Part 20

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Los Angeles no verão era um sonho. Para uma pequena inglesa como eu, que tinha vivido toda a vida num clima chuvoso, estar agora num sitio onde o sol brilhava o ano todo era uma bênção. Amava a cidade, as pessoas e o ritmo alucinante de vida que se tinha aqui. A minha adaptação não foi fácil porque me senti completamente desenraizada, mas tanto os meus colegas da emissora como o povo americano me tinham acolhido de braços abertos. O meu programa tinha uma grande audiência e começava a fazer aparições noutros. Tinha mesmo recebido um convite para fazer uma receita de doce de colher  no "Good Morning L.A." para o dia seguinte, o meu agente pulou de alegria quando o programa da manhã com maior audiência na Califórnia me tinha procurado.

Era Domingo, dia de descanso  e tinha decidido dar um passeio no Pier de Santa Mónica. Para o poder fazer sem ninguém me interpelar a procura de um autógrafo, coloquei um grande chapéu de abas que recobria mais de metade da minha cara e uns óculos de sol enormes.Não deixava de ser irónico,  eu estar meia disfarçada para poder passear no maior anonimato. Hoje compreendia Marco e sabia o quanto podia ser frustrante não pertencer-mos a nós próprios, mas sim ao mundo sempre que saiamos de casa.

 O meu pai e o meu irmão tinham partido ontem depois de passarem alguns dias comigo e sentia-me sozinha e um pouco abandonada dentro de casa e tive de sair e respirar um pouco de ar.

Nessa continuava a fazer parte da minha vida, embora pudesse sentir algumas vezes a sua magoa quando estávamos juntas, tínhamos conseguido voltar a relação de carinho e respeito que existia   antes de eu ter dado um fim ao nosso breve romance. E sem vergonha confesso que ainda me apoio muito nela sempre que algo ruim acontece. Ultimamente ela tinha começado a sair com uma argumentista  e notava-se que andava mais feliz.

A brisa marítima, neste momento, acariciava o meu rosto e era muito bem vinda para varrer todas as minhas angustias. Caminhei devagar até o balaústre e nele me encostei para apreciar a imensidão do oceano azul que se abria a minha frente. Precisava tomar uma grande decisão....

Fazia dias... meses até, que me debatia e procurava conselho na Nessa e no meu pai. Foi o assunto recorrente durante a estadia do meu progenitor e todos foram unânimes.

E assim do nada, ponderando sobre tudo o que tínhamos discutido nos últimos dias, finalmente percebi que não tinha nenhuma decisão a tomar, porque só havia um caminho a seguir. Precisava contar. E devia fazê-lo imediatamente antes de perder a coragem e fosse  tarde demais.

Procurei o meu telefone na bolsa, e tremendo de medo  disquei o seu numero. Será que ele iria atender? A cada toque de chamada o meu ritmo cardíaco acelerava, e o meu receio que ele não atendesse aumentava. As minhas mãos suavam e segundos transformaram-se em horas e de novo em segundos com o som do click de que estão a atender. Uma bola de nervos se formou na minha garganta nesse momento e perdi temporariamente a minha capacidade de falar.

- Estou! - Não consegui  falar, queria responder mas não consegui. A voz dele continuava igual, profunda e harmoniosa. 

-Estou. - repetiu.

- Sara, este é o teu numero , por isso sei que és tu. - Notava-se claramente a sua exasperação. Neste momento a minha voz ou a minha coragem voltaram até mim e consegui responder.

- Olá Marco, sim sou eu.

- Isso eu  já sabia ! Agora gostava de saber porque me ligas depois de sete meses sem dares noticias. -Perguntou rude.

- Também não ligaste!

- Achas que o devia ter feito?

- Sim.

-  Sim? E para quê posso saber? 

- Para falarmos, para  tentares entender as minha razões e o que me levou a agir como o fiz. O que me magoa é que nem fizestes o esforço para compreender o que se tinha passado! - Dei um suspiro resignado e continuei. - De qualquer forma isso agora não interessa, já segui em frente. - Rematei,  limpando as lágrimas que tinham começado a cair pela minha cara.- Não te estou a ligar por causa disso. 

- Que bom! Assim estamos no mesmo patamar, eu também já segui em frente. O que nos leva a razão da tua chamada, que queres? - A crueldade na sua voz era notável e embora a minha vontade nesse momento era de desligar a chamada, obriguei-me a continuar.

- Soube que vinhas a L.A. e queria marcar  um encontro contigo... precisamos falar.- Disse hesitante.

- Falar sobre o quê? Acho que já dissemos tudo o que tínhamos a dizer.

- Ainda falta uma coisa a ser discutida, mas se me deres cinco minutos do teu tempo fica resolvido e nunca mais precisas falar comigo.

- Não o podemos fazer ao telefone? Preferia não ter que estar contigo.- Essa ultima afirmação teve o mesmo efeito de uma punhalada no coração.

- Tem mesmo de ser pessoalmente.

Esperei uns instantes que me pareceram intermináveis pela sua resposta e quando já pensava que ele se iria recusar a encontrar-se comigo, ouvi-o dizer.

- O.k. Chego hoje a L.A. e vou ficar por uma semana . Quarta-feira de tarde por volta das três?

- Pode ser. Onde?

-No meu Hotel, mando-te uma mensagem depois com as coordenadas.

- Obrigado.

-Não me agradeças. Só faço isso para te tirar de uma vez por todas da minha vida.

-De qualquer forma obrigado, porque sei o quanto estás magoado comigo e poderias perfeitamente te recusar a me ver.

- Estás enganada! Magoado contigo eu não estou. O que eu sinto é muita fúria por ter sido traído.

- Eu sei que nunca vais acreditar em mim, mas nunca fostes traído. No meu coração só existias tu, mas isso nunca irás compreender. 

-Tens razão, a tua lógica para mim é um mistério! Apaixonada por uma pessoa e dormir com outra, isso para mim é traição, mais nada.

- Engraçado como tens dois pesos e duas medidas. Também dormiste com outra pessoa enquanto te dizias apaixonado por mim, e mais do que uma vez,  mas nesse momento não havia lugar a traição. 

- De que falas?

- Do nosso encontro a três.

- isso era diferente.

-Em quê? Segundo o que dizes, traição é estar apaixonado por uma pessoa e dormir com outra.

- Não deturpes as coisas Sara estávamos os três, e consentimos todos. Mas, por outro lado, não consenti quando te entregaste a Nessa sem eu estar presente e conhecias perfeitamente as regras.

- Conhecia, e enquanto eu estive a tua espera durante um ano, sempre respeitei essa regra, até que me disseram que tu provavelmente nunca mais irias acordar e aí voltei-me para a única pessoa em quem "tu" confiavas e a quem "tu" tinhas consentido ficar comigo. A única pessoa que podia compreender o meu amor por ti e que me deixaria ir se tu um dia acordasses. Não tenho orgulho do que eu estou a dizer, mas a verdade é que a Nessa foi  só  uma substituta temporária,  e o pior é que ela concordou em sê-lo.

- Então fizestes os dois de parvos? Grande Sara !!

- Agora quem é que esta a distorcer as coisas? Fiquei com a Nessa porque ela era tua amiga e uma ligação a ti enquanto não voltavas para mim. Reconheço que fui fraca e com isso perdi o meu am... Não interessa.- Disse secando mais uma vez as lágrimas que teimavam em cair.- Tens razão, vamos acabar com isso de vez. O encontro de quarta-feira servira para terminar de vez esta historia. Fico a aguardar que me mandes a morada.

Sem mais desliguei e chorei naquele piers como se alguém de novo me arrancava a alma.











Eternamente  (completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora