Eternamente (completo)

Part 24

Não posso afirmar que tenha sido o pior dia da minha vida, porque embora não tivesse ainda vivido muito já me lembrava de alguns, muito poucos é verdade, que lhe podiam fazer frente. O dia em que minha mãe partiu destroçou o meu coração pela primeira vez, depois veio o dia do acidente de Marco e mais uma vez mal sobrevivi. Por outro lado este dia ainda não ia a meio e o meu coração já estava desfeito aos pedaços.

Marco tinha acabado de sair batendo a porta atrás dele quando Nessa intrigada, quis saber o que significava o meu ultimo comentário.

- Estavas a falar sério?

- Eu falo sempre sério. Estou cansada...- disse desabando sobre o sofá, e olhando directamente nos olhos de Nessa disse-lhe.- Enquanto discutias com ele defendendo-nos daquilo a que ele chama de traição que supostamente cometemos, percebi que se ele não é capaz de confiar e perdoar as pessoas que mais o amam, talvez ele não mereça que eu lute por ele. ...E antes que perguntes ... Sabes que eu te amo muito, nunca fui capaz de no dar uma chance por causa de Marco, e também porque não sei se te amo da forma como tu me amas... por isso, não sei se estou pronta para nos dar uma outra chance.

-Que queres dizer com isso?

- Acho que nem eu sei verdadeiramente. Acho que chegou o momento de esclarecermos toda esta confusão, e colocar tudo em pratos limpos. -O desanimo era patente na minha voz.- Eu verdadeiramente preciso de ti na minha vida, durante todo este tempo tens sido o meu amparo, a minha boia de salvação. És linda, amorosa, forte e amo tudo em ti, além de que adoro fazer amor contigo e nada me deixaria mais satisfeita do que viver a minha vida ao teu lado...

-Mas...

-Preciso dele...estes últimos meses foram uma tortura, se não fosses tu e o bébé acho que não me teria aguentado. Para ser o mais franca possível...- Neste momento hesitei porque tinha medo da sua reacção, essa ideia vinha me perseguindo há alguns meses, mas eu nunca tinha ousado confessá-la em voz alta. Não queria que alguém pensasse que eu não era normal, especialmente as pessoas que eu amava. Porque embora tivesse tentado afastar essa grande verdade, ela vinha com cada vez mais força. Os meus sentimentos por Nessa tinham crescido e já não queria negar o que realmente se passava. Sem muita coragem para confessar o que me ia na alma falei muito baixinho - Acho... acho que quero e preciso de vocês os dois para ser feliz.

- O quê? não ouvi.

Vermelha como um tomate de vergonha, obriguei-me a dizer o que queria num tom mais alto.

-Eu disse ...quero os dois.

Contrariamente ao que eu esperava, Nessa não ficou zangada ou chateada...muito pelo contrário. Rui-se como uma perdida durante o que me pareceu uma eternidade. Do meu lado não sabia se ficava aliviada com a reacção ou chateada. Estava perdida, como alias já há muito estava.....

Quando o ataque de riso se acalmou, Nessa limpando umas lágrimas que se tinham soltado do canto dos seus olhos resolveu brincar comigo.

- Com que então a menina que parecia uma santinha é uma pequena gulosa?

E de uma forma completamente inesperada,  ela me abraça e me beija. O primeiro contacto dos seus lábios nos meus, depois de tantos meses, foi instantaneamente excitante, uma corrente elétrica percorreu-me de cima a baixo, e por uns preciosos minutos deixei-me assoberbar pelo prazer que sentia e que faltava na minha vida há muito tempo.

O barulho de um carro travando para depois apitar furiosamente despertou-me e arrancou-me do prazer que experimentava. Não podia deixar que as coisas evoluíssem mais sem antes esclarecer tudo. Tentei parar o beijo mas Nessa insistiu em manter o contacto e fui obrigada a empurra-la gentilmente e a afastar-me. Ela ainda tentou novamente me atrair na sua direcção e tive que lhe dizer.