do porão, onde o túnel foi encontrado por senhor Ahn quando parte do teto desmoronou sobre a entrada dele.

- Tem outra entrada? - perguntei para Sunwoo.

- Não. Temos que achar outra saída. Podemos encontrar Huyn-su e...

Uma nova parte do teto desmoronou, obrigando Sunwoo a parar de falar e correr comigo para longe. Enquanto tentávamos achar uma parte estável para conseguirmos parar e conversar, passamos em frente a sala das câmeras. Foi rápido, mas consegui reconhecer a silhueta pela qual havia acabado de passar. Parei de correr, retornando. Sunwoo veio atrás de mim ao perceber. Entrei na sala, atraindo o olhar do garoto.

- Eun. - murmurei, o observando retirar os fones da sua irmã com cuidado. Seus olhos lacrimejavam, mas ele sorriu ao me ver.

- Estou muito feliz em te ver mais uma vez, Ryu.

- O que está fazendo aqui, cara? - perguntou Sunwoo, parado atrás de mim.

Olho para a mão de Eun Hyuk, vendo a lista de infectados que ele mesmo havia feito e uma foto antiga.

- Foi infectado. - afirmei. - Está infectado, não está, Eun? Por isso não está no túnel. Por isso está chorando. Por isso você disse que não iria embora com a gente.

A nossa volta, o prédio continua a desmoronar, sem se importar com a conversa importante que estamos tendo.

Não temos tempo. Precisamos ir.

- Vamos embora, Eun. - disse. - Você vai resistir. Como todos nós. Como Huyn-Su. Tem que fazer isso por mim. Tem que fazer isso pela Eun Yoo. - caminhei até ele, segurando sua mão e o puxando. Eun recuou e antes que eu pudesse tentar de novo, Sunwoo segurou meus ombros.

- Vou ficar, Ryu. Mas vocês... vocês precisam ir. Huyn-su precisa de você. Ele está na entrada principal, indo se entregar aos militares. Vá. Ajude-o, Ryu.

Sunwoo me puxa para trás, evitando que um pedaço do teto caísse sobre mim.

- Temos que ir, Ryu. Temos que ir agora.

Do lado de fora do prédio, tiros começam. Eu me deixo ser puxada por Sunwoo, os olhos fixos em Eun Hyuk enquanto choro junto dele. Não queria deixar meu amigo para trás, mas sei que não tenho tempo para fazê-lo mudar de ideia.

Preciso salvar Hyun-su.

Antes que eu tenha a chance de dar as costas, Eun Hyuk diz:

- Obrigada por ser minha amiga, Ryu.



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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora