Capitulo 16

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- Moça você tem certeza disto? - O senhor de idade perguntava desconfiado.

- Claro seu Jurandir. Meu amigo pediu pra  eu trazer o carro dele, ele anda meio sem tempo.

E então ele se convenceu. Era maldade o que eu estava fazendo? Talvez. Mas que o carro estava ficando uma gracinha, sim estava.

Ignoro  todas as ligações de Jay, e também as mensagens. Quando foi que ele conseguiu meu número?

- Que ótimo trabalho, quem diria que um senhor como  você fazia algo assim!

- Meu espírito é de jovem minha querida- Seu Jurandir sorria orgulhoso.

O carro estava super fofo. Ok, talvez eu fosse um pouco infantil. Mas eu estava ansiosa pra ver a reação de Jason.

- Onde você se meteu ontem a noite? - disse assim  que Fernanda  atendeu o telefone.

- Me desculpe por favor. Eu fiquei tão empolgada em seguir o canalha que esqueci completamente de você - amiga mais sincera que essa não se encontrava.

- Você não sabe o que aconteceu. Aliás já vi sua matéria. Parabéns novamente, só desfez um noivado.

- Só mais um, pelo menos a noiva descobriu a segunda face dele. - Ela grita com  alguém e me deixa quase surda- Ei, tenho que desligar. Mais tarde passo na sua casa, beijos.

- Vou te esperar. Beijo, até mais.

Faltava algumas horas para a tinta do carro secar. Então decidi ir ao orfanato que eu visitava com frequência.

Chamo um uber e depois de 20 minutos chego ao Lar Feliz. Assim que entro pela porta da frente sou recebida por várias crianças vindo me abraçar, acabo caindo no chão e gargalho junto com as crianças. O Orfanato era patrocinado pelo Gogo, então desde pequena eu sempre vinha aqui.

- Vejo que estão empolgados- eles respondem um sim quase  sincronizado.

- Que sauladale tia - Maria a segunda caçula do lar diz vindo correndo em minha direção tropeçando em seus próprios pés.

- Também estava morrendo de saudade de vocês. - A abraço apertado.

- Tia olha meu boletim, eu tenho as melhores nota da sala- Joaquim falava todo orgulhoso.

- E eu entrei na turma de natação pra  competir- Nanda dizia enquanto alisava meu cabelo.

Muitas vezes quando eu ia no lar visitar as crianças ficávamos assim: Todos sentados na sala ou no jardim quando não chovia contando sobre as novidades. E Então dona Madalena nos trazia biscoitos  e leite. Maria tinha 2 anos e meio, foi abandonada pelos pais assim que nasceu. Ela era uma linda criança afrodescendente  que continha um sorriso contagiante.
As outras crianças estavam entre 6 e 12 anos. Eles ali viviam como uma grande família, Gogo não deixava que nada faltasse para eles. Mas como toda criança, elas sentiam falta dos pais, principalmente os mais novos que não entendiam. Eu quando criança tive meus pais ausentes, os via raramente. Para mim Gogo foi meu pai, minha mãe e minha família. Só precisava dele. E  Então pra completar a família se juntou a nós  a Mel e o Mat, depois as gêmeas e agora o caçula também. Nos tornamos uma grande família.

- Quem quer ir tomar sorveteeee? - pergunto me levantando, enquanto as crianças se empolgam. Ao todo vivia 15 crianças ali.

- Temos que convencer o Guilherme  Tia - Sabrina diz apontando para a janela do segundo andar. Só ao noto um pequeno par de olhos castanhos nos olhando a espreita escondido entre as cortinas.

- Não sabia que havia chegado uma criança nova- sorrio para os pequenos- Eu já volto, está bem?

- Ele não fala- Nanda diz enquanto pega Maria pela mão - vamos nos arrumar.

Aceno para a janela em direção ao menino, mas o que recebo é a voritma sem do fechada. Esse vai ser difícil.

- Madalena podemos conversar? - sorrio para a senhora idosa que preparava  algo no fogão assim que entro na cozinha.

- Sente-se querida, as crianças parecem outras quando você aparece - Ela sorri e senta em minha frente.

- Isso deve ser bom, eu queria falar sobre a criança nova.

- Sobre o Guilherme, pobre criança- sua expressão fica triste- Seus pais foram assassinados tem menos de duas semanas, ele não aceitou ainda. E ele presenciou tudo. Toda noite acorda com pesadelos, não come direito e não sai do quarto.

Depois  dessas informações fiquei triste por ele, quem faria tamanha crueldade? Infelizmente vivíamos em um mundo assim. Me certifico que o chocolate que coloquei na bolsa ontem ainda estava nela. E então vou em direção ao quarto onde Guilherme se encontrava. Bato na porta e entro.

- Oi - olhando mais de perto o menino aparentemente tinha uns 8 anos, seu rosto estava abatido. Ele apenas se encolhe na cama - Trouxe uma coisa pra você.

Ele me olha com curiosidade, tiro da bolsa meu chocolate preferido e dou pra ele.

Minha cabeça doi, começo a sentir minha visão ficar turva e então algumas cenas que imaginei serem lembranças aparecem repetidamente.

Um menino chorava, seus olhos estavam inchados ele olhava para um colar em suas mãos.

- Onde vai Nina ? - Anna coloca a mão em meu ombro.

- Porque ele chora?

- Nina, infelizmente no hospital várias pessoas perdem seus entes queridos, o que mais vemos aqui são pessoas chorando. Nina vou buscar o Mat na sala de crianças, não saia desse corredor -

- Ah, ok - uma tristeza cai sobre mim, andei silenciosamente até o menino.

Paro ao seu lado, de perto ele era maior do que eu pensava, devia ter uns 15 anos.

- O que você quer ? - fecho a cara com a pergunta grosseira dele.

- Eu queria perguntar porque você está chorando - digo me sentando ao seu lado.

- Apenas me deixe sua pirralha - diz colocando a cabeça entre os braços, impedindo que eu olhe seus olhos.

- Deve ter acontecido algo triste -Falo olhando para o chão - eu quase perdi duas pessoas.

Ele levanta a cabeça e me olha com o que parecia irritação.

- Não quero saber o que aconteceu com você, vai brincar de boneca e me deixe em paz - pela primeira vez achei um menino bonito, ele seria mais bonito se sorrise. Seus olhos eram um castanho bem escuro meio pretos, quase da cor de seus cabelos, mas sua expressão era de dor.

Saio dali e corro para uma máquina de comida, compro dois chocolates e volto correndo para onde o menino estava, mas não o vejo no chão, olho em volta e não o encontro, suspiro triste.

- O que você quer pirralha ? - Diz saindo de trás de uma porta

- Feche os olhos e abra as mãos - ele me olha desconfiado e o faz, coloco os chocolates em suas mãos - Chocolate - sorrio, eu não queria ver aquele garoto triste, então olhei para minha pulseira, sempre que eu estava triste brincava com seus pingentes assim eu me distraia, retiro a minha pulseira e pego meu pingente preferido, uma linda borboleta azul. - Olha um presente, toda vez que eu estou triste esses pingentes me ajudam, esse aqui eu ganhei da vovó, cuide bem dele ok ? - ele apenas me olhava sem dizer uma palavra, pego sua mão e coloco o pingente nela.

Jason é a única pessoa que vem em minha cabeça antes de tudo escurecer.

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