É engraçado pensar nas diversas pessoas que podem estar passando pelos melhores momentos de suas vidas, nas infinitas coisas boas que podem estar acontecendo em apenas um piscar de olhos. Ou em uma nota musical que é emitida. A música pode nos trazer para fora do sofrimento, para fora do preconceito, para fora desse mundo. É por isso que eu a amo, ela me mostra o lado bom das coisas. A música, que em sua simplicidade já me salvou diversas vezes.
Ingrid Ribeiro pensa isso enquanto troca as cordas de seu violão. Cantarolando "The Nights" do Avicii.
"Realmente, se super-heróis existissem, a música seria minha super-heroína particular". – Pensa ela.
A garota termina de colocar as cordas e pendura o violão na parede, ao lado de sua guitarra. Ela sorri ao ver o resultado, a tempo de ouvir um suspiro.
- Ah, se você cuidasse do seu quarto do jeito que cuida do violão, eu e seu pai ganharíamos na loteria – diz Jorge, pai de Ingrid, encostado no batente da porta.
- Engraçadinho – responde Ingrid, jogando uma almofada nele – Se eu vou bagunçar de novo, não faz sentido limpar, entende?
- Entendo, mas deixar um salgadinho da semana passada no seu guarda-roupa me faz duvidar da sua filosofia – responde ele - Eu estou falando sério. Limpa. Seu. Quarto.
- Tá – murmura ela – Quando eu tiver tempo.
- Você tá de férias! Tem tempo de sobra! – responde o pai.
- Você tem algum tipo de ouvido supersônico? – brinca ela.
Seu pai não responde. Dando de ombros, ela se senta no computador e pesquisa a cifra de "The Nights", para aprender no violão. Vendo que não é tão difícil, ela se levanta para pegar o instrumento.
Começa a treinar as notas e o ritmo. Depois de um tempo, vai pegando o jeito. Quando começa a dominar a música, ela percebe que falta algo.
"O canto". – Pensa ela.
Só de pensar em cantar, ela sente um nó se formando no estômago. Depois de um segundo, decide ligar para Vitor. O nó afrouxa.
- Vitor, preciso que você venha para a minha casa – manda ela, quando ele atende.
- Oi pra você também! – ele responde – Tô indo.
Cinco minutos depois ele chega na casa dela.
- Oi Vitor! – Jorge grita quando vê o garoto entrando.
- Oi tio! – ele responde, sem fôlego.
- Você veio correndo? – pergunta ela, quando Vitor entra em seu quarto.
- Não.
- Aham, então por que tá todo suado? – pergunta.
- Cala a boca – ele responde, a fazendo rir.
- Eu tava trocando as cordas do violão e cantarolando "The Nights", até que tive a ideia de aprender. Consegui. Agora, só falta você cantar – diz ela, apontando para ele em um gesto solene.
- Você conseguiu fazer tudo isso em uma tarde? E sozinha? – pergunta ele, pasmo.
- Eu sou determinada – justifica ela.
- Eu demoro séculos pra trocar as cordas, e sempre tenho ajuda! E você conseguiu sozinha? – ele estava impressionado – Você é incrível.
- Supera – brinca ela.
- Eu irei, e não se acostume com os elogios, eles são raros.
- Falou o garoto que veio correndo quando eu liguei. – disse ela.
- Eu não vim correndo! Eu suo naturalmente! – diz ele, fazendo Ingrid gargalhar.
Depois de um tempo rindo da cara de Vitor, ela pergunta:
- Tá, vai cantar ou não? – diz ela recuperando o fôlego.
- Eu... acho que você deveria tentar... já faz tanto tempo... – ele começa.
- Vai cantar ou não? – interrompe ela, ríspida.
Ele suspira – Já te disseram que você é muito mandona?
Ele canta e ela toca, a música fica linda e no final, Ingrid bate palma.
- É por isso que essa música é a minha favorita! – diz ela.
- Não era "Do I wanna know" do Artic Monkeys? – pergunta ele, cético.
- Primeiro: não "era", é. Segundo: se alguém não gostar dessa música, deve ser internado. Terceiro: "The Nights" é minha favorita, no off... eu tenho uma reputação a zelar entende? – brinca ela.
- Aham. Duvido que você consiga se segurar se alguma garota bonita falar que gosta de Avicii – diz Vitor.
- Isso não vem ao caso – ela ri.
- In, vamo na loja de instrumentos? – pergunta ele, mudando abruptamente de assunto.
- De novo? A gente já passou lá ontem e estranhamente, nenhum dinheiro surgiu no meu guarda-roupa hoje pra comprar nada.
- Também, nessa bagunça. O dinheiro pode ter surgido, mas você nunca vai achar – brinca ele.
- Muito engraçado – diz ela - Não faz sentido passar lá só pra ficar olhando.
Eles se entreolham.
- Mas não arranca pedaço né – finaliza Ingrid. – Pai! Vou passar na loja de música com o Vitor!
- De novo? – ele pergunta.
- Sim. A gente não tá fazendo nada mesmo...
- Por escolha sua! Tem um quarto pra você lim...
- Tchau! Amo você! – interrompe ela.
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Quando a noite se torna eterna
Lãng mạnDuas garotas. Duas histórias. E muitos traumas. Ingrid e Lina irão se conhecer por pura coincidência, mas logo descobrirão que estavam destinadas.