Part 16

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Quando acordei estava deitada no sofá com o meu irmão e o meu pai debruçados sobre mim. A razão de estar ali não me ocorreu imediatamente, até que o som da televisão se fez ouvir na minha mente ainda nublada. O acidente... Marco tinha tido um acidente. O meu amor podia estar ferido ou morto. 

-Marco - Gritei, e tentei levantar-me sendo segurada pelo meu progenitor.

-Calma filha. Ele não morreu.- Adivinhando os meus receios.

O alivio que essas palavras me trouxeram foi enorme e instantâneo, mas isso não alterou o fato de que precisava estar com ele para confirmar.

-Quero vê-lo!- Debatendo-me para me colocar de pé. Desta vez o meu pai não me impediu mas mal o fiz ele abraçou-me carinhosamente. O que provocou uma enchurada de lágrimas  que eram ao mesmo tempo de alivio e de dor. 

- E vamos vê-lo, mas primeiro vais  te recuperar porque vais precisar de todas as tua forças.-Disse conciliador, mas o tom de voz assustou-me, faltava alguma coisa, será que ele não me tinha dito tudo.

- Porquê? - O meu pai lutava para encontrar as palavras certas para me dar a noticia, por isso não devia ser coisa boa. Senti o meu coração acelerar novamente e a angustia a apoderar-se da minha garganta e vi-me a implorar ao meu pai. - Por favor paizinho, diz-me como ele esta.

-De acordo com as últimas noticias ele está em coma, meu amor.- O anuncio foi feito numa voz muito doce e pude ver nos seus olhos o despontar de umas lágrimas. O meu pai sofria por mim. Custava-lhe imenso me dar estas noticias.

O desespero apoderou-se de todas as fibras do meu ser. Agarrei-me ao meu pai em agonia e chorei e gritei contra o seu peito. Queria sair dali a correr e ir ter com ele, estar ao lado dele, sofrer por ele. Finalmente consegui  acalmar-me e fui atacada por uma anseia enorme de mais  informações. Precisava saber tudo e o mais rapidamente possível e o melhor seria ir a fonte.

-Passa-me o meu telemóvel por favor. Preciso ligar.- Pedi ao meu irmão, que sem perder tempo deu-mo, procurei o numero de Nessa e fiz a chamada. A espera pareceu-me interminável mas ao fim do terceiro toque ela atendeu. E entre os soluços consegui perguntar-lhe.

- Nessa sou eu. Como é que ele esta? Por favor não me escondes nada.- Pedi a minha amiga.

-Oh Sara, ia mesmo agora ligar-te princesa.- Ouve uma ligeira paragem antes que ela continuasse com uma voz embargada pela emoção.- Ele está estável agora mas ainda em coma. Os médicos acham que ele já não corre perigo de vida e que o pior esta para trás, mas não conseguem nos dizer quando é que ele vai acordar.

- Graças a Deus! Quero vê-lo, em que hospital ele esta?

- Estamos no St. Mary, mas ninguém pode vê-lo para já. As visitas só estão autorizadas a família e próximos.

- Não me interessa, quero estar ai com ele, perto dele e nada nem ninguém me vai impedir.

- Claro que queres, vou explicar quem és e deixar instruções na entrada para te deixarem subir,  mas ...- Hesitou -Prepara-te princesa isto está um fim do mundo.

-Que queres dizer?

-Jornalistas por todos os lados, uma verdadeira confusão. Vais ter muita dificuldade para cá entrar.

-Não me interessa!Eu dou conta.  Eu quero estar perto dele Nessa - Afirmei quase gritando. Nada neste mundo seria capaz de me manter longe do meu amor, não neste momento em que eleestava a precisar de mim, se tivesse que atravessar uma mar de gente para o ver seria o que eu faria.

- Entendo princesa, eu só te estava a alertar.  Acredita, nos queremos que venhas, fico a tua espera, dá-me um toque quando chegares para que eu te vá buscar a entrada.- Disse com sua voz cheia de meiguice que chegou a acalmar-me por um momento.

- Nessa  desculpa mas não estou preparada para o perder, amo-o tanto.

- Eu sei, eu vi e senti o tamanho do vosso amor. - Ouvi as lágrimas na sua voz, sabia que ela sofria comigo.- Vem depressa, também preciso de ti. - Confessou.

- Vou o mais rapidamente que conseguir. Prometo

Desliguei.  Andrew aproveitou esse momento para falar pela primeira vez constrangido.

-Desculpa Sara, mas tive de contar. Eu sei que tinha prometido mas  tive de explicar ao pai porque fiquei tão aflito para voltar para cá quando vi a noticia na televisão.

- Tudo bem, não tem problema.-  Abracei o meu maninho, que como eu, não escondia a angustia que toda esta situação lhe provocava.

Andrew ficou em casa contra sua vontade, e só o consegui convencer depois de prometer que logo que soubesse mais alguma coisa ligaria. O meu pai insistiu em levar-me, o que agradeci porque não me sentia em condições de conduzir.

Durante a viagem aproveitei e contei toda a historia do meu romance com uma estrela de Rock , e expliquei porque o tinha escondido. Não que o meu pai me tivesse perguntado alguma coisa, mas ele merecia uma explicação. O meu paizinho não me julgou nem teceu qualquer comentário, apenas me disse que estaria sempre comigo para o que eu precisasse. O fato de contar toda a minha historia com Marco,  fez-me ter uma viagem nostálgica a todos esses momentos incríveis que tinha vivido com ele num espaço tão curto de tempo e aliviou um pouco a angustia que eu vivia. A noticia de que ele não iria morreu, era o conforto que eu precisava, todo o resto sabia que poderia enfrentar.

A viagem até Londres pareceu-me interminável, e quando chegamos encontrar o hospital não foi tarefa fácil, porque nem eu nem o meu pai conhecíamos a cidade, mas depois de muita insistência e de muitas pedidos de assistência, conseguimos chegar.

Tivemos que estacionar o carro a cerca de um quilometro e percorrer o caminho a pé. A cerca de quinhentos metros da entrada do hospital praticamente já não se conseguia andar. Cada canal de televisão do pais devia ter enviado uma carrinha que se encontravam paradas no meio da estrada,  estas eram reconhecíveis pelos logotipos que se afixavam em todas elas. Pessoas corriam em todas as direções, muitas munidas dos mesmos artefactos usados pela equipa que foi fazer a reportagem na minha pastelaria.

Finalmente e a muito custo chegamos a entrada do hospital passando despercebidos. Ninguém pareceu ligar a uma rapariga insignificante e a seu pai, o que me deixou muito satisfeita. A entrada para o recinto estava condicionado. Um porteiro pediu a nossa identificação e quando anunciei o meu nome, vi-o fazer um gesto praticamente imperceptível,  a uma pessoa que logo descobri era jornalista.  De um momento para o outro era empurrada em todos os sentidos. Os jornalistas e as suas perguntas  caiam de todos os lados. "namora com o Tarregui" " desde quando" " vão casar" "Acha que vai morrer" esta ultima questão deu-me uma vontade louca de desfeitar a pessoa que a tinha colocado, mas segurei-me. Assoberbada, debatia-me para escapar, tentando procurar o refugio do hospital quando senti uma mão no meu braço que me guiou na direção certa enquanto um policia abria caminho para a nossa passagem.

Quando entrei no recinto, e o silencio do lugar me envolveu, senti a letargia da paz que desceu sobre mim. Nessa estava ali como prometido e veio correndo abraçar-me e choramos ali as duas. Sabia que as luz que se acendiam e apagavam por detrás de mim eram as luzes de câmaras que captavam o nosso desespero, e que no dia seguinte este momento de dor que deveria ser intimo, estaria em todas as revistas do pais.  Mas nesse momento não importava. Nada importava a não ser o meu amor.




Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora