Capítulo 3 - Lina

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Lina e Gus saíram de casa e foram andando para a loja de instrumentos. Quando chegaram, viram uma garota negra sendo expulsa da loja.

- Eu não peguei nada! Quantas vezes vou ter que repetir isso?! – grita ela.

- Senhorita, saia, por favor – fala o segurança, em uma voz irritantemente baixa.

- Não! Eu não fiz nada! – diz a garota.

- Ela não fez nada! – se aproxima um garoto. Segurando a mão da garota.

- Então vou ter que... – começa o segurança. Até que é interrompido por Gustavo.

- Ela disse que não fez nada! Deixe-a em paz! – grita.

- Senhor, é contra o regulamento tocar nos instrumentos...

- E aquele garoto ali? Ele acabou de tirar o violão do lugar, vai expulsá-lo?

O segurança fica em silêncio, constrangido.

- Isso é um absurdo sabia? Você devia ter vergonha – sentencia Gus.

- Gus... – sussurra Lina.

- Lina, espera um pouco – diz Gus, se virando para a irmã.

- Gus... – repete ela, mas ele nem a escutava mais, voltou a discutir com o segurança.

- Olha, eu não preciso que me defendam. Muito obrigada, mas eu cuido disso – disse a garota para Gus, interrompendo a discussão – Sua irmã parece precisar mais de você agora...

Lina estava batendo uma mão na outra, nervosa.

- Ah Lina... desculpa – disse ele – Essa discussão não acabou – ele diz, apontando o dedo para o segurança – Você vai pagar, seu racista...

- Gus! Vou embora! – grita Lina, se virando para sair.

- Espera! – diz ele, correndo atrás dela.

- Lina! – grita Gus, correndo atrás da irmã.

Lina chega em casa e sobe para seu quarto.

- Lina... aquela era uma situação muito grave...

- Eu sei. Não sou estúpida. Aquele homem é horrível, eu só... não gosto de gritos. – Conclui ela.

- O que tá acontecendo? – pergunta Juliana, mãe dos gêmeos.

Gus e Lina se entreolham.

- Nada. Eu só... fui para a loja de instrumentos e vi um caso de racismo – diz Gus.

- Então por que sua irmã está desse jeito? – pergunta a mãe.

- Eu contei para ela, e obviamente, ela se horrorizou com a situação.

- Aham. Entendi – diz a mãe, mesmo não estando convencida, ela sai.

Gus e Lina suspiram, aliviados.

- Eu sabia da gravidade da situação, eu só... fiquei nervosa em vivenciar aquilo e os gritos... – se explica Lina.

- Eu sei, irmã. Eu sei.

.

Mais tarde, a mãe dos gêmeos chama Gustavo para conversar.

- Filho – começa ela – Quantas vezes eu já falei para você não ficar saindo com sua irmã para todo lugar?

- Eu não... – começa Gus.

- Não minta! – diz ela – Eu conheço vocês. Ela tem transtorno do espectro autista, Gustavo. Ela não pode ver certas coisas. Um caso de racismo, por exemplo.

- Você diz isso como se ela não fosse normal. Ela não é doente mãe! – fala ele – Lina tem que ver que a vida também pode ser sombria.

- Eu sei – diz ela – Mas, não saia com ela para todo lugar ok? Eu quero protegê-la.

– Você não vai conseguir trancá-la para sempre – Gus suspira e dá as costas para sua mãe.

Quando a noite se torna eternaOnde histórias criam vida. Descubra agora