Los Angeles no verão era um sonho. Para uma pequena inglesa como eu, que tinha vivido toda a vida num clima chuvoso, estar agora num sitio onde o sol brilhava o ano todo era uma bênção. Amava a cidade, as pessoas e o ritmo alucinante de vida que se tinha aqui. A minha adaptação não foi fácil porque me senti completamente desenraizada, mas tanto os meus colegas da emissora como o povo americano me tinham acolhido de braços abertos. O meu programa tinha uma grande audiência e começava a fazer aparições noutros. Tinha mesmo recebido um convite para fazer uma receita de doce de colher no "Good Morning L.A." para o dia seguinte, o meu agente pulou de alegria quando o programa da manhã com maior audiência na Califórnia me tinha procurado.
Era Domingo, dia de descanso e tinha decidido dar um passeio no Pier de Santa Mónica. Para o poder fazer sem ninguém me interpelar a procura de um autógrafo, coloquei um grande chapéu de abas que recobria mais de metade da minha cara e uns óculos de sol enormes.Não deixava de ser irónico, eu estar meia disfarçada para poder passear no maior anonimato. Hoje compreendia Marco e sabia o quanto podia ser frustrante não pertencer-mos a nós próprios, mas sim ao mundo sempre que saiamos de casa.
O meu pai e o meu irmão tinham partido ontem depois de passarem alguns dias comigo e sentia-me sozinha e um pouco abandonada dentro de casa e tive de sair e respirar um pouco de ar.
Nessa continuava a fazer parte da minha vida, embora pudesse sentir algumas vezes a sua magoa quando estávamos juntas, tínhamos conseguido voltar a relação de carinho e respeito que existia antes de eu ter dado um fim ao nosso breve romance. E sem vergonha confesso que ainda me apoio muito nela sempre que algo ruim acontece. Ultimamente ela tinha começado a sair com uma argumentista e notava-se que andava mais feliz.
A brisa marítima, neste momento, acariciava o meu rosto e era muito bem vinda para varrer todas as minhas angustias. Caminhei devagar até o balaústre e nele me encostei para apreciar a imensidão do oceano azul que se abria a minha frente. Precisava tomar uma grande decisão....
Fazia dias... meses até, que me debatia e procurava conselho na Nessa e no meu pai. Foi o assunto recorrente durante a estadia do meu progenitor e todos foram unânimes.
E assim do nada, ponderando sobre tudo o que tínhamos discutido nos últimos dias, finalmente percebi que não tinha nenhuma decisão a tomar, porque só havia um caminho a seguir. Precisava contar. E devia fazê-lo imediatamente antes de perder a coragem e fosse tarde demais.
Procurei o meu telefone na bolsa, e tremendo de medo disquei o seu numero. Será que ele iria atender? A cada toque de chamada o meu ritmo cardíaco acelerava, e o meu receio que ele não atendesse aumentava. As minhas mãos suavam e segundos transformaram-se em horas e de novo em segundos com o som do click de que estão a atender. Uma bola de nervos se formou na minha garganta nesse momento e perdi temporariamente a minha capacidade de falar.
- Estou! - Não consegui falar, queria responder mas não consegui. A voz dele continuava igual, profunda e harmoniosa.
-Estou. - repetiu.
- Sara, este é o teu numero , por isso sei que és tu. - Notava-se claramente a sua exasperação. Neste momento a minha voz ou a minha coragem voltaram até mim e consegui responder.
- Olá Marco, sim sou eu.
- Isso eu já sabia ! Agora gostava de saber porque me ligas depois de sete meses sem dares noticias. -Perguntou rude.
- Também não ligaste!
- Achas que o devia ter feito?
- Sim.
- Sim? E para quê posso saber?
- Para falarmos, para tentares entender as minha razões e o que me levou a agir como o fiz. O que me magoa é que nem fizestes o esforço para compreender o que se tinha passado! - Dei um suspiro resignado e continuei. - De qualquer forma isso agora não interessa, já segui em frente. - Rematei, limpando as lágrimas que tinham começado a cair pela minha cara.- Não te estou a ligar por causa disso.
- Que bom! Assim estamos no mesmo patamar, eu também já segui em frente. O que nos leva a razão da tua chamada, que queres? - A crueldade na sua voz era notável e embora a minha vontade nesse momento era de desligar a chamada, obriguei-me a continuar.
- Soube que vinhas a L.A. e queria marcar um encontro contigo... precisamos falar.- Disse hesitante.
- Falar sobre o quê? Acho que já dissemos tudo o que tínhamos a dizer.
- Ainda falta uma coisa a ser discutida, mas se me deres cinco minutos do teu tempo fica resolvido e nunca mais precisas falar comigo.
- Não o podemos fazer ao telefone? Preferia não ter que estar contigo.- Essa ultima afirmação teve o mesmo efeito de uma punhalada no coração.
- Tem mesmo de ser pessoalmente.
Esperei uns instantes que me pareceram intermináveis pela sua resposta e quando já pensava que ele se iria recusar a encontrar-se comigo, ouvi-o dizer.
- O.k. Chego hoje a L.A. e vou ficar por uma semana . Quarta-feira de tarde por volta das três?
- Pode ser. Onde?
-No meu Hotel, mando-te uma mensagem depois com as coordenadas.
- Obrigado.
-Não me agradeças. Só faço isso para te tirar de uma vez por todas da minha vida.
-De qualquer forma obrigado, porque sei o quanto estás magoado comigo e poderias perfeitamente te recusar a me ver.
- Estás enganada! Magoado contigo eu não estou. O que eu sinto é muita fúria por ter sido traído.
- Eu sei que nunca vais acreditar em mim, mas nunca fostes traído. No meu coração só existias tu, mas isso nunca irás compreender.
-Tens razão, a tua lógica para mim é um mistério! Apaixonada por uma pessoa e dormir com outra, isso para mim é traição, mais nada.
- Engraçado como tens dois pesos e duas medidas. Também dormiste com outra pessoa enquanto te dizias apaixonado por mim, e mais do que uma vez, mas nesse momento não havia lugar a traição.
- De que falas?
- Do nosso encontro a três.
- isso era diferente.
-Em quê? Segundo o que dizes, traição é estar apaixonado por uma pessoa e dormir com outra.
- Não deturpes as coisas Sara estávamos os três, e consentimos todos. Mas, por outro lado, não consenti quando te entregaste a Nessa sem eu estar presente e conhecias perfeitamente as regras.
- Conhecia, e enquanto eu estive a tua espera durante um ano, sempre respeitei essa regra, até que me disseram que tu provavelmente nunca mais irias acordar e aí voltei-me para a única pessoa em quem "tu" confiavas e a quem "tu" tinhas consentido ficar comigo. A única pessoa que podia compreender o meu amor por ti e que me deixaria ir se tu um dia acordasses. Não tenho orgulho do que eu estou a dizer, mas a verdade é que a Nessa foi só uma substituta temporária, e o pior é que ela concordou em sê-lo.
- Então fizestes os dois de parvos? Grande Sara !!
- Agora quem é que esta a distorcer as coisas? Fiquei com a Nessa porque ela era tua amiga e uma ligação a ti enquanto não voltavas para mim. Reconheço que fui fraca e com isso perdi o meu am... Não interessa.- Disse secando mais uma vez as lágrimas que teimavam em cair.- Tens razão, vamos acabar com isso de vez. O encontro de quarta-feira servira para terminar de vez esta historia. Fico a aguardar que me mandes a morada.
Sem mais desliguei e chorei naquele piers como se alguém de novo me arrancava a alma.
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Eternamente (completo)
RomanceEternamente - musica de amor E se um dia a minha vida se transformasse pelo simples facto de me apaixonar.... Fazia um ano que a minha mãe nos tinha deixado para fugir com o meu namorado. E agora um estranho entrava na minha vida e vinha revoluc...