Capítulo 38

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Sentia minha cabeça pesada e corpo mole, com muita dificuldade abro os olhos e demora alguns segundos para que eu consiga me adaptar com a pouca luz que vinha de uma pequena e única janela na parte superior de uma das paredes.

O quarto era pequeno, se que era um quarto. Havia apenas uma cama e um vaso sanitário, tudo no mesmo cômodo. Seguro a vontade de vomitar com o forte cheiro que exalava daquele lugar. Me levando lentamente, meu corpo dói em protesto.

Ando cambaleando até a porta e bato na mesma. Tento gritar, mas o som não sai de minha boca, estava seca. Há quanto tempo eu estava ali?

Olho em volta e não vejo sinal de água, forço mais um pouco a porta.

Droga!

Vou até a janela, além de alta tinha uma grade a protegendo.

Me assusto ao ouvir um resmungo, que vinha debaixo da cama. Vejo dois pezinhos, que parecia de uma criança.

-O...Oi- Minha garganta dói em protesto, e minha voz sai rouca e fraca.

A criança não fala nada, apenas encolhe os pezinhos.

- Está tudo bem, não farei mal a você. Vou tirar a gente daqui.

Me sento no chão próximo a cama, e logo vejo dois bracinhos saindo.

Uma garotinha que deveria ter uns 5 anos sai de baixo da cama, sua magreza e palidez me deixa assustada.

- Mesmo? - ela pergunta se sentando ao meu lado - Vai tirar meu irmão e eu daqui?

- Irmão? - pergunto assustada e me abaixo, vendo embaixo da cama um pequeno bebê.

- O Elliot está dormindo.

Deito no chão e puxo o bebê para perto de mim, ele estava magro e pálido, além de estar gelado.

- Ele está muito gelado. - Respiro fundo e lentamente coloco meu ouvido perto de sua boca, felizmente o bebê tinha respiração, mas estava tão fraca.

- A quando tempo vocês estão aqui? - olho para a pequena garotinha que olhava de forma protetora para o irmão.

- Eu não sei.

Retiro a roupa do bebê que estava suja, molhada e fedida, a fralda estava apodrecendo. Uma lágrima cai ao ver o bumbum do menininho no vivo, toda assado.

- Se você tirar a roupa dele ele vai sentir frio. - a menina diz preocupada.

- Eu só vou aquecer ele. - desfaço o laço da camisola hospitalar que vestia, pego o bebê que não deveria ter mais de 2 meses e coloco contra meu peito nú, passando a camisola por cima dele e me sento na cama. Eu espera sinceramente que isso funcionasse e eu conseguisse esquentar o bebê. Fecho o laço da camisola com dificuldade.

- Como é seu nome? - A menininha que me observava com curiosidade vem ao meu lado e se senta na cama.

- Sou a Nina e você? - Me esforço pra sorrir.

- Eu não tenho nome.

- Não tem?

- O pai me chama de menina.

- Pai? - aperto o bebê contra meu peito, ele solta um resmungo e lentamente mexe o pescoço, a procura de um seio para mamar, contenho o soluço na garganta.

- Sim, ele que trouxe o Elliot. Falou que era meu irmão e eu deveria cuidar dele. Você é a nossa nova mãe?

-Não minha flor, mas prometo tirar vocês daqui, ok?

- Mas porque precisamos sair daqui? O que tem lá fora?

- Você nunca foi lá fora? - pergunto chocada.

- Não me lembro de ter ido. O que tem lá?

Somos interrompidas por um barulho da porta.

- Venha se esconde - a garotinha pula da cama e se esconde embaixo da mesma.

Me levanto e seguro a criança contra meu corpo. Sinto calafrios por todo meu corpo, mas eu precisava ser forte. Não era só minha vida que estava em jogo.

-Bom dia querida. - O homem entra no quarto e fecha a porta atrás de si. Ele era alto e não aparentava ter mais de 40 anos.

- Quem é você? - pergunto rispidamente.

- Você sabe quem sou eu, sou Marcos Linder.

- Marcos Linder está morto.

- Querida vejo que já conheceu nosso filho, como ele está? - Ele diz olhando para meus braços que abraçavam o bebê através da camisola.

- Ele não é meu filho e está morrendo!

- Que criança mais fraca, se está morrendo não merece ser da família. Me de ele aqui!

O homem se aproxima de mim e eu me esquivo.

- Você não vai tocar nas crianças.

- Que seja! - ele soca a parede - quando ele morrer venho buscar o corpo.

O homem joga uma sacola no chão e sai do quarto batendo a porta. Ele estava fazendo uma família de mentira?

Me aproximo da sacola e vejo que ali tinha alguns pães, uma caixa com leite e uma garrafinha com água.

A garota sai debaixo da cama e se aproxima pegando um pão da sacola.

- Eu estava com muita fome, papai não trouxe comida esses dias. - ela comia o pão seco como se fosse a melhor coisa do mundo e eu fico chocada.

- De o leite para o Elliot, ele não mama tem uns dias.

Segurando as lágrimas pego a caixinha de leite que estava na sacola e rasgo uma ponta com a boca, coloco a caixa no chão e abro a camisola, tirando o bebê de dentro dela, olho para a cama mas não tinha lençol ou coberta.

Seguro ele contra meus braços e levo a caixinha ate sua boca, agora o bebê estava mais aquecido, porém estava fraco e sem energias para abrir os olhinhos. Molho seus lábios com o leite e respiro aliviada ao ver ele fazendo o movimento para engolir.

Eu não conseguia pensar em minha fome, sede ou dor no corpo. Só conseguia sentir a tristeza vendo aquelas crianças ali, com fome e frio. Eu precisava tirar elas dali, não sabia quanto tempo Elliot aguentaria.

O assassino era um monstro pior do que eu havia imaginado.

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