Part 10

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A conversa nessa noite foi comprida e emocionada. Abri o meu coração como nunca antes o tinha feito sobre o assunto doloroso que era a minha mãe. Marco incrédulo ouvia o meu desabafo.

-A tua mãe fez mesmo isso?

-Infelizmente sim. - Sabia que era difícil de acreditar, mesmo eu após este tempo todo custava-me ter que admitir que a minha mãe fosse esse tipo de pessoa, afinal ela tinha-me educado para ser uma pessoa correta e agir dentro da moral e bons costumes.

-Minha tarte de Morango esse teu ex é um besta, trocar-te por outra mulher, mesmo essa sendo a tua mãe, é uma estupidez de todo tamanho. Agora essa tua mãe !! Aceitaria, se ela quisesse somente deixar o teu pai, porque poucos são os relacionamentos que são "felizes para sempre", exceto o nosso claro!- Afirmou, numa tentativa de aliviar uma conversa demasiado séria para um relacionamento tão curto como o nosso.- Mas trocar o teu pai por um adolescente só vejo uma explicação coerente, e vais pensar que estou a ser muito duro, mas para mim foi pelo sexo.

-Achas? A mãe nunca me pareceu muito dada a essas coisas, sempre foi muito recatada e pouco interessada em tudo o que envolvia sexo.

-A filha também não parecia interessada- Disse malandro mas certeiro.

Sabia que ele tinha razão. O sexo é realmente um grande motivador de vontades como tinha descoberto recentemente. O frenesim que agora tomava conta de mim sempre que pensava em fazer amor com o meu amor era uma prova alarmante do poder que este simples acto tinha na vida das pessoas.

-E quanto a encontrar-me com ela, o que achas que devo fazer?

-Não sei, isso só tu podes decidir. Eu só te posso dizer o que "eu" faria.

- E o que tu farias?

-Encontrava-me com ela e tentava entender toda a historia. Ela não tem perdão, mas dava-lhe uma hipótese de se explicar. Seria para mim uma forma de conclusão e deixar tudo para trás.

-É...Tens razão. Não quero encontrar-me com ela, mas é a minha mãe... Em relação a ele não quero saber, mas ela...- Nesse instante tomei minha decisão, iria pegar no número de telefone que ela tinha deixado com o meu pai e iria ligar-lhe .- Vou aceitar encontrar-me com ela, mas não aqui. Vai ser em Londres, num terreno completamente neutro, onde ninguém nos veja e estejamos mais a vontade. Só espero que ela não tenha a má ideia de trazer Michael com ela.

-Brilhante e se aproveitasses para marcar quando eu já cá estivesse, podias ficar comigo na casa da Nessa.

-Tens certeza? Ela vai estar? É que na casa da Nessa podem acontecer muitas coisas.

Ele percebeu perfeitamente o que lhe quis dizer.

-Acontecerá o que tiver de acontecer. Doeu-me ver-te com outra pessoa. Muito. Mas tenho de reconhecer que foi o momento mais erótico da minha vida. Por isso precisas de me prometer o seguinte: Se eu te pedir para parar, para! Prometes?

-Prometo.- Afirmei sem hesitar.- Posso pedir-te o mesmo. Se não me sentir a vontade com qualquer coisa que queiras fazer podemos parar?

-Sem duvida. Tu mandas, nunca te pediria para fazer algo que não quisesses ou fosses contra. O sexo tem de ser fonte de prazer e nunca motivo para recriminação ou intimidação. O sexo só deve trazer felicidade mais nada.

A conversa continuou por mais algum tempo antes de a contragosto ter de desligar. Adormeci com o coração mais leve, não sabia se era por ter contado finalmente a minha história ou pelo fato de ter encontrado o apoio que tanto necessitava e com isso a certeza que estava com a pessoa certa na minha vida. Esperava que os riscos que estava a correr fossem compensador, porque estava a confiar não só o meu coração mas também a minha vida a outra pessoa.

A segunda passou a correr com os preparativos da entrevista e a terça desapareceu  de uma forma alucinante. Logo de manhã cedo a minha loja foi invadida por uma dezena de pessoas que entre fios e instrumentos estranhos, apanharam imagens e sons o dia todo. Tive, tal como no ensaio ao qual tinha assistido, de repetir centenas de vezes as mesma frases, os mesmos gestos. Fizemos para além da gravação de uma entrevista, um vídeo passo a passo de decoração de um bolo de aniversário muito simples que seria postado no Youtube depois da saída da entrevista, segundo a jornalista era uma prática comum, e por isso ela sugeriu que eu criasse um canal só meu, porque na sua opinião eu tinha um jeito muito natural perante as câmaras e poderia ter muito sucesso como blogueira ou Youtuber. Fingi perceber tudo o que ela me dizia por medo de parecer estúpida, mas eu não sabia nada acerca de blogs ou até mesmo o que era o Youtube. Decidi que mais tarde depois de eles irem embora teria que me lançar a aventura e explorar a Internet a procura do daquilo do qual ela tinha falado.

A verdade é que tudo me tinha parecido muito natural nesse dia apesar da confusão, a presença da câmara não me intimidou e como tinha tudo preparado as coisas pareceram correr muito bem. A entrevista foi ligeira e apenas focou na minha carreira profissional sem entrar em assuntos particulares. O que eu agradeci intimamente. A única coisa que me incomodou um pouco, foi a quantidade de maquilhagem que me puseram que junto do calor provocado pelas iluminação, fizeram com que eu tivesse a sensação incómoda de ter uma máscara pesada que tinha a tendência de derreter.

Nesse dia para a além da invasão das câmaras, também tive direito a invasão de todos os habitantes da minha pequena aldeia, que curiosos, procuravam saber o que estava a acontecer. Mesmo depois da partida da equipa, e durante os dias que se seguiram as questões foram mais do que muitas, e a nova popularidade que a pastelaria adquiriu na minha aldeia pareceu atingir as aldeias vizinhas, o que provocou um grande aumento de fregueses.

Na quarta agarrei-me de coragem e fiz o difícil telefonema a minha progenitora. Ela atendeu ao segundo toque e mostrou uma grande alegria ao reconhecer quem era. Pude sentir medo na sua voz, quando não lhe retribui o mesmo entusiasmo e a informei que só seria eu a comparecer ao encontro em representação de toda a família. Agendamos para a terça-feira seguinte num Pub em Londres que eu não conhecia, mas não acreditava que teria grandes problemas para o encontrar. Despedi-me friamente mas ainda pude ouvir um pedido de desculpa sussurrado quando desligava. Chorei durante horas, toda a dor que tinha sentido voltou em força, despertada pelo som da sua voz ao telefone. Também senti uma saudade enorme dos tempos felizes em que éramos uma família. Fui jantar a casa do meu pai nesse dia e contei-lhe de que iria passar uns dias na Capital e que aproveitaria para encontrar-me com a mãe enquanto lá estivesse. O meu pai estranhou mais o facto de passar vários dias fora do que o encontro que tinha sido marcado, porque este último, ele já esperava. Disse-lhe que precisava de férias e que iria aproveitar a ocasião para conhecer a Londres. Ele não pareceu muito convencido mas não insistiu. O meu irmão nem quis ouvir falar do assunto e saiu logo depois do jantar.

Normalmente não faria as coisas a correr mas neste caso não tinha muita escolha, precisava contratar um pasteleiro. Era um projeto que tinha há muito e que vinha adiando, mas neste momento era a única forma de poder tirar alguns dias e por isso não hesitei. Liguei para uma antiga professora que me indicou vários dos seus alunos. Entrevistei três e contratei um para começar no dia seguinte ou seja na sexta. Não era o dia ideal para começar em qualquer trabalho, mas não tinha muita escolha na segunda já teria que estar em Londres e queria lá ficar por pelo menos três dias. De acordo com o que me tinha dito Marco este era o tempo que ele tinha antes de partir novamente e queria passar cada segundo com ele.

Ficou decidido que iria sair de casa no Domingo a noite, apanharia o comboio das seis e Nessa passaria para me apanhar e levar para casa.

Cheguei a Londres perto das dez da noite e mal desci do comboio comecei a procurar pelo lindo rosto da minha amiga. A plataforma pouco a pouco se esvaziou até que fiquei praticamente sozinha, sem saber bem o que fazer fui caminhando devagar até a saída da estação. O frio destes últimos dias Janeiro era cortante e baixei a minha cabeça para me proteger logo que atingi a rua, nesse instante senti que alguém me agarrava por detrás e nem tive tempo de me assustar antes que sussurrassem baixinho no meu ouvido "minha tarte de Morango".

Nem falei apenas me virei e o abracei...tinha tantas saudades. Os beijos se sucediam e onde antes só sentia frio agora existia um calor intenso. Fomos interrompido pela voz alegre de Nessa.

- Vocês são uns grandes egoístas...eu também quero.- Disse chorosa

Afastei-me do meu amor e trouxe Nessa para o nosso meio e tivemos o nosso primeiro abraço de grupo.



Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora