Part 3

2.2K 172 4
                                    

A manhã passou a uma velocidade alucinante. Marco tinha-me ajudado a fazer a entregue dos bolos que acabei por concluir a tempo. Estranhamente ele não tinha saído da carrinha quando me acompanhou para fazer a entrega,  não liguei muito, já que os funcionários do catering já se encontravam a minha espera para me ajudar, mas não pude deixar de notar que ele manteve a cara escondida atrás de um panfleto de supermercado durante os quase quinze minutos que lá estivemos.

-Achas-te alguma coisa interessante no supermercado Lidl.

-Como? - Ele olho para mim surpreso como se não tivesse entendido a pergunta

- O panfleto... estiveste tão absorto por ele que pensei que tinhas visto alguma coisa de especial.

Ele sorriu e respondeu com pouco caso.

-  Não vi nada de especial mas como raramente vejo esse tipo de coisa estive a examinar tudo.

- Está bem. - Achei estranho mas não achei que valesse a pena falar mais nisso.

O ambiente dentro do carro enquanto voltávamos era leve, contamos histórias e brincamos um com o outro, sentia-me feliz.  Estava cansada.... mas extremamente feliz. Sentia-me a vontade com ele. Parecia conhece-lo desde sempre...acho que é clichê ...mas não deixava de ser verdade.

Por uma razão desconhecida sentia esperança em ser novamente amada. Bem, não tão desconhecida assim, o meu companheiro de viagem, tinha durante toda a manhã me lançado olhares penetrantes. Várias vezes o apanhei a despir-me com o olhar e longe de me sentir constrangida, senti-me valorizada e desejada como nunca me tinha sentido na vida.

Sempre tinha sido a miúda do Michael, o "pretty boy" , filho do médico da aldeia. Bonito, inteligente, cheio de vida e cativante. Nunca outro rapaz tinha ousado lançar seu charme para cima de mim porque eu lhe pertencia, mesmo depois da sua partida, nas circunstâncias das mais lamentáveis, tornei-me numa pária a nível social. Quem iria querer sair com aquela que tinha sido trocada pela sua própria mãe?

Por isso essa atenção era para o meu ser uma bênção, fazia despertar em mim um mundo de possibilidades que eu tinha fechado a sete chaves havia mais de um ano.

Senti que podia amar novamente, viver outra vez com esperança num futuro onde existiria um companheiro e talvez quem sabe até filhos, será que estaria a divagar muito? e sem qualquer fundamento...

Mas nesse momento olhei para ele ...um simples olhar... E nos seus olhos encontrei um sentido, uma esperança de felicidade que há muito me escapava.. havia ali sentimentos.

Estacionei o carro atrás da loja, e entramos. Durante todo o caminho pensei numa forma de o reter mais uns momentos perto de mim.

-Tens fome? Queres ficar para o almoço? Não vou abrir de tarde, por isso posso preparar alguma coisa rápida.

Olhei para ele expetante, cheia de medo de ver o meu convite recusado.

Mas ele logo abriu um sorriso que aqueceu o meu coração.

-Claro que fico, mas não precisas de fazer nada de especial para mim.

- Uma salada e uns sandwichs?

- Maravilhoso.

O meu apartamento ficava logo por cima da pastelaria, dirigi-me para a escada interna que ligava os dois espaços logo seguida de Marco.

Era a primeira vez que iria ficar sozinha com alguém na minha casa. Mas aos vinte e um anos, considerava-me uma mulher madura, mesmo que a maioria das mulheres da minha idade não passassem de simples meninas, a minha vida tinha-me obrigado a crescer.

Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora