Capítulo 30 - Se você for embora.

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Suor frio me acorda, mesmo estando agarrada à Antoinette e o calor dos nossos corpos aumentando. As luzes suaves no Quarto de Jogos refletem sobre suas feições suaves. Jeito de menina, pacífica, e incrivelmente inocente...  

Eu desenrosco meus membros de seu torso, e me movo lentamente para não acordá-la uma vez que o sono não está reivindicando-me esta noite. Eu pego o meu jeans e o coloco rapidamente. Eu não quero que Antoinette passe a noite no Quarto de Jogos. Eu a cubro com os lençóis, e a levanto suavemente para fora da cama para levá-la para o meu quarto. Eu prometi a ela que ela poderia dormir comigo no meu quarto, e eu não estou prestes a quebrar essa promessa. 

Lentamente faço o meu caminho para o quarto tentando não sacudi-la para não acordá-la. Ela suspira algumas vezes em seu sono, seus braços me procuram e eu a levanto um pouco mais para que ela possa envolvê-los no meu pescoço. Estou em paz agora com ela em meus braços. Eu não estou perdida, mas aqui, centrada, forte, e eu tenho esse desejo de mantê-la segura, protegê-la e amá-la indefinidamente. 

Uma vez que eu faço o meu caminho para o meu quarto, eu fecho a porta suavemente, empurrando-a com o meu calcanhar. Sou eu que não gosto quando ela não está aqui? Sou eu que não gosto de um planeta perdido à procura de seu sol? Sem rumo, sem propósito, e totalmente miserável. Eu deito ao lado dela na cama esfregando o cabelo dela, fazendo-a cair no sono profundo. Uma vez que eu tenho certeza que ela dorme profundamente, depois de observar os movimentos de seus olhos por trás de suas pálpebras sabendo agora ela está sonhando. As luzes da cidade fracamente infiltram-se no quarto. Eu me levanto da cama lentamente, e vou para a sala de estar. São quase quatro horas da manhã. Sirvo-me um copo de suco de laranja, depois coloco o copo vazio na máquina de lavar.  

Eu caminho para a parede de vidro olhando para a cidade, com suas luzes cintilantes contra o céu escuro da noite, é uma vista magnífica de se ver. O que Antoinette diz sobre mim é verdadeiro. Estou presa na minha torre de marfim olhando para baixo, para as pequenas pessoas abaixo de mim. Eu gosto daqui. Longe da merda, e de toda porcaria ruim que o mundo tem para oferecer, embora Deus sabe, que isso faz o seu caminho até aqui com frequência suficiente. Eu era uma dessas pessoas pequenas lá embaixo. Eu não quero estar lá novamente. 

Nunca. 

Quando você esta, é você contra o mundo. É uma luta difícil. Não só eu tenho camadas sobre camadas de barreiras, mas também sou como uma ilha. Eu mantenho-me longe daqueles que são mais próximos de mim. Antoinette é a única que eu autorizo a penetrar as camadas, e mesmo ela têm acesso limitado, uma quantidade controlada. Confunde-me, e eu sou grato a Deus a cada dia por ela ter ido me entrevistar, porque nunca, nunca teríamos nos encontrado sob circunstâncias normais e os nossos caminhos nunca se cruzariam. Eu me sinto desamparada. 

Ela quer mais... Mais de mim. Ela quer me tocar, e Deus sabe que eu quero ela também. Mas eu estou com medo, e eu nunca iria admitir isso para ela, ou para ninguém.  

Tocar faz vir à bile na minha garganta, e me faz sentir náuseas como se eu estivesse sendo estuprada novamente, como se eu voltasse a ter quatro anos de idade, nas mãos do cafetão da prostituta que usava crack, sendo torturada, queimada, chutada por suas botas. A imagem de seu cinto sempre presente em sua mão, batendo em minha mãe, ela com seus soluços abafados, se fazendo tão pequena quanto possível, enquanto eu tento desligar meus ouvidos com os dedos e aquele cafetão de merda me encontra... Sempre me deparo sentindo aquele cheiro desagradável de bebida barata e cigarros Camel misturados em uma poção repugnante, inclinando-se sobre mim e dizendo em voz ameaçadora "venha aqui seu merda" e começa a me bater, colocando seus cigarros sobre meu corpo enquanto eu grito e ninguém, nem mesmo a minha própria mãe vem para ajudar. Eu não posso voltar a esse estado de espírito que eu tentei tão arduamente evitar, tão difícil ultrapassar, e sempre, sempre me encontro nos meus sonhos, sempre escondido nas profundezas da minha alma rasgada. 

Cinquenta tons de vermelho - Aos olhos de Cheryl Onde histórias criam vida. Descubra agora