Sentia minha cabeça pesada e corpo mole, com muita dificuldade abro os olhos e demora alguns segundos para que eu consiga me adaptar com a pouca luz que vinha de uma pequena e única janela na parte superior de uma das paredes.
O quarto era pequeno, se que era um quarto. Havia apenas uma cama e um vaso sanitário, tudo no mesmo cômodo. Seguro a vontade de vomitar com o forte cheiro que exalava daquele lugar. Me levando lentamente, meu corpo dói em protesto.
Ando cambaleando até a porta e bato na mesma. Tento gritar, mas o som não sai de minha boca, estava seca. Há quanto tempo eu estava ali?
Olho em volta e não vejo sinal de água, forço mais um pouco a porta.
Droga!
Vou até a janela, além de alta tinha uma grade a protegendo.
Me assusto ao ouvir um resmungo, que vinha debaixo da cama. Vejo dois pezinhos, que parecia de uma criança.
-O...Oi- Minha garganta dói em protesto, e minha voz sai rouca e fraca.
A criança não fala nada, apenas encolhe os pezinhos.
- Está tudo bem, não farei mal a você. Vou tirar a gente daqui.
Me sento no chão próximo a cama, e logo vejo dois bracinhos saindo.
Uma garotinha que deveria ter uns 5 anos sai de baixo da cama, sua magreza e palidez me deixa assustada.
- Mesmo? - ela pergunta se sentando ao meu lado - Vai tirar meu irmão e eu daqui?
- Irmão? - pergunto assustada e me abaixo, vendo embaixo da cama um pequeno bebê.
- O Elliot está dormindo.
Deito no chão e puxo o bebê para perto de mim, ele estava magro e pálido, além de estar gelado.
- Ele está muito gelado. - Respiro fundo e lentamente coloco meu ouvido perto de sua boca, felizmente o bebê tinha respiração, mas estava tão fraca.
- A quando tempo vocês estão aqui? - olho para a pequena garotinha que olhava de forma protetora para o irmão.
- Eu não sei.
Retiro a roupa do bebê que estava suja, molhada e fedida, a fralda estava apodrecendo. Uma lágrima cai ao ver o bumbum do menininho no vivo, toda assado.
- Se você tirar a roupa dele ele vai sentir frio. - a menina diz preocupada.
- Eu só vou aquecer ele. - desfaço o laço da camisola hospitalar que vestia, pego o bebê que não deveria ter mais de 2 meses e coloco contra meu peito nú, passando a camisola por cima dele e me sento na cama. Eu espera sinceramente que isso funcionasse e eu conseguisse esquentar o bebê. Fecho o laço da camisola com dificuldade.
- Como é seu nome? - A menininha que me observava com curiosidade vem ao meu lado e se senta na cama.
- Sou a Nina e você? - Me esforço pra sorrir.
- Eu não tenho nome.
- Não tem?
- O pai me chama de menina.
- Pai? - aperto o bebê contra meu peito, ele solta um resmungo e lentamente mexe o pescoço, a procura de um seio para mamar, contenho o soluço na garganta.
- Sim, ele que trouxe o Elliot. Falou que era meu irmão e eu deveria cuidar dele. Você é a nossa nova mãe?
-Não minha flor, mas prometo tirar vocês daqui, ok?
- Mas porque precisamos sair daqui? O que tem lá fora?
- Você nunca foi lá fora? - pergunto chocada.
- Não me lembro de ter ido. O que tem lá?
Somos interrompidas por um barulho da porta.
- Venha se esconde - a garotinha pula da cama e se esconde embaixo da mesma.
Me levanto e seguro a criança contra meu corpo. Sinto calafrios por todo meu corpo, mas eu precisava ser forte. Não era só minha vida que estava em jogo.
-Bom dia querida. - O homem entra no quarto e fecha a porta atrás de si. Ele era alto e não aparentava ter mais de 40 anos.
- Quem é você? - pergunto rispidamente.
- Você sabe quem sou eu, sou Marcos Linder.
- Marcos Linder está morto.
- Querida vejo que já conheceu nosso filho, como ele está? - Ele diz olhando para meus braços que abraçavam o bebê através da camisola.
- Ele não é meu filho e está morrendo!
- Que criança mais fraca, se está morrendo não merece ser da família. Me de ele aqui!
O homem se aproxima de mim e eu me esquivo.
- Você não vai tocar nas crianças.
- Que seja! - ele soca a parede - quando ele morrer venho buscar o corpo.
O homem joga uma sacola no chão e sai do quarto batendo a porta. Ele estava fazendo uma família de mentira?
Me aproximo da sacola e vejo que ali tinha alguns pães, uma caixa com leite e uma garrafinha com água.
A garota sai debaixo da cama e se aproxima pegando um pão da sacola.
- Eu estava com muita fome, papai não trouxe comida esses dias. - ela comia o pão seco como se fosse a melhor coisa do mundo e eu fico chocada.
- De o leite para o Elliot, ele não mama tem uns dias.
Segurando as lágrimas pego a caixinha de leite que estava na sacola e rasgo uma ponta com a boca, coloco a caixa no chão e abro a camisola, tirando o bebê de dentro dela, olho para a cama mas não tinha lençol ou coberta.
Seguro ele contra meus braços e levo a caixinha ate sua boca, agora o bebê estava mais aquecido, porém estava fraco e sem energias para abrir os olhinhos. Molho seus lábios com o leite e respiro aliviada ao ver ele fazendo o movimento para engolir.
Eu não conseguia pensar em minha fome, sede ou dor no corpo. Só conseguia sentir a tristeza vendo aquelas crianças ali, com fome e frio. Eu precisava tirar elas dali, não sabia quanto tempo Elliot aguentaria.
O assassino era um monstro pior do que eu havia imaginado.
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Lembranças Esquecidas
RomanceJason Marques um policial destemido que busca vingança. Sem família ou amigos ele tem apenas um objetivo, colocar atrás das grades o homem que destruiu sua família. Mariana Beckerty uma veterinária recém formada, cheia de sonhos, sempre foi sincer...