Capítulo 26

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Uma declaração de uma das vítimas do acidente de 1995.

Ninguém nasce assassino, as circunstâncias da vida os torna.
Era o dia da apresentação de balé das minhas pequenas, Lara e Luana.
Enquanto dirigia eu olhava pelo retrovisor a alegria das gêmeas, estavam tão empolgadas.

Minha esposa no banco de passageiro acariciava a barriga de 7 meses, logo nosso bebê iria nascer. Eu estava na melhor fase da minha vida.

- Papai eu vou ser a bailarina mais linda - Lara estava tão ansiosa.

- Vocês duas já são as bailarinas mais lindas, posso ganhar um autógrafo?

- Estão mais para dois pavões tagarelas - Cris minha primogênita estava na temida adolescência, com seus 14 anos.

- Chata chata chata - Lara cantava.

E então foi tudo muito rápido. Em um segundo eu sorria para minhas meninas, no outro o carro capotava.

Não sei quanto tempo se passou, quando acordei e olhei pro lado, meu coração se partiu. Eu tremia, já soluçava. Com muito esforço e dor eu olhei para trás, minhas filhas estavam  feridas, mas vivas.

- Cris. CRIS. - Cristina abriu os olhos lentamente, seu rosto estava cheio de sangue.

- Graças a Deus. Meu amor preciso que você desengate o cinto de segurança, ok? - falar era um esforço.

Cris tirou seu cinto, em seguida os da gêmeas.

- Agora meu amor quero que você tente abrir a porta e retire suas irmãs do carro.

Ela tentou desesperadamente abrir a porta, sem sucesso.

- Não consigo abrir papai.

- Senhor você está bem? - Um homem batia no vidro do carro, após fazer um esforço e com ajuda ele abre a porta do motorista.

- Por favor, tire minhas filhas primeiro. - Insisto, elas precisavam sair antes de mim.

O homem tenta abrir a porta de trás, porém não foi possível.

- Vamos tirar você  primeiro, em seguidas pegamos as meninas pelo banco da frente. Muitos carros estão pegando fogo, temos que ir rápido.

- Papai não deixa a gente aqui - As meninas estavam em Pânico.

- Doutor saia daí, o carro vai explodir! - Alguém  gritava para o homem que tentava me tirar do carro.

- TIRE MINHAS FILHAS- eles me ignoram e me arrastam pra fora do carro, a dor era horrível. - Minhas filhas por fav... - então  uma explosão.

Olho lentamente para trás, não. Eu não podia estar vendo isso, o carro que estava minha vida, meu motivo de viver pegava fogo.  Minhas filhas gritavam, chamavam por mim e choravam muito. Me seguraram enquanto eu tentava chegar ao carro eu precisava salva-las.

Com muito esforço consigo me soltar, mas já não ouvia mais nada. Me aproximei do carro em choque, meu rosto ardia mas não me importei.

- O QUE VOCÊ FEZ - Eu gritava, soluçava, xingava todos e não deixava ninguém se aproximar - EU DEVERIA TER MORRIDO COM ELAS.

Esse dia foi o qual  eu perdi minha família, minhas filhas, esposa e o meu filho que nem cheguei a conhecer. Esse foi o dia que eu virei outra pessoa, um futuro assassino.

Era o dia que deveriam ter deixado eu morrer.

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