Part 5

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Fechei a pastelaria nesse dia as oito horas da noite e corri para casa. Preparei uma comida rápida e tratei da limpeza do meu lar. Verifiquei se o meu telemóvel tinha bateria e esperei a sua ligação.

E esperei...

As onze horas levei o meu corpo cansado de chorar para a cama.

Ele não me tinha ligado, e eu corajosa não tinha tentado entrar em contacto com ele. Foi difícil não lhe ligar para xinga-lo, mas não mantive-me forte, era ele que devia entrar em contacto comigo. Mas queria xinga-lo na mesma, não deixei espaço para a imaginação e em voz alta recitei todo o meu imenso repertório de palavrões, que durante anos vinha acumulando sem nunca ter coragem de os usar.

Cheguei a triste conclusão de que não tinha passado de uma simples distração de ano novo, embora no meu coração tinha tido a esperança de ter significado mais do que isso. Pensei que tinha sido especial de alguma forma para ele, porque para mim tinha sido muito ...muito especial.

Para ele tinha sido apenas mais uma, de uma longa lista de mulheres que já deviam ter existido na sua vida.

Não me arrependia do que tinha feito. A necessidade de me sentir de alguma forma amada, tinha sido enorme. O facto de me sentir atraída até a loucura por esse homem também tinha jogado na minha decisão, na minha decisão de me entregar. de qualquer forma agora estava feito e guardaria para sempre essa linda recordação e no meu coração a esperança do que poderia ter sido a melhor coisa da minha vida. Mas enfim...estava acabado.

Ele tinha continuado com a sua vida e eu faria o mesmo com a minha.

A semana transcorreu normalmente. Estava a tentar fazer as pazes com o mundo depois de dois dias de sofrimento intenso. Ninguém compreendia meu súbito mau humor, mas nada expliquei.

Domingo a noite chegou devagar depois de trabalhar na parte da manhã, tinha ido para casa descansar e tratar das minhas coisas de casa como sempre, não pude deixar de pensar que fazia hoje uma semana que eu o tinha conhecido.

Essa noite era a única em que podia-me dar ao luxo de estar acordada até mais tarde, porque segunda era dia de repouso e por isso iria jantar a casa do meu pai. Como de costume ele tinha começado a preparar o jantar que eu iria acabar quando chegasse. Era uma pequena tradição que tínhamos começado a alguns meses. Permitia-nos conversar assuntos mais delicados longe dos ouvidos sempre atentos do meu irmão. E nesse dia não foi exceção.

Apenas tinha colocado as batatas e a carne no forno que fui logo bombardeada com algumas perguntas.

- Está tudo bem contigo?

- Sim pai, porque perguntas?

- Tens andado irritada esta semana. Várias pessoas vieram perguntar-me se estavas doente. Velhas coscuvilheiras essas, não é verdade?- Sorri ao seu comentário, que andava muito perto do meu próprio pensamento. Quem vivia num vilarejo pequeno como o nosso tinha que estar preparado para todas essas inquisições, para todas as más línguas e intromissões.

- Não é nada pai. Ando só cansada. Parece que todos os dias são iguais, adorava poder tirar alguns dias de férias e descansar.

- E porque não?

- Oh! Paizinho lindo! E quem é que deixo a frente da pastelaria? Quem vai fazer o meu trabalho?

- Simples, contratas alguém.

- Achas que é simples assim? Quem me dera ...Para te falar a verdade, tenho pensado nisso, mas estava a espera de ter mais um pouco de estabilidade financeira para avançar com a contratação de um pasteleiro. Mas não sei se consigo adiar mais. Preciso mesmo de descansar, este ano tem sido terrível. - Olhei para ele desamparada e toda a magoa que sentia veio ao de cima. O meu pai sabia que não tinha sido fácil e cheio de carinho disse baixinho.

Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora