Capítulo 3

4.6K 611 89
                                    

Ter pesadelos é algo normal, todos os seres humanos os tem. O que me preocupava era: todos tinham o mesmo pesadelo se repetindo noite após noite?

Essa era a quarta vez... e todas as vezes  eu sonhava com aquele mesmo cenário repetia-se cada detalhe possível. Eu já estava cogitando a idéia de ir a um psicólogo.

Suspiro e fico mexendo em minha pulseira, era uma boa distração. Hoje eu iria jantar na casa do Gogo. Estava morrendo de saudade de meus sobrinhos, Eu me apeguei muito a eles.

Olho pela janela e vejo que o Sol não estava tão forte. Um dia perfeito para arrumar o jardim. 

Ouço um barulho estranho, parecia mais um choro doloroso. Minha janela dava exatamente para o jardim do vizinho gostoso e nervoso.

Algo no jardim do vizinho me chamou a atenção. Desço correndo as escadas, ignoro minha consciência que dizia " não faça isso " também ignoro as palavras do cara que veio em minha mente.

Pulo o pequeno muro e vou na direção daquela bolinha de pelos.

- Oi amiguinho - Me aproximo do gatinho, mas ele recua desajeitado, sua patinha estava sangrando. Pelo estado do Gato imaginei que ele não tinha dono. Não havia mal leva-lo para minha casa e trata-lo.

- Ei amiguinho venha cá -  vou me abaixando lentamente, tentando não assustar ele. O gato era muito arisco, saiu correndo indo ao lado da enorme casa. Corro atrás dele, quando passo por uma enorme janela não pude conter a curiosidade e olhei por ela.

Fico paralisada por breves segundos,
nossos olhos se encontram, meu vizinho me olha um pouco confuso. O que me surpreendeu não foi que ele estava apenas de shorts - bom talvez um pouco, ele era bem mais gostoso do que pensei - ou o fato de  estar me olhando daquele jeito ameaçador. O que me assustava era o que ele segurava. Engulo em seco e me abaixo rapidamente.

- O que você está fazendo aqui ? - Ouço sua voz se aproximando da janela. Meu Deus eu iria morrer desse jeito.

- Foi só uma ilusão, você está alucinando - Digo engrossando um pouco a voz, vai que ele acredita.

- Ilusão merda nenhuma - ele então pula  a janela com muita agilidade parando a minha frente. Me levanto lentamente, sinto minhas costas sendo arranhada por algo que estava na parede, mas esse era um problema minúsculo comparado a aquele que estava a minha frente, me olhando intensamente.

Suspiro aliviada ao perceber que ele já não segurava mais a arma.

- O que faz aqui?! Não deixei claro da última vez que não queria que entrasse em minha propriedade? - Aproveito que ele está falando e ando de lado tentando sair de perto dele. Estávamos de frente um para outro, atrás de mim havia a parede. Minha única escapatória eram as laterais.

Me assusto quando sua mão bate contra a parede, impedindo que eu passe. Levanto a cabeça  e olho em seus olhos.

- Olha eu não tinha intenção de vir aqui só pra você saber tá - Respiro fundo e continuo - Eu apenas vim ajudar um gatinho que estava machucado.

- Não me importo se é um gatinho, um cachorro ou um jacaré - ele aproxima o rosto do meu - não aconselho que volte aqui

- Olha não se preocupe com isso, aqui eu não venho mais - o empurro - Mas se me der licença vou apenas pegar o gatinho e sair daqui, ok?

Não espero ele responder, apenas viro e vou na direção em que o gatinho havia ido, ouço seus passos atrás de mim.

- E como vou saber se você não está tentando me enganar? - pergunta se colocando a minha frente, desvio dele e continuo procurando. Vejo em baixo de uma cadeira o gatinho, vou até lá e o pego. Ele arranha meu braço quando o seguro, mas não me importei.

- Isso responde sua pergunta? - ele não diz nada, apenas alivia a expressão  - Pronto amiguinho vou cuidar de você - passo a mão em sua cabeça e olho para o homem a minha frente - espero não te ver mais seu... seu - me contenho para não xingar ele, vai que é um traficante, mas pelo porte físico parecia mais um matador de aluguel, talvez  um justiceiro,  por que mesmo eu estava ficando com calor?

Sinto um calafrio ao me lembrar que uns minutos atrás vi ele segurando uma arma. Me apresso e saio dali sem olhar para trás, mas eu sabia que ele me olhava enquanto eu me afastava.

- Não importa o tanto que eu olhe você não consigo imaginar um nome que combine - Digo para a pequena bola de pelos que estava deitado afastado de mim - Você é tão arisc... Isso Arisco. Já sei, você irá se chamar Riss.

O  gatinho era apenas um filhote ainda é já foi muito mal tratado, isso era triste. Depois que eu o trouxe para casa demorei longos minutos para conseguir trata-lo, por fim consegui ver que o  machucado era superficial, passei remédio e fiz um curativo.

- Riss  gostou do seu nome? - ele não repondeu, bom seria estranho se respondesse. Aí sim eu iria a um psicólogo.

Eu tinha quase certeza que iria demorar para conseguir a confiança do Riss, mas eu faria o possível para ele se sentir seguro. Ele era preto e peludo, exceto pelo olho esquerdo que tinha uma  mancha azul .

Durante a tarde eu tinha ido no mercado e comprei ração para o Riss, também uns brinquedinhos.

[...]

- Titiaa - a miniatura de pessoa corre em minha direção, Abraço e encho o Duh de beijinhos

- Oii meu amor - Duh estava prestes a completar 3 anos e era a copia do Gogo.

- Tiaaa vem ver isso - Sofia segura em minha mão.

- Não vem comigo - Elena aparece e passa por baixo de minhas pernas.

- Oii Nina - Mat beija minha bochecha e pega Duh no colo - Meninas fiquem calmas, não assustem a tia se não ela vai ir embora.

- Não vai tia - Elena agarra minha perna, Sofia acha graça e segura na outra.

- Nina - Mel aparece sorrindo com Gogo ao seu lado. - Meninas vão para seus lugares na mesa

As duas saíram saltitando entrando na porta da sala de jantar.

Gogo vem até eu e me abraça como se ele não me visse há anos.

- Calma Gogo estou longe a poucos dias - o Abraço

- Você não sabe o quão difícil isso é - Beijo sua bochecha e vou até Mel.

- Melll - a Abraço

- Nina como está indo as coisas ? - diz retribuindo o Abraço

- Huum... estão ótimas - Achei melhor não mencionar o meu vizinho que supostamente podia ser um traficante, vendedor de órgãos e por aí vai. Se eu contasse algo assim para o Gogo ele fatia eu voltar para cá, eu amava aqui. Mas também amava minha independência.

- Que bom. Você sabe que qualquer  coisa é só pedir.

- As meninas sentiram a sua falta. O Duh não para de te chamar melhor irmos.

O jantar foi ótimo, conversamos e contei algumas coisas e planos para meu futuro, Duh não queria mais sair de perto de mim. Pin ficou feliz em me ver e se não fosse pelas crianças eu a levaria embora.

Quando decidi ir pra casa já passava das 22:00, fiquei preocupada com o Riss. As crianças estavam loucas para conhecer ele.

Estaciono o carro e Desço do mesmo. O sono tinha tomado conta de mim. O que eu mais queria era um ban...Paro de andar quando o vejo parado na frente da minha porta. Recuo um passo quando ele sorri.

- Olá Nina.

Eu era um ímã pra atrair coisas ruins, só pode!

Lembranças Esquecidas Onde histórias criam vida. Descubra agora