Part 17

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Apresentei rapidamente a Nessa a meu pai, que a tinha reconhecido imediatamente, ao contrário de mim e dirigimo-nos  para o elevador. Não pude deixar de sorrir, ao constatar que o meu velhote lançava constantemente olhares furtivos com um ar totalmente embevecido a minha amiga. Acho que ele  iria demorar muito tempo para se recompor do facto de ter conhecido uma das atrizes mais conhecidas no mercado mundial. 

- Ouve alguma alteração?

- Está tudo na mesma. O que não deixa de ser um bom sinal.

-Mas qual é o prognostico dos médicos? Qual é o tamanho dos seus ferimentos?

- Não te assustes, mas ele está num mau estado e vai demorar muito tempo a recuperar-se. - E sem me dar tempo para processar a informação que ela tinha acabado de me dar ela começou a a enumerar cada um dos ferimentos que o meu amor tinha sofrido. A cada um que ela citava, a pressão no meu peito aumentava.- Ele tem as duas pernas, costelas e  braço fraturadas em vários pontos, cortes e hematomas pelo corpo todo, o único órgão interno que foi atingido foi o baço e este já foi retirado. Agora o que preocupa os médicos é o traumatismo craniano, enquanto ele não acordar eles não poderão saber a extensão do estrago que foi feito.- E em tom de confidencia acrescentou.- Mas nem tudo são má noticias, tenho uma surpresa para ti, consegui que te deixassem vê-lo. Só vai puder ser por alguns minutos, mas foi só o que eu consegui, desculpa não puder fazer mais.

-Nessa não precisas te desculpar, eu sei que não sou da família e que não tenho direito a visitas, e já me estás ajudar imenso. Eu é que não sei como agradecer tudo o que estas a fazer por mim.- Grossas lágrimas emocionadas corriam pela minha cara. E não fosse pelo facto de meu pai se encontrar ali, tê-la-ia beijado em sinal de agradecimento.

- Sara, não precisas agradecer, amo vocês os dois como se fossem da minha família. E no que eu puder fazer, conta comigo. Sei que posso abrir algumas portas com o meu nome por isso dou-te autorização para abusar de mim.-  Disse  brincalhona, e soltando um risinho que só eu entendi.

Nesse instante as portas do elevador se abriram e deparamos com um longo corredor de paredes brancas  que levava aos cuidados intensivos. A porta do quarto que Nessa me identificou como sendo o dele, estava um casal que só podiam ser os seus pais. Ele alto e loiro de olhos azuis, ela uma linda mulata, ambos apesar da idade e da dor que se estampava na cara não escondiam a beleza que possuíam.  Ambos acompanharam a minha chegada, não desviando o olhar um segundo sequer. Senti-me constrangida e sem saber como agir perante eles, sabia que tinha sido avaliada e rotulada. Nessa fez as apresentações rapidamente, mas notei uma certa frieza da parte da mãe, que se limitou a estender-me a mão a titulo de cumprimento. O pai esse abraçou-me e deu-me quatro beijos, velho costume francês, e  perguntou-me.

-Então esta é a menina que encantou o meu Marco?

- Marco falou de mim?

- Para dizer a verdade, não. A Nessa é que nos mantém informados de tudo o que o meu filho faz. - Disse dando um sorriso para a minha amiga. Esta afirmação foi para mim muito estranha, porque Marco sempre foi tão aberto sobre nós com os seus amigos  e não ter contado nada aos pais criou uma insegurança em relação ao meu casal que antes não existia.- Mas não se preocupe, é por isso que sei que vocês é realmente importante para o meu filho.  Marco nunca nos conta nada do que de importante se passa na sua vida. Somos sempre os últimos a saber das novidades e possíveis projetos  por causa de uma velha superstição! Se conta, elas não se concretizam, pelo menos é essa a explicação que sempre nos deu.

Soltei um suspiro de alivio, então ele não tinha falado de mim porque eu era importante. A mãe de Marco decide interromper o marido falando em francês, o que eu achei rude, mas decidi não tomar em consideração. Tentei não ouvir e virei-me para o meu pai e sorri, este abraçou-me dando-me força.

- Porque estas a dar tanta confiança a essa moça? Olha bem para ela! Roupas sem qualidade, e o pai! parecem pobretanas, devem estar atrás do dinheiro do nosso menino.

- Porque és tão rápida a julgar a moça? A Nessa  gosta dela e eu confio no seu discernimento.

- Outra que não tem nada na cabeça. Se ele não tivesse ido atrás dessa menina, o meu filho não estaria numa cama de hospital. Nunca irei perdoar essa flausina por ter obrigado o meu menino a ir ter com ela depois de uma viagem de quase vinte e quatro horas.- Declarou olhando para mim furiosamente.- A culpa é dela. 

Nesse momento não me segurei e tive de me defender, falando  também em francês deixando toda a gente de boca aberta.

- Eu nunca obriguei ninguém a vir ter comigo, e se eu soubesse que ele vinha de uma viagem tão grande teria-o mesmo proibido, e posso lhe assegurar minha senhora que ninguém se sente mais culpada do que eu, não preciso da sua ajuda para me relembrar. Quanto ao dinheiro, não sou rica é verdade, mas não estou com o seu filho por causa dele, alias só soube quem ele era na semana passada. E se tiver mais alguma coisa a dizer a meu respeito pode fazê-lo diretamente, porque sou menina para ouvir e me defender.

A senhora ficou a olhar para mim estupefacta, mas não se dignou responder. A partir desse momento era evidente que eu tinha criado uma inimiga. Olhei para o pai de Marco e esse exibia um sorriso de aprovação, e chegou mesmo a piscar o olho e murmurou  baixinho.

-Agora sei porque o meu rapaz gosta de ti!

Nessa  observou-me, sorriu orgulhosa e só me disse.

-Não sabia que falavas francês assim tão bem.

- Minha mãe é francesa e ensinou-me.

- Marco nunca me disse nada.

-Porque não sabe. E não me perguntes porque é que nunca lhe contei, porque não sei.

-Queres ir vê-lo agora?- Disse e mudando de assunto e procurando um pretexto para me tirar dali.

-Sim. - Respondi emocionada. Sentia que as lágrimas estavam prestes a cair novamente, este dia estava a ser terrível em emoções, esperava ter forças suficientes para continuar a tudo enfrentar.

Nessa saiu e voltou dois minutos depois com um enfermeiro que abriu a porta do quarto e verificou todos os aparelhos a que o Marco estava ligado antes de fazer um gesto para nos deixar entrar. 

Sofri um choque quando o vi, estendido e sem vida. O rosto e toda pele visível estava cheia de hematomas. Mais de metade do seu corpo estava enfaixado. Aproximei-me da cama e beijei-o nos lábios. Senti um desejo intenso de beijar também cada centímetro de pele que estava visível e o que me parou foi o medo de o machucar. Mais uma vez a dor intensa apertava o meu peito. Sabia que teria de ser corajosa por nós dois.

Durante dez minutos estive no quarto chorando, declarando em voz baixa, vezes sem conta, o meu amor por ele e pedi-lhe para voltar para mim.Precisava dele como do ar que respirava e sabia que a minha alma era sua. Antes de sair ajoelhei-me ao lado da sua cama e rezei a Deus pelo seu restabelecimento.









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