Part 13

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As dez horas da manhã do dia seguinte estava sentada à uma mesa, num canto escondido do Pub indicado pela minha mãe. O lugar não era, pelo menos para mim, nada atrativo, sombrio e com um intenso cheiro a álcool, não era um lugar onde me imaginaria encontrar novamente a minha mãe após tanto tempo. Marco tinha insistido em ir comigo mas não deixei, tinha de enfrentar este problema sozinha, não deixava de ser uma questão de familia. Ele conseguiu mesmo assim trazer-me até ao local na "mimi" e fiquei de lhe ligar para que me apanhasse quando a conversa acabasse.

Quando a minha progenitora chegou constatei que continuava igual mas completamente diferente ao mesmo tempo. Era a minha mãe com as feições que sempre lhe conheci mas parecia outra mulher, vestia-se de uma forma muito mais sofisticada, os gestos eram mais cuidados e seguros, e deixava transparecer uma aura de requinte e opulência que nunca antes tinha existido.

O que achei mais impressionante, não foi a sua transformação física, mas a alegria e a desenvoltura com a qual ela me abordou. Ela chegou mesmo a abraçar-me. Nunca duvidei que a minha mãe gostasse de nós, mas a verdade é que nestes anos todos nunca o tinha demonstrado e expressão de afeto não eram coisa dela.

- Obrigado por teres vindo filha.- Disse tentando pegar nas minhas mãos mas eu consegui afastá-las a tempo, nisso ela também se retraiu e recostou-se na cadeira, e a sua alegria apagou-se um pouquinho do seu rosto.

O empregado veio logo nos atender o que me deu tempo para analisá-la melhor.Ela estava visivelmente mais jovens e feliz, e notoriamente constrangida. Decidi não lhe facilitar a tarefa, ela devia começar a falar, pedindo desculpa preferencialmente. O funcionário mal tinha virado costas com o nosso pedido, ela lançou-se.

-Deves te estar a perguntar porque é que só vos procurei agora?

-Francamente não tinha pensado nisso. Sempre assumi que não te voltaria a ver depois do que fizestes.

-Porque é que pensaste tal coisa? Eu não vos deixei a vós, eu deixei o teu pai!- Afirmou convicta.

-Pois, até pode ser verdade, mas as tuas ações contam uma historia diferente. Saístes de casa sem levar ninguém e mantiveste-te afastada por mais de um ano, isso para mim, é deixares a tua família e não deixares o teu marido.

-Compreende , por favor, filha...Eu só não vos trouxe comigo porque na época não sabia o que iria fazer, onde iria ficar, tudo era uma grande incógnita para mim. Não tínhamos nada de verdadeiramente preparado.

-Queres mesmo que eu acredite nisso mãe? Porque o timing com que fizeram as coisas, pareceu-me bem escolhido, e não acredito que não sabias onde irias ficar, eu conheço-te Mãezinha! Não terá sido antes pelo facto de que seria constrangedor ter de viver comigo e com o teu mais novo amante na época?

-Claro que não! Nunca houve questões relativamente a isso, sabia que tu e Michael não eram amantes, mas devo confessar que aqueles beijos ocasionais que vivias lhe pedindo eram desagradáveis de se verem, mas infelizmente necessários... para manter as aparências, claro.- Estava tão chocada que não consegui dizer nada. Que frieza ela tinha tido.- O facto de me ter apaixonado pelo teu namorado foi chato, reconheço, mas quando viveres o teu primeiro amor, um amor de verdade - reforçou -Vais ver que perdemos o controlo dos nossos quereres, passamos a viver em função da outra pessoa.

Respirei bem fundo algumas vezes de forma a acalmar-me e poder articular algumas palavras que não fossem ofensivas, porque apesar de tudo estava a falar com a minha mãe.

-Achas mesmo que o amor justifica tudo? Não só traíste o teu marido como também traíste a tua filha. Não pensastes nas consequências do que estavas a fazer? Da dor que deixaste para trás, e isso só para puderes viver esse teu amor?

-Pensei sim, e doeu-me mais do que a vocês, garanto-te, mas não podia continuar a viver naquele canto perdido da Inglaterra com um homem que eu tinha deixado de amar há muito tempo. Depois de anos a pensar só em vocês, decidi pensar um pouco em mim e procurar a minha própria felicidade. Podes pensar que o fiz da pior forma possivel  e até podes estar certa, mas foi a única solução que encontrei para que fosse menos doloroso para todos e pensei sinceramente que era a melhor maneira de agir.

-Achastes mesmo que partir no dia de Natal, sem falares com ninguém era o melhor para nós? Duvido mãe! Acho que foi o melhor para ti, porque não tiveste que enfrentar as consequências desastrosas dos teus atos.- Via pela cara dela que nada do que pudesse dizer poderia lhe interessar. Todas as suas ações eram para ela justificadas, ela nunca reconheceria que tinha agido mal .- Mas agora de qualquer forma não interessa, choramos muito por ti, por nós, infelizmente ainda hoje somos gozados por causa daquilo que se passou, mas aprendemos a viver com isso.

-Ainda bem!- Suspirou aliviada. - Quer dizer que está tudo esquecido? Podemos conviver novamente como uma família?

-Não sei quanto a isso, teria que falar com o pai e o mano. - Não lhe podia dizer mais nada no momento sem antes falar com o meu pai e com o meu irmão, mas para ela foi como se lhe tivesse dito que sim.

-É que eu precisava de dois favores teus, minha Sarinha. - O seu pedido não me surpreendeu porque era típico de minha mãe, mas magoou-me, porque eu achei na minha ingenuidade que talvez ela quisesse apenas reatar os laços familiares porque estava com saudades nossas, mas não era bem isso. Vendo que eu não dizia nada ela continuou.- Precisava que convencesses o teu pai a me dar o divorcio e queria que conhecesses o teu futuro padrasto.

Com o primeiro pedido não estava chocada, e até concordava que era a melhor coisa a fazer. Com o segundo pedido é que fiquei baralhada.

- Conhecer o meu futuro padrasto? Não é O Michael?

- Não, sua tontinha, o Michael foi só uma paixonite, acabou três meses depois de eu me ter vindo embora. Agora estou com um produtor discográfico e ele queria te conhecer.

-Mas eu pensei que tinhas dito que amavas Michael? E esse produtor quer me conhecer porquê?

-Enganei-me com o Michael, ele era muito infantil, e o meu namorado quer conhecer o teu porque pertencem os dois ao mundo da musica. E seria para ele um grande impulso para a sua carreira trabalhar com Tarregui.

-Não estou a perceber...do que está a falar?

- Do teu namorado ...do Tarregui...

A minha mãe só podia ser louca, de onde é que ela tinha tirado essa ideia?Nesse momento tirei o meu telefone do bolso e liguei para o Marco que atendeu ao segundo toque.

-Amor podes me vir buscar, por favor.

-Podes sair, nunca cheguei a ir embora.- A sua preocupação comigo, foi uma bênção para o meu ego fragilizado.

-Estarei aí num instante.- Disse desligando e virando-me para a minha mãe disse-lhe.- Em relação ao teu divorcio, sou a favor dele a 200 por cento e vou ajudar-te no que puder, por outro lado não te poderei apresentar o Tarregui porque também não o conheço, embora adorasse conhecê-lo. - e pondo-me de pé, encerrei o encontro. -Bom mãe, foi um prazer ver-te novamente mas tenho de ir agora, o meu namorado esta a espera.

-Sim, o Tarregui está a espera!- Ela insistiu

-Que tarregui, o meu namorado chamasse Marco!- Disse já exasperada com essa historia.

- Sim, Marco Villeneuve, o cantor Tarregui! Olha!- Nesse momento ela tirou uma revista de fofocas onde apontou uma foto onde eu estava com o Marco. Esta tinha sido tirada a frente do teatro onde tínhamos ido ver Nessa ensaiar.- Vês, como eu tenho razão. Lê o artigo!

Estarrecida passei os olhos pela noticia que dizia que o cantor Tarregui tinha ido a Londres visitar a sua nova namorada, que era para a sociedade londrina uma perfeita desconhecida.

Profundamente ferida e não querendo dar a minha progenitora a oportunidade de me humilhar por uma segunda vez e disse-lhe virando costas.

- Quanto ao segundo favor mãe podes estar segura de uma coisa não te vou apresentar a mais nenhum dos meus namorados...

Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora