Part 15

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Uma semana se tinha passado desde que tinha deixado Marco em Londres. Embora não tivesse acabado o relacionamento estava ainda muito magoada. Sabia agora que o meu amor não confiava inteiramente em mim, por muito que ele dissesse o contrario, tinha percebido as suas razões mas o meu coração custava a aceitá-las, mas por outro lado, não queria e não podia  deixá-lo. Ele fazia parte de mim...

Aproveitei esse tempo longe dele para, com a ajuda do meu irmão, pesquisar tudo sobre Tarregui. O que eu encontrei deixou-me de boca aberta. Para além de ter um namorado famoso como cantor, ele também era um grande empresário e os seus interesses eram bem diversificados, mas incidiam particularmente no ramo imobiliário. Soube que ele neste momento estava numa tournée pelo mundo que deveria acabar dentro de dois meses e que já testava a trabalhar sobre um novo álbum.Uma verdadeira máquina de trabalho...

Na Internet também encontrei algumas referências a namoradas que ele tinha tido, a ultima tinha sido mais de um ano antes da saída da nossa foto. Andrew quando a viu não quis acreditar que era a sua irmã que estava ali abraçada a um dos grandes ídolos do momento e depois de devorar a noticia, olhou para mim, com os seus grandes olhos azuis esbugalhados.

-É verdade o que está aí escrito? És a namorada de Tarregui? Era por isso que queria a minha ajuda para encontrar tudo a respeito dele?- Quando pedi a sua ajuda esperava não ter que lhe contar nada, mas esta maldita noticia surgia novamente. Tinha pensado ingenuamente que só estivesse na empresa cor-de-rosa e agradecia baixinho, que não tivesse saido nada a cerca da nossa discusão depois do encontro com a minha mãe.

-Sim.

-Desde quando? Mas mais importante, como?

-Quase dois meses, como ...namorando, lógico!- Disse rindo da incredulidade dele.

-Não brinques comigo mana! Quero saber tudo, como o conheceste, onde o conheceste, como é que conseguiste esconder isso de todo mundo até agora. Imagina a bomba que vai ser quando descobrirem com quem namoras.

Nesse momento tive de o parar.

-Andrew, estás proibido de dizer o que quer que seja a alguém. Nem mesmo ao pai, entendido.

-Mas...

-Nada de "mas"

A sua cara de magoado, quase me derreteu o coração e tentei explicar com a minha voz mais doce.

-Ainda é muito cedo para contar. Imagina que não dá certo, vou ser o motivo da risota de toda a aldeia, e depois do que aconteceu com a mãe não quero que ninguém tenha motivos para falar de nós.

-Mas ninguém iria rir de ti. Estás a namorar um cantor, só isso é motivo de orgulho para mim. Gostava de poder esfregar isso na cara dos meus colegas de escola.

- Um dia, talvez, poderás fazer isso, mas por agora deixa estar as coisas como estão, por favor.

A contragosto vi-o assentir

-Posso ao menos conhecé-lo?

-Podes, passa lá em casa Domingo a noite.

-Nice!!

Depois dessa primeira abordagem à Internet, pedi a Andrew que me desse aulas todos os dias sobre como usar o computador para me tornar autônoma rapidamente. Visitei o Youtube e percebi todas as vantagens que poderia trazer para o meu negócio e aproveitei para ver alguns vídeos de Tarregui. Adorei tudo nele, a sua desenvoltura, o olhar maroto que conhecia tão bem, o charme estonteante e a sua voz, que ganhou outra cor quando associada a pessoa. Como é que eu não tinha reconhecido a sua voz ? Mas o que mais me surpreendeu foi a forma como ele dançava, a desenvoltura pouca inata para quem era tão alto como ele. Depois do segundo vídeo estava outra vez rendida incondicionalmente a esse Deus que me tinha escolhido como sua companheira. Sabia que a nossa relação poderia ser efêmera mas estava decidida a que cada momento contasse.

Mas outras coisas aconteceram nesta semana. Recebi uma chamada da jornalista que me tinha entrevistado para me informar que iria para o ar dali a duas semanas e que os seus superiores tinham adorado o filme que fizemos para o Youtube e pretendiam estudar a ideia para série de programas sobre o tema. Queriam que eu fosse a Londres na quarta para discutir ideias e fazer ensaios. Não cabia em mim de contentamento, o novo pasteleiro que tinha contratado estava a revelar-se uma ajuda preciosa e poderia deixar a pastelaria nas suas mãos sem problema.

No Domingo não fui  a casa do meu pai, tinha organizado em casa um jantar para apresentar Andrew a Marco. Para sobremesa decidi fazer uma coisa diferente, não quis simplesmente pegar um dos bolos da pastelaria, e por isso fiz um "petit gateaux"  com uma bola de gelado de caramelo salgado.

Andrew chegou bem antes da hora combinada e não foi para me ajudar, ele não parava de tagarelar excitado com a perspectiva de conhecer o seu ídolo. Marco devia chegar a casa por volta das sete da tarde, mas essa hora chegou e passou sem que ele desse nenhum sinal. Tentei ligar para o seu telemóvel e de cada vez caia na caixa de voice mail. Não queria ligar para Nessa ou para a casa de Jane por medo de parecer muito desesperada. Mas uma enorme angustia apertava no meu peito, não sabia explicar mas sentia que havia algo de errado. Fui falando com o meu irmãozinho que estava cada vez impaciente, para distrai-lo pedi uma aula de computador e desta vez quis saber como funcionavam os e-mail's, queria aproveitar para ver se não estava lá nada porque da ultima vez que estive sem noticias, ele tinha utilizado o email para me enviar uma mensagem. Depois de alguns minutos verifiquei que não havia nada na minha caixa e mais uma vez a ligeira esperança que eu tinha caiu por terra.

Por volta das nove Andrew foi embora desiludido e a titulo de despedida disse-me triste.

-Tinhas razão Sara, foi melhor mesmo ninguém saber. Não podemos confiar em ninguém neste mundo. Já bastou o que aconteceu com a mãe, não precisamos acrescentar um palerma que se julga muito importante e não aparece para um jantar. Se precisares de mim para te defenderes dele avisa porque neste momento a única coisa que eu quero é bater nesse fulano por te ter magoado.

-Não penses mal dele, ele deve ter tido uma razão séria para não vir. -Defendi-o

-Espero bem que sim, maldito! -Praguejou

Dizendo isso deu-me um abraço e foi embora. Embora tivesse defendido Marco neste momento sentia uma dor enorme no peito. Seja o que for que tivesse acontecido, ele devia me ter avisado.

Sem saber o que fazer, mas sem vontade de ir para a cama, acendi a televisão, coisa que me obrigava agora a fazer e comecei a fazer zapping distraidamente. A minha atenção ficou retida numa imagem de Marco que depressa desapareceu para dar lugar a outra onde se via o carro da Nessa completamente desfeito, a associação dos fatos foi automática. O meu coração começou a doer tal era a intensidade com que batia, perdi a capacidade de ver e ouvir, e tudo começou a girar a minha volta e acabei por cair no buraco da inconsciência.


Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora